O presidente Lula e Edinho Silva, prefeito de Araraquara, que assume comando do PT
Redação Exame
Publicado em 7 de julho de 2025 às 19h07.
Última atualização em 7 de julho de 2025 às 20h08.
O ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, foi eleito nesta segunda-feira, 7, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT). A vitória foi anunciada nas redes sociais pelo atual presidente da legenda, o senador Humberto Costa (PE).
A apuração ainda não foi concluída em muitos estados, mas a vantagem de 73,48% dos 342,2 mil votos contabilizados permite cravar a vitória de Edinho, segundo Costa.
Na parcial, o deputado Rui Falcão aparece em segundo lugar, com 11,15% dos votos, seguido por Romênio Pereira, com 11,06%, e Valter Pomar, com 4,3%.
A eleição de Edinho ocorre mesmo sem a votação em Minas Gerais, terceiro maior colégio eleitoral do partido. O diretório mineiro teve o pleito adiado após uma disputa judicial entre as chapas.
Em sua primeira fala como presidente do partido, Edinho agradeceu aos companheiros de sigla e também ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Quero fazer um agradecimento público à confiança do presidente Lula. Me empenharei todos os dias para que eu possa honrá-la”, disse Edinho durante a coletiva que anunciou sua vitória.
A vitória consolida a força de um grupo mais alinhado à estratégia de ampliação de alianças, com maior abertura ao diálogo com partidos de centro e centro-direita, movimento já visível nas disputas estaduais. Dos 16 presidentes estaduais definidos até agora, ao menos 11 seguem esse perfil.
Nos bastidores, a escolha de Edinho enfrentou resistências. A então presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não era entusiasta da candidatura dele. O clima só começou a esfriar após sua acomodação na chefia da articulação política do governo Lula.
Com a ida dela para a Secretaria de Relações Institucionais, os ânimos dentro do partido se acomodaram e a resistência a Edinho arrefeceu.
Outro movimento importante foi a desistência da candidatura do vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, aliado de Lula no Rio de Janeiro. Segundo interlocutores da cúpula partidária, a retirada de seu nome se deu após um acordo que garantiria a permanência da secretária de Finanças do partido, Gleide Andrade, no cargo, gesto interpretado como sinal de continuidade e apaziguamento interno.
Edinho começou sua trajetória política no movimento estudantil e se consolidou como liderança no interior paulista. Foi deputado estadual por dois mandatos e, em 2005, assumiu a presidência do PT de São Paulo. Ganhou projeção nacional como tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff em 2014 e, no ano seguinte, foi nomeado ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, cargo que ocupou até o afastamento da petista, em 2016.
Prefeito eleito e reeleito de Araraquara (SP), adotou medidas rígidas de combate à covid-19 e protagonizou embates com lideranças nacionais, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Com perfil conciliador, Edinho é considerado um nome capaz de articular alianças para 2026 e liderar uma nova fase do PT, mais voltada para a composição política e ao diálogo com o centro.
Sua candidatura foi construída desde o ano passado, com participação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O novo presidente assume em meio a um cenário de desgaste com partidos do Centrão, como PP e União Brasil. Apesar de ocuparem ministérios, vêm sinalizando aproximação com candidaturas bolsonaristas em 2026.
A recente derrubada, pelo Congresso, do decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) levou a uma inflexão na estratégia do governo e do PT, que passaram a intensificar a defesa da taxação dos super-ricos nas redes sociais, tentando acirrar o contraste com o Parlamento. Paralelamente, influenciadores de esquerda iniciaram ataques ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), elevando o tom da polarização.
Apesar das tensões, Edinho defende que o governo mantenha o diálogo com setores que não votaram em Lula em 2022. Para ele, reagir à postura do Congresso não impede a construção de pontes.
"Não penso que a reação do governo diante da imposição de uma derrota por parte do Congresso seja contraditória ao diálogo. No momento em que um projeto é colocado em votação sem que se abra diálogo, evidentemente o governo não tem outro caminho a não ser reagir", afirmou.
Durante os sete anos de Gleisi Hoffmann à frente do PT (2017–2025), o partido adotou uma postura mais combativa. A atual ministra das Relações Institucionais liderou a legenda durante a prisão de Lula e o governo Bolsonaro.
Aliados veem uma mudança de estilo com Edinho, que, como prefeito, manteve boa relação até mesmo com o então governador de São Paulo, João Doria (PSDB), na época um dos principais opositores do PT.
A primeira tarefa do novo presidente será a articulação dos palanques estaduais para a reeleição de Lula.
A aposta é que os acordos regionais compensem o afastamento de setores do Centrão e ajudem a garantir, ao menos, a neutralidade de siglas como MDB e PSD no plano federal. Alianças com nomes como Renan Filho (MDB), em Alagoas, e Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro, já são dadas como certas.
Edinho também diverge publicamente de Gleisi sobre o tom do enfrentamento político. Enquanto a atual ministra apostava em uma linha dura, ele defende a redução da temperatura da polarização.
Após a vitória de Lula em 2022, chegou a sugerir que o presidente posasse para uma foto ao lado de Bolsonaro.
Com o novo comando, cresce a expectativa de que o partido se alinhe mais ao Planalto. Durante a gestão Gleisi, o PT chegou a fazer críticas públicas à política econômica conduzida por Fernando Haddad. Edinho, ao contrário, é aliado próximo do ministro da Fazenda.
"Vai ser uma gestão mais governista do que a da Gleisi. Pela experiência dele como prefeito e como presidente do PT de São Paulo, vai saber ouvir internamente para preparar a campanha de reeleição do presidente Lula", avalia o deputado Jilmar Tatto (PT-SP), secretário de Comunicação da sigla.
Esse perfil, porém, tende a gerar resistências na ala mais à esquerda do partido, que prega independência em relação ao governo. Essa é uma das principais diferenças entre Edinho e seus três adversários na disputa: o ex-presidente do PT Rui Falcão (SP), o secretário de Relações Internacionais Romênio Pereira e o historiador Valter Pomar, membro do diretório nacional.
*Com O Globo.