Os entregadores de aplicativos enfrentam a realidade mais dura entre os trabalhadores plataformizados. (SOPA Images/Getty Images)
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Publicado em 17 de outubro de 2025 às 10h01.
Quanto vale uma hora de trabalho de um Uber? E uma corrida de moto levando comida pela cidade?
Uma pesquisa inédita do IBGE, divulgada nesta sexta-feira, 17, responde essas perguntas pela primeira vez com dados oficiais sobre os trabalhadores de aplicativos no Brasil.
De acordo com o levantamento da PNAD Contínua, pessoas que trabalham em aplicativos como Uber ganham, em média, R$ 2.766 por mês, enquanto entregadores recebem R$ 2.340. Para receber esses valores, no entanto, esses profissionais trabalham mais horas do que a maioria dos brasileiros.
Enquanto os trabalhadores do setor privado cumprem 39,3 horas semanais, os plataformizados dedicam 44,8 horas ao trabalho. Ou seja, 5,5 horas a mais por semana.
Os motoristas de aplicativos recebem R$ 341 a mais por mês do que os motoristas tradicionais, que ganham R$ 2.425. A diferença parece vantajosa, mas que diminui quando se analisa o ganho por hora trabalhada.
De acordo com o IBGE, os motoristas plataformizados trabalham 45,9 horas por semana, cinco horas a mais que os motoristas tradicionais, que dedicam 40,9 horas semanais ao trabalho.
Assim, ao dividir o salário pelas horas trabalhadas, os valores ficam praticamente iguais: R$ 13,9 por hora para os de aplicativos e R$ 13,7 para os tradicionais.
Portanto, o salário maior no fim do mês é resultado simplesmente de mais tempo ao volante, já que não há um pagamento consideravelmente melhor por hora de trabalho.
Os entregadores de aplicativos enfrentam a realidade mais dura entre os trabalhadores plataformizados.
Ao todo, são 274 mil pessoas que recebem, em média, R$ 2.340 por mês — o menor salário mensal entre todas as categorias analisadas pela pesquisa.
Para alcançar esse valor, eles trabalham 46,4 horas semanais, uma das jornadas mais extensas que ainda assim resulta no menor rendimento por hora.
Para se ter noção, entre os motociclistas de aplicativos, grupo que reúne boa parte desses entregadores, o ganho é de apenas R$ 10,8 a cada 60 minutos.
E, embora esse valor supere os R$ 9,2 por hora dos motociclistas tradicionais, escancara ainda mais a realidade da atividade mal remunerada, que por essência expõe os profissionais ao trânsito, clima e riscos diários.
Paralelamente, o levantamento do IBGE também traz informações do outro lado.
Segundo o instituto, há 211 mil empreendedores que usam essas mesmas plataformas e faturam R$ 4.615 por mês, quase o dobro dos entregadores.
Esses empreendedores têm negócios próprios, como lanchonetes, confeitarias ou restaurantes, e utilizam os aplicativos apenas como um canal para vender seus produtos.
Dessa forma, enquanto os entregadores ganham por corrida realizada, os donos de negócio ficam com toda a margem de lucro das vendas.