Agência de notícias
Publicado em 28 de julho de 2025 às 17h51.
Réu na ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado, o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o plano encontrado pela Polícia Federal, com sugestões de prisão de ministros da Corte, foi um exercício interno de simulação elaborado no âmbito da inteligência do Exército no Rio Grande do Sul — e não uma proposta operacional. O militar tem formação em Forças Especiais e integra o grupo chamado de "kids pretos".
No interrogatório feito nesta segunda-feira, o militar disse que o chamado "Desenho Operacional Luneta", encontrado em um pen drive apreendido em sua casa, fazia parte de um trabalho desenvolvido dentro da 6ª Divisão do Exército, em Porto Alegre. Segundo ele, tratava-se de uma antecipação de cenários, caso houvesse algum indício de fraude nas eleições presidenciais de 2022.
— Se amanhã sair um relatório ou um pronunciamento falando ‘atenção, teve fraude sim’, eu não posso deixar meu comandante ser surpreendido. Eu tenho que ter alguma coisa para que a gente comece a discutir com o Estado-Maior — afirmou.
O documento previa, entre outras ações, a prisão de ministros do Supremo "considerados geradores de instabilidade" e a neutralização da atuação do ministro Alexandre de Moraes. O plano também mencionava a criação de gabinetes de crise e a realização de novas eleições.
Para Ferreira Lima, no entanto, a interpretação feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) é equivocada. O tenente-coronel sustenta que sua função na área de inteligência envolvia justamente a produção de cenários prospectivos — e que o plano nunca foi validado por seus superiores.
— É um cenário totalmente hipotético. Ele não fala em eliminar ninguém. É amparado por normas legais — disse. — Eu não estava fazendo nada oculto. Surgiu de uma conversa com meu comandante. Quando fui apresentar para ele, a prioridade já era outra. Ele mandou eu abandonar isso. Nem abriu o computador.
De acordo com o militar, o plano foi deixado de lado após determinação do chefe da inteligência da 6ª Divisão, que teria orientado o foco para outras demandas, como o acompanhamento das manifestações em frente ao quartel em Porto Alegre.
A PGR, por outro lado, afirma que o documento é prova de que havia planejamento prévio para a atuação do núcleo militar da tentativa de golpe. A denúncia sustenta que a proposta fazia parte de uma articulação maior, que ia da contestação do resultado eleitoral à execução de ações de ruptura institucional.
Ferreira Lima também afirmou ao STF que não despachou o plano com superiores e que qualquer eventual aplicação dependeria de chancela de um general, o que, segundo ele, nunca ocorreu.
Com formação em Forças Especiais, o tenente-coronel é apontado como integrante do grupo conhecido como "kids pretos", formado por oficiais da ativa próximos do ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid. Ele virou alvo da Polícia Federal após a descoberta de mensagens consideradas golpistas trocadas com Cid.
Ferreira Lima também participou da reunião de 12 de novembro de 2022, no apartamento do general Walter Braga Netto. No depoimento desta segunda, ele negou que o encontro tenha tido conteúdo golpista.
Além dele, outros militares e um policial federal foram interrogados no STF nesta segunda-feira. Todos são acusados de integrar o núcleo operacional da trama golpista.