Repórter
Publicado em 15 de julho de 2025 às 18h17.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta terça-feira, 15, não considerar que a decisão do governo dos Estados Unidos em impor tarifa extra de 50% ao Brasil tenha finalidades políticas. No entanto, em uma carta publicada na rede social Truth Social, na semana passada, o presidente americano Donald Trump disse que a medida se deve aos processos judiciais contra Bolsonaro e contra redes sociais americanas.
Em entrevista ao site Poder360, o político afirmou que mantém uma "excelente relação" com o chefe da Casa Branca, principalmente por adotar um comportamento mais amigável com os Estados Unidos.
“Não vou dar palpite na vida do Trump. Tenho profunda gratidão por ele. Tivemos um excelente relacionamento. Fizemos muitos planos para o Brasil, na questão dos nossos minérios e commodities. E ele disse que, pela primeira vez, tivemos um presidente não hostil aos EUA, e fui eu”.
Ele também ressaltou que o presidente americano o enxerga como um irmão e que essa foi uma das razões para mencioná-lo na carta à Lula.
“Não sei o que se passa na cabeça do Trump. Ele é imprevisível. Eu gosto muito dele. Sou apaixonado pelos EUA, pelo povo americano e pela política de lá. O Trump sempre soube disso e ele me tratava como um irmão. E naquela carta para o Lula, logo na primeira linha, ele colocou o meu nome”.
A declaração de Bolsonaro ocorreu horas após Donald Trump afirmar que não vê o ex-presidente brasileiro como um amigo, mas como alguém que conhece.
"O presidente Bolsonaro é um bom homem. Bolsonaro não é um homem desonesto. Ele ama o povo brasileiro. Ele lutou muito pelo povo brasileiro. Ele negociou acordos comerciais contra mim em nome do povo brasileiro. Ele foi muito duro, porque queria fazer um bom negócio para o seu país", disse Trump a repórteres, na saída da Casa Branca, ao ser perguntado sobre o tema.
Bolsonaro também negou que qualquer relação com a decisão de Trump em aplicar tarifa extra ao Brasil e que seu filho, Eduardo Bolsonaro, que atualmente reside nos Estados Unidos, também não tem envolvimento com a política americana.
“Participação zero. Não existe lobby. O americano trabalha com os fatos. O que acontece comigo é uma caça as bruxas", disse. “Ele [Eduardo Bolsonaro] não tem nenhuma participação nisso. Ninguém esta vibrando com a taxação. A taxação entra em vigor no dia 1º de agosto. O Trump ainda vai conversar com o Lula, não vai ser agora, mas ele vai propor alguma coisa para ele. O que é não sei”.
Em 9 de julho, Trump anunciou uma tarifa extra de importação de 50% para os produtos brasileiros. Ele disse que a taxa se deve aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e contra redes sociais americanas.
A medida entraria em vigor em 1º de agosto, mas ainda não foi oficializada por uma ordem executiva. Assim, o governo brasileiro busca negociar formas de evitar que a nova taxa entre em vigor.
Nesta terça-feira, 15, estão sendo realizadas reuniões entre empresários e ministros para coordenar a estratégia de negociação do Brasil.
No tarifaço anunciado em abril, o Brasil havia ficado na categoria mais baixa, de 10% de taxas extras. Os EUA possuem superávit comercial com o Brasil. Ou seja: vendem mais produtos para cá do que os brasileiros enviam para os americanos.
No primeiro trimestre de 2025, os dois países trocaram US$ 20 bilhões em mercadorias, sendo que os EUA tiveram superavit de US$ 653 milhões, segundo dados da plataforma Comexstat, do governo brasileiro.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro, atrás da China. O Brasil é um grande exportador de aço, café, carne, suco de laranja e outros produtos aos americanos.
Desde que tomou posse, em janeiro, Trump passou a aumentar tarifas de importação sobre outros países, sob argumento de que eles estariam trazendo problemas aos EUA.
Trump quer que as empresas voltem a produzir nos Estados Unidos, em vez de ter fábricas no exterior, como fazem há décadas para cortar custos. Assim, ao encarecer as exportações por meio de novas taxas, ele espera que mais indústrias se mudem para os EUA e gerem empregos no país.
Além disso, Trump reclama do déficit comercial dos EUA com os outros países, e usa as tarifas como meio de pressionar os parceiros a comprarem mais itens americanos. Em vários casos, houve acordos nesse sentido: um compromisso de maiores compras ou abertura de mercados a produtos dos EUA em troca de Trump desistir de novas taxas.
Assim, analistas apontam que Trump usa as novas taxas como um elemento de pressão. Ele cria um problema que não existia antes, as novas taxas, e exige que os outros países mudem de postura para não implantá-las.
Em abril, Trump anunciou uma tarifa geral de 10% extras a quase todos os países do mundo e outra taxa extra, que variava entre os países de acordo com o déficit que os EUA tinham com cada um.
Na época, houve uma crise nos mercados e o líder americano adiou as novas taxas por país até 9 de julho, sob o argumento de que daria tempo para negociações.
Na semana passada, ele adiou novamente o prazo, para 1º de agosto, e passou a anunciar novos percentuais de taxas para alguns países, que poderão ser negociados até o final de julho. A tarifa geral de 10% segue em vigor, além de outras taxas para países específicos, como China, Canadá e México, e para produtos, como aço e alumínio.