Cláudio Castro: relatora do TSE vota para cassação de governador (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Repórter
Publicado em 5 de novembro de 2025 às 08h29.
A ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Isabel Gallotti, votou pela cassação do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), e pela declaração de inelegibilidade, ao acolher a denúncia do Ministério Público Eleitoral sobre uso da máquina pública e direcionamento de recursos durante a campanha de 2022.
O julgamento foi interrompido após pedido de vista do ministro Antonio Carlos Ferreira e deve ser retomado no início de 2026.
No voto, Gallotti destacou que, em março de 2022, o governador assinou um decreto que ampliou as atribuições da Fundação Ceperj, autorizando convênios e a execução de projetos sociais pela entidade.
Para a relatora, a edição do decreto meses antes da eleição demonstra intervenção direta do governo e serviu para legitimar convênios e alocação de pessoas com finalidade eleitoral.
A ministra entendeu que a medida alterou normas estaduais de modo a transformar a fundação em instrumento que facilitou a distribuição de recursos e a instalação de uma rede de apoio.
Gallotti falou sobre o aumento expressivo de contratações pela Ceperj e pela Uerj, sem critérios transparentes, sem concursos e com uso de instrumentos informais de pagamento.
Testemunhos citados no voto apontaram que servidores foram deslocados para atividades de campanha, como participação em inaugurações e panfletagem.
A ministra classificou esse uso de pessoal e estrutura como abuso de poder político e econômico, porque teria criado vantagem indevida no processo eleitoral.
No voto, ela mencionou que pagamentos foram feitos por meio de saques em espécie “na boca do caixa” e via recibos de pagamento autônomo (RPA), o que, segundo a relatora, dificultou a fiscalização, não teve contracheques individuais e favoreceu a existência de beneficiários que atuavam como “funcionários fantasmas”.
Esses procedimentos, para ela, agravaram a gravidade da conduta por impedir o controle e a transparência exigidos para recursos públicos.
A relatora comentou sobre o salto orçamentário da Ceperj de 2021 para 2022 — de cerca de R$ 127 milhões para aproximadamente R$ 460 milhões — e o aumento da folha para dezenas de milhares de nomes às vésperas da eleição.
Gallotti entendeu que a coincidência temporal entre o decreto, o aumento de despesas, as contratações massivas e a intensificação da exposição pública dos investigados não foi casual, mas parte de um planejamento voltado a obter vantagens eleitorais ilícitas.
Os processos em questão estão relacionados às eleições de 2022, quando Cláudio Castro foi reeleito governador do Rio de Janeiro. As acusações envolvem:
O Ministério Público Eleitoral e a campanha de Marcelo Freixo, adversário nas eleições daquele ano, acusaram Castro e o vice, Thiago Pampolha, de irregularidades envolvendo a Fundação Ceperj e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
As acusações incluem:
No julgamento realizado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), o governador e o vice foram absolvidos e seus mandatos foram mantidos. No entanto, o MP e a coligação de Freixo recorreram da decisão ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Eles reiteraram as acusações e pediram a condenação de Castro e Pampolha, com a aplicação de inelegibilidade.
Em caso de cassação do mandato de Cláudio Castro, quem assumirá o governo do Rio de Janeiro será o presidente do Tribunal de Justiça (TJ-RJ), desembargador Ricardo Couto de Castro, até a realização de eleições suplementares.
A legislação eleitoral prevê duas possibilidades no caso de cassação de governadores. Se a cassação ocorrer a menos de seis meses do término do mandato, a eleição para escolher o novo governador será indireta, com voto dos deputados estaduais. Caso a cassação aconteça após esse prazo, a eleição será direta, com a participação de toda a população.
*Com informações do O Globo