(AscentXmedia/Getty Images for National Geographic Magazine)
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Publicado em 8 de julho de 2025 às 10h00.
Por Mauro Wainstock*
No início do século XX, a expectativa de vida global era de apenas 32 anos. Hoje, projeta-se que, até 2050, o mundo terá 2 bilhões de pessoas com 60 anos ou mais.
Se por um lado houve um salto monumental na longevidade humana, por outro esta questão traz uma série de desafios e, de forma premente, exige uma profunda reconfiguração das estruturas individuais, sociais e econômicas.
"Como é envelhecer no Brasil?" Essa pergunta norteia a iniciativa das Organizações Globo por meio da coleção “Gerações sem idade”. O estudo mergulha no fenômeno do rápido envelhecimento da população brasileira, buscando desmistificar estereótipos sobre a velhice e analisar os impactos desse processo em diversas esferas da sociedade.
Os números da pesquisa são impactantes e sublinham a urgência do tema. Em um período de apenas 12 anos, a população brasileira com mais de 60 anos cresceu 57%. Esse ritmo de crescimento é sem precedentes. Diferente de nações desenvolvidas, que tiveram tempo para consolidar suas riquezas e sistemas de bem-estar antes de envelhecerem, no Brasil ainda há profundas e persistentes disparidades sociais.
Atualmente, impressionantes 33 milhões de brasileiros têm 60 anos ou mais, o que corresponde a 15,6% da população total do país. Para contextualizar, equivale à população inteira de países como Austrália, Chile ou Bélgica formada apenas por idosos vivendo no Brasil.
Em estados como Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro já houve a inversão da pirâmide etária: o número de pessoas com 60 anos ou mais superou o de crianças de 0 a 14 anos.
As análises futuras são ainda mais contundentes: a Organização Mundial da Saúde projeta que, até 2050, o Brasil terá mais de um terço de sua população formada por idosos. Nesse mesmo período, a população com mais de 50 anos deverá somar 42,3% do total de habitantes.
Este crescimento é impulsionado não apenas pelo aumento da longevidade, mas também pela drástica redução da natalidade. A expectativa de vida média no Brasil saltou de 57,6 anos na década de 1970 para os atuais 76,4 anos. Paralelamente, a taxa de natalidade registrou uma queda expressiva e contínua, passando de 5,8 filhos por mulher para um mínimo histórico de 1,5 filhos.
Um dos impactos mais discutidos neste processo é a pressão sobre a Previdência Social. Com o crescente número de aposentados e a diminuição da proporção de contribuintes ativos, o sistema previdenciário brasileiro caminha para um cenário de insustentabilidade. O Banco Mundial, em análise voltada ao contexto brasileiro, recomenda medidas drásticas: para manter a viabilidade do sistema, a idade mínima de aposentadoria deveria ser de 72 anos em 2040 e de 78 anos em 2060.
Essas sugestões ilustram a magnitude do ajuste necessário e a necessidade de repensar a aposentadoria, agora como uma etapa que deve incluir a continuidade da atividade laboral.
A percepção da velhice na sociedade brasileira tem sido contraditória ao longo do tempo. Se no século XIX a idade avançada era sinônimo de status, sabedoria e reverência, no pós-guerra, uma forte campanha social, impulsionada por ideais de juventude, começou a estigmatizar os sinais do envelhecimento. Posteriormente, surgiu o conceito de "terceira idade" que, embora buscasse organizar essa fase da vida, frequentemente a associava à inatividade.
Hoje, há um reconhecimento crescente do idoso como um agente ativo na sociedade. No entanto, a gerascofobia ainda é uma realidade: 90% dos brasileiros manifestam esse receio. Uma pesquisa do Instituto Qualibest para a Pfizer mostrou que jovens entre 18 e 24 anos são os que têm as percepções mais negativas sobre o envelhecimento.
O estudo “Gerações sem idade” concluiu que a questão demográfica não é apenas um desafio previdenciário, mas uma transformação estrutural que exige uma reavaliação completa de como as empresas operam e como os talentos são geridos.
Muitas vezes os idosos foram desligados da CLT após anos de dedicação e se veem marginalizados exclusivamente devido à idade. Por outro lado, a taxa de informalidade entre estes trabalhadores atingiu 53%.
Este dado aponta para a precariedade das condições de trabalho para muitos deles que precisam ou desejam continuar gerando renda, mas são empurrados para a informalidade.
86% dos 60+ afirmam já ter enfrentado algum tipo de preconceito no mercado de trabalho. Essa estatística escancara a prevalência do etarismo, um preconceito que não apenas prejudica indivíduos, mas também corrói a produtividade das empresas.
Ao descartar profissionais experientes, as empresas perdem o conhecimento acumulado. Os mais velhos trazem consigo ativos como:
O envelhecimento da população brasileira é um fenômeno acelerado, irreversível e complexo que exige uma abordagem multifacetada.
A inclusão dos profissionais mais velhos não é apenas uma questão social, mas um imperativo estratégico para o futuro da economia brasileira, garantindo que possam continuar contribuindo ativamente para a sociedade.
"Desde que nascemos, envelhecemos todos os dias.
Se tudo correr bem, você será um 60+."
"Que essa trajetória seja vivida plenamente com saúde, equilíbrio e dignidade, construindo um futuro com sabedoria e bem-estar e deixando um positivo e destacado legado."
*Mauro Wainstock é o 10º influenciador mundial em diversidade e inclusão, foi nomeado TOP RH influencer América Latina e LinkedIn TOP VOICE (3 selos). É membro do Instituto Brasileiro de ESG, da Diversity Board e conselheiro de várias empresas.
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