Luiz Pedroza, CEO da Audima (Audima/Divulgação)
Repórter Bússola
Publicado em 3 de julho de 2025 às 13h00.
Quem vê acessibilidade digital como caridade esquece que os cerca de 60 milhões de brasileiros que precisam dela também são consumidores. É falsa a crença de que essa população é minoria, e as empresas que operam no digital, mas não oferecem acessibilidade podem estar com um público reduzido em cerca de 30%.
Atendendo a mais de 5 mil clientes em 11 países, a Audima oferece soluções em acessibilidade digital que permitem que grandes marcas, como Itaipu Binacional, Minerva Foods, Serasa e Tramontina, se livrem dessa desvantagem.
Em 2017, quando fundou a companhia, Luiz Pedroza enxergava uma oportunidade de fazer negócio e, ao mesmo tempo, causar impacto social. Na época, menos de 1% das empresas brasileiras possuíam sites com ferramentas de acessibilidade. Hoje, o volume subiu para 2,9% e Luiz enxerga resultado sólido.
“A pessoa que precisa de acessibilidade é cliente, tem poder de compra e vai escolher quem a respeita. Meu desafio era dialogar com marcas e fazê-las entender que no fim das contas estão perdendo a oportunidade de atender um público enorme”, conta.
Em 2024, a Audima registrou aumento de 23% no faturamento, e projeta 30% para este ano. A dor que Luiz identificou continua cada dia mais aguda, e o executivo vê espaço amplo para expansão. Mas ele não quer somente vendas e lucro. Saindo da posição de diretor comercial para CEO, Luiz assume papel mais estratégico e se prepara para fundar um movimento.
“O grande resultado ao longo desses anos foi que consegui vender a Audima para muitas empresas grandes. Elas formam um ecossistema junto com agências e formadores de opinião que já fomentam inclusão e acessibilidade digital no mercado. Assumindo como CEO eu pensei, precisamos dar um passo além e transformar isso em um grande movimento social B2B”, conta.
Este é o desafio de Luiz para 2025: criar um movimento, uma entidade para advogar, trabalhar e criar conteúdo voltado à conscientização da urgência e da oportunidade na acessibilidade digital.
O primeiro passo será o rebranding da Audima, que já está em processo e tem previsão para estar pronto no final deste ano. O segundo, será conectar os grandes atores deste movimento:
E a rede já está praticamente montada. Quando fundou a Audima, Luiz não tinha apenas uma ideia, mas também uma estratégia efetiva.
Formado em Administração, o empresário de 33 anos começou sua carreira com um estágio na Apex Brasil, onde foi iniciado no universo da sustentabilidade. Mas seu verdadeiro aprendizado veio após se formar, quando começou a carreira de empreendedor com um quiosque da franquia Megamatte.
“A barriga no balcão, e o você cara a cara com o público, é a maior escola que fiz. Para qualquer pessoa que lida com o público diretamente, esse é o maior MBA que ela pode fazer", conta.
Com a experiência adquirida, Luiz tomou a decisão de começar a Audima atendendo à mídia, em sites de notícias e afins. O objetivo era oferecer a áudio transcrição para quem mais precisava e depois passar para o mercado B2B Enterprise, com grandes empresas que valorizam governança, sustentabilidade e relações sólidas a longo prazo.
A estratégia teve sucesso e depois da pandemia de Covid-19, com tudo sendo feito digitalmente e a procura pela acessibilidade digital em alta, a empresa decolou. Os contatos feitos formaram as bases do movimento social que ele planeja, pois Luiz fez questão de construir relações de confiança com um modelo de Pesquisa & Desenvolvimento baseado na cooperação.
“Chamamos de testes holísticos. Eu não tenho nenhuma deficiência e não posso ser a pessoa que valida as ferramentas. Nós validamos com grupos de PCDs e neurodivergentes dos nossos clientes. Isso gera quase que uma intimidade, uma proximidade muito grande entre nós e os nossos clientes”, conta.
Essa postura de cocriação é o que permitiu o desenvolvimento completo das mais 20 tecnologias proprietárias, incluindo tradução em Libras, descrição automática de imagens, contraste inteligente para daltónicos e resumos com inteligência artificial.
O modelo de negócio funciona com contratos, de duração mínima de um ano. Falando sobre a vitalidade do produto, o executivo conta que a maioria dos contratos são de dois a cinco anos, a taxa de churn da empresa é de menos de 3% e as soluções podem aumentar em até 400% o tempo de permanência em página.
Acessibilidade digital está um pouco longe do que ele pretendia fazer quando era jovem. Luiz queria o segmento de alimentação, mas mudou quando concluiu as atividades do seu quiosque. Foi sua irmã, que possui dislexia, que o inspirou. Ele observou nela uma dor compartilhada por muitos e quanto mais pesquisava, mais aparente ficava a urgência da acessibilidade digital.
“Não existe inclusão social sem inclusão digital, porque nossas vidas estão cada dia mais digitais. Para diminuir a desigualdade, é preciso investir nisso. Esse é o peso que tem o movimento que estamos construindo”, conta, enfatizando a urgência.
Para 2025, a Audima prevê o lançamento do rebranding e do movimento – que, a propósito, não se chama “ESGA”, mas já está batizado. O foco segue no áudio como ferramenta de inclusão, mas Luiz conta que estão “dando voz para quem antes não era ouvido com parcerias para tornar a internet mais acessível para todos”.
A empresa expandiu para a América Latina em 2021, com presença em países como Chile, Argentina, Peru e Colômbia. 30% da receita vem de fora e a projeção é de chegar a até 50% a partir de 2027.
Como Luiz conseguiu desenvolver, se destacar e crescer um negócio dentro dos preceitos do ESG e do impacto social? Ele conta: “Empatia, humanidade e principalmente escuta ativa. Isso vale para os meus liderados, para os times, para clientes e para o mercado. Tudo que a Audima fez até hoje, e o que ainda vai fazer, foi ouvindo o outro. Isso que, de fato, permite que a gente consiga captar oportunidades e se conectar com quem quer fazer junto. O movimento é um exemplo disso. Ele vem do escutar”.
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