Bússola

Um conteúdo Bússola

Gestão Sustentável: Balanço Ético Global da ONU deixa claro que sustentabilidade é dever, não opção

Balanço Ético Global propõe refletir sobre ética e compromisso com a sustentabilidade, indo além das métricas financeiras em busca de um futuro mais justo

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Diretor-geral da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 4 de julho de 2025 às 10h00.

Vivemos repetindo que práticas ESG geram valor, reduzem riscos e atraem capital. Tudo verdade. Mas o lançamento, em 17 de junho, do Balanço Ético Global (BEG) — iniciativa capitaneada pelo Brasil e pela ONU rumo à COP30 em Belém — convida-nos a recolocar o tema no lugar certo: o da ética. Não é só uma planilha de longo prazo; é um espelho sobre quem escolhemos ser como sociedade.

Durante a apresentação em Bonn, a ministra Marina Silva foi direta: “precisamos proteger o maior patrimônio de tudo que sustenta a vida na Terra: o clima equilibrado”. O BEG propõe uma “escuta ética planetária” que dará voz a povos indígenas, cientistas, artistas, líderes religiosos — gente que não costuma aparecer nas análises de retorno sobre investimento, mas sente, na pele, o custo da crise climática.

Três lembretes éticos

Empatia é tecnologia social insubstituível

Empresas inovam em carbono zero, mas a inovação mais urgente é a capacidade de imaginar a vida de quem já enfrenta secas, enchentes e insegurança alimentar. Sem isso, qualquer meta de 1,5 °C vira exercício de marketing.

Lucro de curto prazo sem justiça vira passivo

Se as cadeias de valor mantêm trabalho precário ou ignoram direitos humanos, os fluxos de caixa de hoje se transformam em contingências judiciais — e reputacionais — de amanhã.

Tempo é ativo moral

O BEG chega dez anos após o Acordo de Paris; os últimos 21 meses foram os mais quentes da história, lembra a própria Marina. Adiar decisões é, portanto, escolha ética: decide-se pelo privilégio de alguns e pela vulnerabilidade de muitos.

Por que isso importa

Quando investidores perguntam pelo retorno financeiro da sustentabilidade, vale devolver: qual é o custo de perder o contrato social que nos permite operar? A confiança — fundamento intangível do mercado — nasce da percepção de que empresas e governos partilham riscos e benefícios de forma justa.

Desta maneira, o BEG não oferecerá uma nova métrica de retorno. Ele entregará um espelho moral: estamos (ou não) dispostos a agir por quem mais sofre e menos emitiu? Se a resposta for “sim”, os fluxos financeiros virão — como consequência, não como razão. Se for “não”, qualquer resultado trimestral será frágil como o clima que nos permite viver e prosperar.

O chamado, portanto, não é apenas para mudar práticas empresariais, mas para reaprender a nos colocar no lugar do outro. Este é o ponto que transformamos em vantagem competitiva quando internalizamos que ética, neste século, deixou de ser campo da filosofia para tornar-se critério de sobrevivência.

Que o BEG, ao colocar a ética no centro da COP30, lembre-nos de que desenvolvimento sustentável não é aposta de retorno futuro; é o compromisso mínimo que devemos uns aos outros aqui e agora.

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube 

 

Acompanhe tudo sobre:ESG

Mais de Bússola

93% dos paulistanos aprovam a Lei Cidade Limpa, aponta pesquisa

Natalia Beauty: o marketing de influência só funciona quando é real e gera conexão humana

Ele virou CEO e sua empresa vai colocar um ‘A’ de ‘acessibilidade’ na sigla ESG

Como essa concessionária está lidando com o desafio de treinar times comerciais no setor funerário