A lição que o momento atual nos oferece é clara: hesitar custa caro (ARMMY PICCA/Getty Images)
Diretor-geral da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 11 de setembro de 2025 às 17h00.
O noticiário desta semana destaca que a Europa vive ondas de calor sucessivas, secas prolongadas e queimadas recordes, enquanto patina na definição de sua próxima meta climática antes da COP30.
O cenário europeu é simbólico do grande dilema global da atualidade: enquanto a realidade climática se impõe com intensidade crescente, a política internacional segue marcada por hesitações, negociações arrastadas e, sobretudo, por um descompasso entre discurso e ação.
O Acordo de Paris, firmado em 2015, estabeleceu uma bússola comum — limitar o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°C e perseguir esforços para contê-lo em 1,5°C. No entanto, dez anos depois, a implementação continua muito aquém do necessário.
O que está em jogo não é apenas a formulação de metas de longo prazo, mas a credibilidade de todo o regime climático. A hesitação, que se soma a outros contextos em que governos adiam a entrega de NDCs ou evitam compromissos mais ambiciosos, revela uma lacuna perigosa: sem coordenação e metas claras, a agenda global perde sua capacidade de induzir transformações no ritmo necessário. Pior ainda, transmite uma mensagem de permissividade, como se a emergência climática pudesse esperar.
O debate sobre ambição precisa ser acompanhado de um olhar igualmente firme sobre implementação e financiamento. Não basta anunciar metas mais ousadas se elas não se traduzirem em políticas públicas, planos de transição energética, incentivos econômicos e mecanismos regulatórios que mobilizem recursos em escala.
A transição para uma economia de baixo carbono deve ser acelerada, mas também justa e inclusiva. Isso significa reconhecer que os custos e riscos não estão distribuídos de forma equitativa: países em desenvolvimento, comunidades tradicionais e populações de baixa renda são desproporcionalmente impactados pela crise climática e precisam estar no centro das soluções.
Esse é o ponto de maior fragilidade — e também de maior oportunidade. A cada ano que se adia o fortalecimento de compromissos, cresce a conta dos desastres climáticos, que já drenam recursos públicos e privados em escala inédita.
Mas, ao mesmo tempo, cresce o espaço para desenhar mecanismos de financiamento climático que sejam inovadores, acessíveis e capazes de destravar trilhões de dólares hoje represados em fundos de investimento, bancos multilaterais e orçamentos nacionais. A agenda de blended finance, a expansão de mercados de carbono regulados e o fortalecimento de fundos verdes multilaterais são apenas alguns caminhos que podem ajudar a viabilizar a transição.
A lição que o momento atual nos oferece é clara: hesitar custa caro. O impasse europeu pode parecer distante, mas carrega implicações diretas para todos. Se a União Europeia, com sua tradição de liderança em políticas ambientais, não consegue consolidar uma meta à altura da emergência, o sinal emitido ao restante do mundo é de fraqueza. Justamente por isso, é urgente que a COP30 seja mais do que um encontro para anunciar promessas. Precisa ser o marco de uma nova etapa, em que ambição, implementação e financiamento se alinhem em um esforço coordenado, sob pena de transformar o Acordo de Paris em uma carta de intenções incapaz de guiar o presente.
A emergência climática não espera negociações intermináveis nem se ajusta a calendários eleitorais. O que está em jogo é a capacidade de construir, agora, um futuro no qual a transição seja não apenas rápida, mas também justa e inclusiva. É dessa combinação que depende a possibilidade de manter viva a promessa feita em Paris.