Diretor-geral da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 4 de julho de 2025 às 10h00.
Vivemos repetindo que práticas ESG geram valor, reduzem riscos e atraem capital. Tudo verdade. Mas o lançamento, em 17 de junho, do Balanço Ético Global (BEG) — iniciativa capitaneada pelo Brasil e pela ONU rumo à COP30 em Belém — convida-nos a recolocar o tema no lugar certo: o da ética. Não é só uma planilha de longo prazo; é um espelho sobre quem escolhemos ser como sociedade.
Durante a apresentação em Bonn, a ministra Marina Silva foi direta: “precisamos proteger o maior patrimônio de tudo que sustenta a vida na Terra: o clima equilibrado”. O BEG propõe uma “escuta ética planetária” que dará voz a povos indígenas, cientistas, artistas, líderes religiosos — gente que não costuma aparecer nas análises de retorno sobre investimento, mas sente, na pele, o custo da crise climática.
Empresas inovam em carbono zero, mas a inovação mais urgente é a capacidade de imaginar a vida de quem já enfrenta secas, enchentes e insegurança alimentar. Sem isso, qualquer meta de 1,5 °C vira exercício de marketing.
Se as cadeias de valor mantêm trabalho precário ou ignoram direitos humanos, os fluxos de caixa de hoje se transformam em contingências judiciais — e reputacionais — de amanhã.
O BEG chega dez anos após o Acordo de Paris; os últimos 21 meses foram os mais quentes da história, lembra a própria Marina. Adiar decisões é, portanto, escolha ética: decide-se pelo privilégio de alguns e pela vulnerabilidade de muitos.
Quando investidores perguntam pelo retorno financeiro da sustentabilidade, vale devolver: qual é o custo de perder o contrato social que nos permite operar? A confiança — fundamento intangível do mercado — nasce da percepção de que empresas e governos partilham riscos e benefícios de forma justa.
Desta maneira, o BEG não oferecerá uma nova métrica de retorno. Ele entregará um espelho moral: estamos (ou não) dispostos a agir por quem mais sofre e menos emitiu? Se a resposta for “sim”, os fluxos financeiros virão — como consequência, não como razão. Se for “não”, qualquer resultado trimestral será frágil como o clima que nos permite viver e prosperar.
O chamado, portanto, não é apenas para mudar práticas empresariais, mas para reaprender a nos colocar no lugar do outro. Este é o ponto que transformamos em vantagem competitiva quando internalizamos que ética, neste século, deixou de ser campo da filosofia para tornar-se critério de sobrevivência.
Que o BEG, ao colocar a ética no centro da COP30, lembre-nos de que desenvolvimento sustentável não é aposta de retorno futuro; é o compromisso mínimo que devemos uns aos outros aqui e agora.
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