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Aditivos nutricionais naturais impulsionam sustentabilidade no agronegócio

Biosseguridade avança no Brasil com soluções fitogênicas, enquanto Europa endurece restrições ao uso de antimicrobianos na criação animal

A biosseguridade deixou de ser apenas controle sanitário (Leandro Fonseca/Exame)

A biosseguridade deixou de ser apenas controle sanitário (Leandro Fonseca/Exame)

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Publicado em 3 de março de 2025 às 13h00.

Por João Zanardo*

A resistência antimicrobiana (RAM) exige estratégias que integrem saúde animal, segurança alimentar e sustentabilidade. Aditivos naturais à base de plantas – como óleos essenciais, extratos vegetais e outros compostos bioativos – emergem como eixo da biosseguridade moderna. Essas soluções não apenas substituem antibióticos, mas fortalecem a barreira intestinal dos animais, reduzem o estresse oxidativo e modulam a microbiota intestinal, criando ambientes hostis a patógenos.

Estudos da InsideSui (Granja Folhados) comprovam que suínos alimentados com fitogênicos ganharam até 2 kg adicionais no período de terminação, evidenciando ganhos produtivos sem riscos de resistência aos antimicrobianos.

Biosseguridade 4.0: tecnologia e natureza conectadas

A biosseguridade deixou de ser apenas controle sanitário para se tornar um sistema integrado. Sensores IoT monitoram parâmetros como temperatura e umidade em tempo real, enquanto algoritmos preditivos identificam sinais de estresse animal antes da manifestação de doenças. Nessa esteira, os fitogênicos agem como "vigilantes moleculares":

  • Óleos essenciais de orégano e alecrim inibem bactérias patogênicas gram-negativas no trato intestinal.
  • Taninos condensados reduzem a emissão de metano em bovinos em até 32%.
  • Extratos de cúrcuma melhoram a resposta imune de aves, reduzindo a mortalidade em granjas.

Esses mecanismos diminuem a dependência de medicamentos e ampliam a resiliência dos sistemas produtivos.

Europa como catalisadora da mudança

Desde 2022, a União Europeia barrou importações de proteínas animais tratadas com antibióticos promotores de crescimento – medida que afeta 30% das exportações brasileiras. O regulamento exige:

  • Uso de antimicrobianos apenas para tratamento individual de animais doentes;
  • Proibição de medicamentos críticos para humanos (ex.: colistina);
  • Rastreabilidade total da cadeia, do campo ao frigorífico.

Para atender essas exigências, 65% dos frigoríficos brasileiros já adotaram certificações voluntárias, substituindo antibióticos por aditivos naturais e probióticos.

O caso brasileiro: inovação em escala

O Brasil avança em três frentes para reduzir antimicrobianos:

  • Regulatórias: a Portaria 798/2023 (MAPA) exige prescrição veterinária para 18 classes de antibióticos.
  • Tecnológicas: granjas conectadas usam inteligência artificial para ajustar dietas com fitogênicos e outras ferramentas naturais conforme a fase produtiva.
  • Mercadológicas: consumidores premium pagam até 15% a mais por carnes certificadas como "livres de antibióticos".

Investimentos em P&D atingiram R$ 6 milhões em 2024, com parcerias entre universidades e indústrias para validar novas formulações fitogênicas.

O futuro é verde (e lucrativo)

O mercado global de aditivos naturais para ração movimentará US$ 2,8 bilhões até 2026, com o Brasil ocupando a 4ª posição. A chave para escalar essas soluções está na economia circular:

  • Subprodutos da agroindústria (ex.: cascas de citrus) viram matéria-prima para extratos;
  • Dejetos animais transformados em biofertilizantes;
  • Certificações internacionais agregam valor à proteína animal.

O desafio permanece em viabilizar tecnologias para pequenos produtores, responsáveis por 40% do abastecimento interno. Programas como o ABC+ preveem financiar 8 mil propriedades até 2026, priorizando sistemas integrados e aditivos naturais.

*João Zanardo é CEO da 88 Agro-Vetech, especialista em nutrição animal e biosseguridade, com 12 anos de experiência no desenvolvimento de aditivos naturais para substituição de antibióticos. Lidera iniciativas que combinam pesquisa acadêmica e aplicação industrial, sendo referência em soluções sustentáveis para a pecuária.

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