Brasil

Tarifa do ônibus faz brasileiros deixarem de visitar parentes, ir a consultas e até procurar emprego

Especialistas defendem melhorias em infraestrutura, regulação e custeio para enfrentar a crise da mobilidade urbana

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 23 de setembro de 2025 às 08h19.

O custo da tarifa de ônibus é uma barreira para que os moradores das capitais possam acessar serviços de lazer ou mesmo compromissos de trabalho ou estudo, mostra uma pesquisa feita pelo Instituto Cidades Sustentáveis com o Ipsos-Ipec. O estudo entrevistou 3.500 pessoas que vivem nas cidades de Belém, Belo Horizonte, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Mais da metade dos entrevistados (60%) afirmou que deixa de visitar amigos ou familiares que moram em outros bairros por causa do preço da passagem, e 56% disse que já deixou de ir a parques, cinemas ou outras atividades de lazer pelo mesmo motivo.

Além disso, 48% dos entrevistados disseram já terem deixado de ir a consultas médicas ou exames para não gastar com a tarifa de ônibus, e 44% já deixaram de sair para procurar emprego por causa disso.

Tempo médio de deslocamento diário nas capitais

A pesquisa mostra também que os brasileiros que vivem em capitais gastam, em média, 116,5 minutos, quase duas horas, com deslocamentos diários.

Mais da metade dos moradores dessas cidades (58%) gasta mais de uma hora para realizar todas as atividades do dia e apenas 7% leva menos de meia hora. Belém (PA) e Manaus (AM) apresentaram os piores tempos, mais de duas horas (130 e 128 minutos, em média, respectivamente). Já o morador de Porto Alegre (RS) é quem gasta menos tempo, ainda assim, a média é mais de uma hora e meia (94 minutos).

No Rio e em São Paulo, a média é parecida: o carioca e o paulistano gastam cerca de 118 minutos, praticamente duas horas, com deslocamentos diários.

Preferência pelo transporte público e insegurança a pé

O transporte público é a preferência da maioria dos moradores em quase todas as capitais, com predominância dos ônibus ou BRT. A exceção é Goiânia, onde o carro particular é o meio de transporte mais utilizado. Na capital goiana, 41% dos entrevistados dizem que fazem seus trajetos diários de carro, contra 21% de ônibus e 10% por carro de aplicativo — outras respostas foram a pé, de bicicleta ou de moto.

A grande maioria (82%) dos moradores das capitais considera andar a pé pouco seguro ou nada seguro, e são as mulheres e usuários de transporte público coletivo quem mais acha inseguro transitar como pedestre nas cidades. Mas essa sensação de insegurança, apesar de ser frequente em todas as capitais, tem nuances a depender do local. Em Goiânia, 35% dos entrevistados se dizem seguros ou muito seguros como pedestres. Já em Manaus, 87% se sentem inseguros andando a pé.

Principais problemas no transporte público

Em São Paulo, que conta com a maior rede metroferroviária do país, o ônibus também é o meio de transporte mais utilizado (31%), seguido do carro (20%) e do metrô (16%). No Rio, 41% usam ônibus ou BRT, e em seguida vem o carro por aplicativo. Considerando todas as dez cidades, entre aqueles que usam algum tipo de transporte coletivo, 86% têm renda familiar mensal de até 2 salários mínimos.

Para os passageiros de ônibus ou BRT, a lotação e o preço da tarifa são apontados como os maiores problemas a nível nacional, mas essas queixas variam de acordo com a capital. Em Manaus, por exemplo, o valor da tarifa é a maior preocupação do passageiro (30%), seguida da segurança (20%). Em Belém, é a condição de conservação dos veículos (20%) a principal reclamação. Em São Paulo, a lotação dos coletivos é o maior problema para 32% dos entrevistados. Em Porto Alegre, o problema apontado com maior frequência (22%) é a frequência com que os ônibus passam.

Especialista aponta reflexos da crise do transporte público

Rafael Calabria, geógrafo especialista em mobilidade urbana, aponta que os resultados da pesquisa são um “reflexo da crise do transporte público” que o país enfrenta, e destaca os exemplos de Manaus e Goiânia, onde o uso de carros por aplicativo e de carros individuais são mais altos.

Na capital amazonense, 19% dos entrevistados afirmaram usar carros por aplicativo em seus deslocamentos diários — a média nacional é 9%. Já em Goiânia, o carro individual é o meio de transporte predominante (41%).

"São exemplos gravíssimos, é preciso avaliar a qualidade do transporte nessas cidades. Além do preço da tarifa, as reclamações mais constantes são a lotação dos ônibus e a frequência deles, ou seja, problemas de qualidade", avalia.

Em sua visão, a solução para a crise de mobilidade passa por três pilares: infraestrutura, melhor regulação da prestação de serviço e mudanças no custeio.

"Não dá para apostar somente em trilhos, porque o ônibus atende o bairro, ele é alimentador, mas é preciso investir em infraestrutura, ter mais trilho, metrô e corredor de ônibus. Por outro lado, é preciso reorganizar os contratos, ter um controle melhor da bilhetagem e da operação para ter um padrão de frequência mínimo nas cidades, para ter controle da qualidade do serviço. E tem que haver uma ação conjunta de custeio para baixar as tarifas", sugere.

 

Acompanhe tudo sobre:ÔnibusTransporte públicoBrasil

Mais de Brasil

Oficial de Justiça tenta notificar Eduardo Bolsonaro, mas é informado que ele está nos EUA

Relator apresenta parecer pela rejeição da PEC da Blindagem em comissão do Senado

Governo de SP vai usar detentos do semiaberto para limpeza de ruas após fortes chuvas e vendaval

Governo dos EUA afirma que dois milhões de imigrantes ilegais já deixaram o país