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5 pontos para entender como a Taxonomia Sustentável Brasileira afetará agendas ESG

O instrumento regulatório teve versão final aprovada em setembro. Iniciativas de adaptação já podem ser tomadas pelas empresas brasileiras

Trata-se de uma oportunidade – e um alerta – para quem ainda não entendeu que sustentabilidade já é critério de investimento (Tirachard/Getty Images)

Trata-se de uma oportunidade – e um alerta – para quem ainda não entendeu que sustentabilidade já é critério de investimento (Tirachard/Getty Images)

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Publicado em 7 de outubro de 2025 às 15h00.

Por André Veneziani*

Empresas brasileiras que desejam continuar acessando mercados internacionais e atrair capital sustentável terão, a partir de agora, um novo marco de referência: a Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB), aprovada em sua versão final em setembro de 2025. 

A TSB é um instrumento regulatório que define critérios técnicos para classificar atividades econômicas como sustentáveis, e já nasce como peça-chave para fortalecer a credibilidade do país na agenda ESG global

A TSB oferece uma linguagem comum para sustentabilidade, o que ajuda a reduzir o risco de greenwashing e melhora a comparabilidade entre empresas e projetos. Essa padronização é urgente: 

  • Um estudo da Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio, 2024) mostrou que, no crédito rural, a proporção de financiamentos considerados “verdes” pode variar de 1% a 44%, dependendo do critério adotado – uma evidência clara da fragilidade atual. 

1. Taxonomia Sustentável Brasileira pode destravar capital

Em 2024, o Brasil liderou a América Latina em emissões de títulos sustentáveis, com US$ 11 bilhões em bonds ESG. Uma taxonomia reconhecida internacionalmente fortalece a credibilidade desses instrumentos e pode atrair novos fluxos de financiamento climático. 

  • Segundo o IPEA (2023), o país precisará mobilizar R$ 700 bilhões até 2030 para cumprir suas metas no Acordo de Paris. 

Do ponto de vista regulatório e reputacional, a TSB também se antecipa às novas exigências do mercado. Pesquisa da EY (2024) mostra que: 

  • 85% dos investidores já veem o greenwashing como um risco crescente, 
  • 64% exigem auditorias independentes em relatórios ESG. 

Ao estabelecer critérios claros, verificáveis e auditáveis, a TSB responde diretamente a essas demandas, reduzindo riscos de litígios e perdas de valor.

2. Nas cadeias globais de fornecimento, o impacto será igualmente expressivo 

A União Europeia aprovou legislação que obriga empresas a identificar e mitigar riscos socioambientais em suas cadeias produtivas — o que afeta diretamente exportadores brasileiros de carne bovina, soja, madeira, cacau, óleo de palma, entre outros. 

Empresas nacionais que não se alinharem à TSB correm o risco de perder contratos, mercados e certificações. 

3. A taxonomia também responde à crescente demanda por dados ESG consistentes 

Estudo da Refinitiv e da S&P Brasil ESG (2023) identificou discrepâncias relevantes em notas ESG de grandes empresas brasileiras, o que já provocou perdas de valor em companhias dos setores de bebidas, celulose e aço. 

A adoção de métricas padronizadas e auditáveis, como propõe a TSB, pode reverter esse quadro e aumentar a confiança de investidores e reguladores. 

Mesmo com aplicação inicial voluntária, a TSB já impõe um novo padrão de transparência e governança. Empresas que se adaptarem desde cedo demonstrarão maturidade ESG, ganhando vantagem competitiva em um ambiente de negócios cada vez mais exigente - tanto por parte de bancos quanto de investidores internacionais. 

É verdade que haverá desafios de adaptação, especialmente para as pequenas e médias empresas, que representam 96% do total no país (Sebrae, 2024). Muitas delas terão dificuldade em estruturar sistemas de gestão ESG, contratar auditorias ou alinhar seus fornecedores. 

4. O custo da inação pode ser maior 

Segundo a CPI (2024), 62% das emissões brasileiras estão ligadas às cadeias indiretas (Scope 3), o que torna o engajamento amplo na taxonomia uma necessidade estratégica.

No cenário internacional, será preciso garantir interoperabilidade com outras taxonomias já em vigor, como a da União Europeia e a da China, para evitar barreiras comerciais. 

A exclusão de combustíveis fósseis da taxonomia europeia, por exemplo, pode gerar atritos com setores brasileiros que ainda dependem dessas fontes energéticas. 

5. A governança da TSB também exigirá atenção 

Como instrumento vivo, ela passará por revisões periódicas, o que demandará resiliência regulatória por parte das empresas. A efetividade da taxonomia dependerá de um sistema robusto de monitoramento, reporte e verificação (MRV), com transparência e credibilidade no processo de auditoria – lição aprendida com a experiência internacional. 

A aprovação da TSB não é apenas mais um marco regulatório, é uma sinalização clara de que o Brasil está disposto a disputar protagonismo no mercado de finanças sustentáveis e, ao mesmo tempo, responder à pressão legítima por maior integridade nas práticas ESG. 

Trata-se de uma oportunidade – e um alerta – para quem ainda não entendeu que sustentabilidade já é critério de investimento.

*Por André Veneziani é VP Comercial Brasil & Latam da C-More / Francisco Granja, Head of Legal da C-More. 

 

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