É justamente nesse ponto que a automação tradicional encontra seu limite (Andriy Onufriyenko/Getty Images)
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Publicado em 24 de julho de 2025 às 15h00.
Por Renan Salinas*
Enquanto parte do mercado ainda debate como automatizar tarefas repetitivas, um movimento mais profundo e silencioso vem ganhando tração entre empresas de ponta: a integração entre RPA (Robotic Process Automation) e Inteligência Artificial como um novo modelo operacional. Ao unir execução robótica com decisões algorítmicas, essa convergência não apenas reduz custos, ela reestrutura o tempo, a escala e o papel da liderança nas organizações.
Essa transformação tem sido impulsionada por pressões reais e urgentes. De um lado, a escassez global de mão de obra qualificada, segundo o Fórum Econômico Mundial, mais de 85 milhões de vagas podem ficar em aberto até 2030 por falta de profissionais especializados. De outro, um ambiente altamente digitalizado, onde o consumidor exige respostas imediatas e os investidores cobram previsibilidade. A equação se torna clara: fazer apenas mais rápido já não basta, é preciso fazer melhor, com inteligência embutida.
É justamente nesse ponto que a automação tradicional encontra seu limite. Automatizar tarefas já não é suficiente. O diferencial competitivo está em automatizar o raciocínio por trás da tarefa. A união entre RPA e IA deixa de ser uma mera otimização de processos e passa a ser um pilar estratégico, porque permite que a organização pense, decida e execute de forma integrada.
Isoladamente, o RPA é eficiente em repetir comandos, extrair dados, preencher sistemas, mover informações. A IA, por sua vez, interpreta dados, aprende com padrões e sugere decisões. Mas quando operam juntas, a operação evolui para um nível cognitivo: entende o contexto, aprende com as exceções e se adapta automaticamente.
Pense, por exemplo, em um processo financeiro complexo, com validação de notas, classificação contábil, análise tributária e geração de relatórios. O RPA tradicional poderia lidar com parte desse fluxo seguindo regras fixas. Mas, com IA embarcada, o processo ganha inteligência contextual: a máquina identifica erros, ajusta parâmetros, sugere correções e redige mensagens em linguagem natural. O que antes era execução repetitiva vira tomada de decisão em tempo real.
Esse modelo já está em curso. Um estudo realizado pela Bain & Company revela que 67% das empresas no Brasil consideram a IA uma das cinco prioridades estratégicas. Na prática, a operação se torna mais fluida e responsiva, decisões são baseadas em dados vivos, executadas com precisão técnica e monitoradas em tempo real. Ganha-se agilidade, reduz-se erro e libera-se o potencial humano para onde ele é insubstituível, na estratégia, no relacionamento e na criatividade.
A promessa de retorno não é mais teórica. Segundo a Deloitte, a automação inteligente pode reduzir custos operacionais entre 30% e 60% por processo, e aumentar a velocidade de execução em até 80%. Mas talvez o impacto mais transformador esteja na estrutura organizacional.
Ao eliminar o tempo ocioso entre coleta, análise e execução, a automação inteligente altera o próprio ritmo da empresa. Os fluxos deixam de ser lineares e passam a funcionar em paralelo, com sistemas interpretando e agindo quase em tempo real. Isso encurta o tempo de lançamento de produtos, antecipa riscos e potencializa a captura de oportunidades. O que antes levava dias ou semanas agora pode acontecer em minutos.
Além disso, o modelo fortalece a governança digital. Com algoritmos auditáveis e rastreáveis, as decisões tornam-se mais transparentes, reduzindo riscos operacionais, fraudes e passivos jurídicos. Em tempos de ESG digital e compliance regulatório, essa rastreabilidade deixa de ser diferencial e passa a ser obrigação.
Diante desse novo cenário, a pergunta que os líderes devem fazer já não é “o que podemos automatizar?”, mas sim: “nossos processos foram projetados para a inteligência ou apenas adaptados à digitalização?”
Automatizar com impacto exige redesenhar e não apenas digitalizar. Requer visão sistêmica, coragem para mexer na lógica do negócio e um C-Level que atue como arquiteto de uma nova forma de operar. As empresas que estão nessa jornada não estão apenas ganhando eficiência, mas estão criando estruturas mais ágeis, com menor custo marginal e mais inteligência incorporada em sua rotina.
Não se trata de tendência futura e sim de um movimento atual menos analógico, menos linear, mais cognitivo, mais estratégico e quem não começar agora, corre o risco de automatizar o que já está ultrapassado.
*Renan Salinas é CEO Yank Solutions.
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