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IA pode ajudar no equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, mas não é a solução

A IA pode ser uma grande aliada da saúde mental. Mas só se a deixarmos espaço para que as pessoas continuem sendo pessoas

Inteligência artificial pode liberar tempo, mas precisa ser bem orientada (ijubaphoto/Getty Images)

Inteligência artificial pode liberar tempo, mas precisa ser bem orientada (ijubaphoto/Getty Images)

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Publicado em 30 de outubro de 2025 às 15h00.

Por Tatiana Pimenta*

Imagine começar o dia respondendo mensagens às 7h da manhã e encerrar com uma reunião às 22h. Essa é a nova realidade de muitos profissionais ao redor do mundo.

A linha entre vida pessoal e trabalho vem desaparecendo há algum tempo, mas dados recentes do Work Trend Index 2025, da Microsoft, mostram que essa tendência está se acelerando de forma preocupante.

Um cenário de interrupções constantes

Segundo o estudo, hoje um profissional é interrompido em média 275 vezes por dia por e-mails, chats e convites para reuniões. Isso representa uma interrupção a cada dois minutos durante o horário de trabalho.

E os limites não param por aí: as mensagens fora do expediente aumentaram 15% no último ano, enquanto as reuniões após as 20h cresceram 16%, impulsionadas por interações entre diferentes fusos horários.

Esses dados escancaram um problema crônico: o trabalho está ocupando todos os espaços da vida — o tempo, a energia e até o pensamento.

Consequências do esgotamento profissional

E as consequências são visíveis. Metade dos líderes e colaboradores relatam sentir que o trabalho está caótico e fragmentado. Ao mesmo tempo, 80% afirmam que não têm tempo ou energia suficiente para realizar suas tarefas.

Como exigir inovação, criatividade e performance em um ambiente que promove esgotamento como norma?

A inteligência artificial como aliada

É nesse contexto que a inteligência artificial entra em cena. O mesmo relatório revela que 82% dos líderes planejam usar agentes de IA para expandir a capacidade produtiva das equipes nos próximos 12 a 18 meses.

A promessa é aliviar a carga repetitiva, automatizar fluxos e permitir que os profissionais possam se dedicar ao que realmente importa: decisões estratégicas, criação, relações humanas — ou seja, aquilo que nenhuma máquina substitui.

No entanto, há um risco evidente: substituir a sobrecarga humana por uma sobrecarga digital, onde a expectativa de entrega só aumenta, agora impulsionada por agentes que trabalham 24/7.

O alerta: equilíbrio entre pessoas e tecnologia

Não é à toa que o estudo alerta que a velocidade dos negócios segue maior do que a capacidade de adaptação das pessoas. Se a IA for usada apenas para “produzir mais com menos”, sem repensar os fluxos, papéis e limites do trabalho, o resultado será ainda mais adoecimento.

Por isso, a tecnologia precisa vir acompanhada de uma mudança cultural profunda. Precisamos de líderes que entendam que a saúde mental não é um “extra”, mas um pilar estratégico.

Que saibam calibrar o chamado “índice humano-agente”, promovendo equilíbrio e bem-estar, e não apenas eficiência operacional.

Um futuro de propósito e empatia

O futuro do trabalho já começou, mas ele precisa ser construído com propósito. A era das Frontier Firms, como define a Microsoft, só será positiva se cada avanço tecnológico for acompanhado por avanços humanos: mais empatia, mais escuta, mais limites saudáveis.

A IA pode ser uma grande aliada da saúde mental. Mas só se a gente deixar espaço para que as pessoas continuem sendo pessoas.

*Tatiana Pimenta é fundadora e CEO da Vittude, referência no desenvolvimento e gestão estratégica de programas de saúde mental para empresas.

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