Cultura organizacional é essencial (Maxime Horlaville/Getty Images)
CEO e sócio da FESA Group - Colunista Bússola
Publicado em 1 de julho de 2025 às 07h00.
Carlos Guilherme Nosé, CEO e sócio da FESA Group
Dias atrás, meu filho mais novo completou 18 anos. Um marco e tanto. Revendo uma foto antiga, daqueles dias em que ele cabia no colo e fazia mil perguntas antes de dormir, me peguei pensando no que realmente fica da nossa presença na vida das pessoas. A criação de filhos, no fundo, é menos sobre grandes discursos e mais sobre aquilo que a gente repete sem perceber. Com cultura organizacional é a mesma coisa: ela não se mostra quando a gente tenta exibi-la, mas quando simplesmente vive.
Criei meus dois filhos de formas diferentes, cada um com sua personalidade, mas com os mesmos valores de base. A firmeza, o acolhimento, a escuta e a liberdade foram ajustados conforme a necessidade de cada um. No trabalho, liderar equipes tão diversas é o mesmo desafio: manter o eixo dos valores, adaptando a forma de conduzir, porque o que funciona para um pode não funcionar para outro.
Tem empresa que trata cultura organizacional como um pôster de sala de reunião: visível, impecável, inspirador. Mas completamente distante do que acontece no almoço de time, na hora de dar um feedback ou no jeito como se reage ao erro de alguém.
Cultura de verdade é aquela que sobrevive aos bastidores. É quando o novo estagiário chega e entende o tom da empresa observando como as decisões são tomadas e como as pessoas se escutam.
Num bate-papo recente, alguém comentou comigo que a maior prova de uma cultura bem construída é quando os valores se manifestam nas pequenas atitudes do dia a dia, sem ninguém precisar apontar. E é isso mesmo. Quando isso acontece, a cultura não está apenas registrada — ela está absorvida.
Os Baby Boomers, a Geração X, os Millennials, a Geração Z e, logo mais, os Alphas. Cada grupo com um repertório, um ritmo e uma leitura diferente do que é trabalho, propósito e pertencimento.
Liderar nesse cenário é como ser pai de filhos completamente distintos. O que funciona para um pode provocar ruído em outro. E, ainda assim, você precisa manter o eixo. Não se trata de aplicar regras diferentes, mas de reconhecer que escutar também é uma forma de coerência.
Dias atrás, numa conversa despretensiosa, me ouvi dizendo algo que guardei pra mim depois: “Cultura é o que a gente planta sem fazer alarde e que, de repente, floresce no comportamento de alguém que nem estava ali quando tudo começou.”
Às vezes, na tentativa de deixar tudo mais “leve”, a gente corre o risco de confundir acolhimento com omissão. Mas cultura não é sobre evitar desconforto. É sobre criar espaço para confiança real. É ter coragem de dizer o que precisa ser dito, mesmo quando ninguém vai aplaudir. E, ainda assim, fazer isso com respeito.
No fim das contas, o legado que deixamos como líderes não está nos manuais ou nos valores escritos na parede. Está nas atitudes que as pessoas reproduzem quando você já saiu da sala — ou da empresa. Uma cultura viva é aquela que não precisa de legenda. Ela acontece. E quem vive, sente.
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