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Machado de Assis inventou o marketing de influência (e ninguém percebeu)

Machado, mestre da literatura, também era mestre no marketing de influência

Machado de Assis não estava tentando vender nada e talvez seja exatamente por isso que ele vendeu tanto (Imagem gerada por inteligência artificial/Adobe Firefly)

Machado de Assis não estava tentando vender nada e talvez seja exatamente por isso que ele vendeu tanto (Imagem gerada por inteligência artificial/Adobe Firefly)

Natalia Beauty
Natalia Beauty

Colunista Bússola

Publicado em 14 de novembro de 2025 às 13h00.

Enquanto você está perdendo tempo com mais um curso sobre “como viralizar no TikTok”, Machado de Assis já tinha hackeado o cérebro humano 150 anos atrás, e ele fez isso sem Wi-Fi, sem analytics e sem pedir para você “deslizar para cima”.

O segredo sujo de Brás Cubas

Em 1881, Machado publicou “Memórias Póstumas de Brás Cubas” com uma dedicatória que deveria estar emoldurada em toda agência de publicidade do país: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas.” Espera. O que ele acabou de fazer?

Ele te vendeu um livro começando pelo fim, pelo fracasso, pela morte, pela decomposição literal do protagonista e você comprou. Você SEMPRE compra quando alguém tem coragem de começar pelo que todo mundo esconde e isso não é literatura, é marketing reverso na sua forma mais pura.

A estratégia que as marcas não têm coragem de usar

Todo brand na face da Terra está tentando te convencer de que seu produto vai te transformar na melhor versão de você mesmo. Machado fez o oposto, pois ele te mostrou que Brás Cubas era medíocre, egoísta, fracassado e mesmo assim você não conseguiu parar de ler sobre ele. 

Por quê? Porque autenticidade não é mostrar seus sucessos, mas sim mostrar suas falhas de forma tão inteligente que elas se tornam sua marca.

Enquanto as marcas gastam milhões tentando construir uma imagem perfeita, Machado já sabia que a imperfeição é memorável e a perfeição é esquecível.

Dom Casmurro foi o primeiro storytelling com final aberto

“Capitu traiu ou não traiu?” Essa é literalmente a discussão brasileira mais longa da história. Machado escreveu Dom Casmurro em 1899 e até hoje, 2025, as pessoas estão brigando sobre isso em grupos de WhatsApp e isso não é um bug, é uma feature de engajamento.

Machado entendeu algo que o algoritmo do Instagram descobriu só agora: o conteúdo que gera discussão vence o conteúdo que gera concordância. Ele não fechou a história, ele te deu espaço para criar SUA teoria, te fez coautor e te deu ownership emocional da narrativa.

Toda marca que tenta controlar 100% da mensagem está perdendo. Machado te ensinou a largar o controle e deixar o público completar sua história.

O emplasto Brás Cubas: o pior pitch da história e o melhor exemplo de produto-mercado fit

Brás Cubas passou anos desenvolvendo um “emplasto anti-hipocondríaco” que curaria a melancolia da humanidade. Ele morreu sem vender uma unidade. Soa familiar?

Quantas startups você conhece que criaram produtos geniais que NINGUÉM PEDIU? Machado já estava zoando a cultura de “solução em busca de problema” 140 anos antes do Vale do Silício inventar o termo. 

A lição machadiana que você precisa tatuar é a de não importa quão brilhante é seu produto se você está resolvendo um problema que só existe na sua cabeça.

A técnica narrativa que todo criador de conteúdo deveria se inspirar

Machado tinha um superpoder, ele conversava diretamente com o leitor no meio da história. “Não, não, meu caro leitor, você está enganado…” Ele quebrava a quarta parede antes de Hollywood tornar isso cool. Ele te puxava para dentro da narrativa, te fazia cúmplice e te fazia sentir especial.

Isso é o que os melhores criadores de conteúdo fazem hoje: eles não falam PARA você, eles falam COM você. A diferença entre monólogo e diálogo é a diferença entre scroll e save.

O marketing lesson que Machado sussurra do túmulo

Machado não tinha KPIs, não tinha reach, não tinha impressions, e mesmo assim, 150 anos depois, ele ainda está gerando buzz orgânico. Por quê?

Porque ele nunca tentou agradar todo mundo. Ele escrevia em camadas. Se você queria ler uma história de amor, tinha. Se queria crítica social ácida, tinha. Se queria experimentalismo narrativo, tinha. Ele não simplificou para ser palatável, ele complexificou para ser inesquecível.

A sua marca está simplificando para “ampliar o público”? Parabéns, você está se tornando genérico. Machado te desafia: seja denso, seja em camadas. Confie que as pessoas certas vão cavar fundo o suficiente para te encontrar.

O último Plot Twist

Aqui está a verdade que ninguém quer ouvir: Machado de Assis não estava tentando vender nada e talvez seja exatamente por isso que ele vendeu tanto.

Ele não tinha call-to-action, não tinha funil, não tinha estratégia de conversão. Ele só tinha algo genuíno para dizer e a coragem de dizer de forma diferente.

No final, todo o marketing do mundo não substitui isso, o de ter algo real para comunicar e a ousadia de comunicar de forma que ninguém mais ousaria.

Machado já sabia. Você, quando vai começar a aplicar?

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