A Polícia Federal (PF) deu início a uma série de mandados de busca e apreensão contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na manhã desta sexta-feira, 18, em Brasília.
Os mandados, autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), estão ligados a investigações que envolvem o ex-presidente em uma trama de coação no curso do processo, obstrução de investigação e tentativa de subversão do Estado Democrático de Direito.
A ação faz parte do processo em que Bolsonaro e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, são acusados de interferir nas investigações relacionadas à tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Os crimes apontados no processo
O processo que envolve Bolsonaro é derivado da Ação Penal 2668, em que ele é acusado de ser líder de uma organização criminosa com o objetivo de atentar contra o Estado Democrático de Direito.
A investigação da Polícia Federal aponta que tanto o ex-presidente quanto seu filho, Eduardo Bolsonaro, utilizaram recursos para interferir nas investigações e ameaçar o regular andamento dos processos judiciais.
As acusações incluem a prática de coação no curso do processo, que se refere a tentativas de influenciar o julgamento da Ação Penal 2668/DF, e obstrução de investigação, com o objetivo de prejudicar as investigações sobre os eventos pós-eleições de 2022.
Além disso, o ex-presidente é acusado de atentar contra a soberania nacional, ao tentar negociar com governos estrangeiros, principalmente o dos Estados Unidos, para a imposição de sanções contra autoridades brasileiras, como membros do STF e da Polícia Federal.
Esses atos configurariam uma tentativa de subordinar o funcionamento da Corte Suprema a interesses externos, o que é uma violação da Constituição.
Coletiva de Bolsonaro é apontada no documento
Na coletiva de imprensa de Bolsonaro realizada na última terça-feira, 17, o ex-presidente fez declarações que foram interpretadas pela investigação como uma confissão explícita de sua tentativa de interferir no processo judicial que tramita no STF.
Segundo o documento, Bolsonaro, ao comentar o andamento da Ação Penal 2668, mencionou condições de impunidade relacionadas ao seu processo, o que gerou uma forte reação das autoridades.
Ele foi acusado de coagir o STF e ameaçar o Poder Judiciário, afirmando que a imposição de tarifas econômicas por parte dos Estados Unidos seria um fator importante para o fim das acusações contra ele e sua família.
"O comportamento de ruptura com regras elementares de atuação em sociedade, que está estampado publicamente, se torna ainda mais grave quando se leva em conta o anúncio de novas medidas empreendidas contra a soberania do país, o Estado Democrático de Direito e autoridades brasileiras", diz o documento.
O papel de Eduardo Bolsonaro, segundo o STF
As investigações apontam um alinhamento claro entre as ações de Bolsonaro e as de seu filho, Eduardo Bolsonaro. Segundo a Polícia Federal, ambos estariam atuando em conjunto para embaraçar o andamento das investigações e da Ação Penal 2668, além de promoverem ataques à independência do Poder Judiciário.
A colaboração entre os dois se manifestou de diversas formas, como nas postagens em redes sociais, nas quais incitaram ações hostis contra autoridades brasileiras e buscaram apoio externo, principalmente dos Estados Unidos, para ações que poderiam impactar as investigações e até as relações econômicas entre Brasil e EUA.
Além disso, Jair Bolsonaro admitiu ter repassado R$ 2 milhões para seu filho Eduardo, por meio de uma transferência via Pix, no dia 13 de maio de 2025, enquanto ele estava no exterior.
O valor, segundo a investigação, foi transferido diretamente da conta bancária de Jair Bolsonaro para a conta de seu filho, em um claro alinhamento das ações de ambos com o objetivo de interferir na justiça e nas investigações.
Ameaças de sanções econômicas
Um dos pontos mais graves levantados pelas investigações é a interferência externa promovida pela família Bolsonaro, com apoio de autoridades norte-americanas.
Em suas postagens, Eduardo Bolsonaro agradeceu ao governo dos Estados Unidos e pressionou pela imposição de sanções econômicas contra o Brasil, o que, segundo o documento, teria como objetivo pressionar o Poder Judiciário brasileiro.
Bolsonaro também se manifestou publicamente em apoio às ações externas, incluindo a repostagem de mensagens de apoio do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que atacava as instituições brasileiras e ameaçava com tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros.
As ações, que podem configurar tentativa de interferência nos assuntos internos do Brasil, são vistas pelo STF como uma forma de obstrução à justiça e tentativa de obter impunidade nas investigações, com o objetivo de enfraquecer a autoridade das instituições brasileiras e interromper a ação judicial contra o ex-presidente.
As medidas cautelares
Diante das evidências levantadas pela Polícia Federal, o Supremo Tribunal Federal determinou a imposição de medidas cautelares para garantir a continuidade das investigações e a ordem pública. Bolsonaro foi proibido de sair da comarca sem autorização judicial, além de ter que cumprir recolhimento domiciliar noturno e monitoramento eletrônico.
Além disso, ele está proibido de se aproximar de sedes de embaixadas e de manter contato com embaixadores ou autoridades estrangeiras. A proibição de uso de redes sociais também foi imposta para evitar que o ex-presidente continue influenciando a opinião pública ou obstruindo o andamento das investigações.
A Polícia Federal também foi autorizada a realizar buscas e apreensões domiciliares para apreender aparelhos eletrônicos e documentos que possam reforçar as provas da prática de crimes relacionados à obstrução de justiça e interferência externa.
Quais são os próximos passos?
O processo segue em andamento e novas medidas podem ser tomadas à medida que as investigações se aprofundam. As autoridades aguardam os desdobramentos das medidas cautelares impostas e a coleta de novas provas que possam esclarecer ainda mais a participação de Jair e Eduardo Bolsonaro nas ações que buscam desestabilizar as instituições brasileiras e obstruir o curso da justiça.
O STF também deve convocar sessões para deliberar sobre os próximos passos do processo e avaliar a continuidade das investigações, com a possibilidade de novas implicações jurídicas para os envolvidos.
LEIA MAIS:
-
Jair Bolsonaro é alvo de operação da Polícia Federal
-
Defesa de Jair Bolsonaro afirma que mandados foram recebidos com 'surpresa e indignação'
-
Bolsonaro com tornozeleira eletrônica e sem redes: o que se sabe sobre a decisão do STF
-
Partido de Bolsonaro repudia operação da PF e diz que ex-presidente colabora com investigações
-
Aliados de Bolsonaro criticam operação da Polícia Federal: 'que país é esse'