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Missão, carreira e prazer: o método das três esferas para uma vida com clareza e estrutura

Como separar propósito, trabalho e prazer pode ajudar jovens da geração Z a evitar sobrecarga, manter a identidade e construir uma trajetória sólida. Este é o tema do artigo de Pryslla Oliveira para a EXAME

Pryslla Oliveira, coautora do texto

Pryslla Oliveira, coautora do texto

Rafael Albuquerque
Rafael Albuquerque

Colunista Bússola

Publicado em 24 de julho de 2025 às 13h00.

Última atualização em 24 de julho de 2025 às 13h11.

Por Pryslla Oliveira*, com coautoria de Rafael Albuquerque.

Nos últimos anos, muitos jovens profissionais passaram a tentar transformar tudo em projeto ou vocação. Qualquer talento precisava ser monetizado. Qualquer dom, justificado como missão. Essa mentalidade, por mais bem-intencionada que seja, tornou-se insustentável. Ao tentar fundir propósito, carreira e prazer em uma só estrutura, muitos se perderam no excesso de expectativa.

Separar esses três campos da vida com clareza não significa fragmentar a identidade. Significa organizar. Significa reconhecer que cada esfera pede uma lógica diferente. E é exatamente essa distinção que pode ajudar a geração Z a tomar decisões mais lúcidas e a evitar o esgotamento precoce. 

O método das três esferas

Harvard, Stanford e Yale, três das universidades mais influentes do mundo, vêm desenvolvendo metodologias que ajudam profissionais a estruturar a vida com intencionalidade.

Em Harvard, os programas de liderança orientada por propósito defendem que valores pessoais devem ser respeitados nas decisões profissionais, mas sem romantizar a ideia de que tudo que é feito com paixão deve virar negócio. O equilíbrio entre coerência interna e estratégia externa é o que define uma liderança sólida.

Stanford, por meio do curso Designing Your Life, propõe que profissionais encarem a vida como um projeto em aberto. O uso de ferramentas do design thinking, como a criação de protótipos de caminhos de vida, ajuda o indivíduo a testar hipóteses antes de assumir compromissos definitivos.

Yale, em seus módulos de desenvolvimento pessoal, introduz a diferenciação entre vocação, carreira e prazer. A vocação está ligada ao chamado. A carreira exige estrutura, metas e entrega. O prazer é aquilo que pode ser vivido sem obrigação. Quando essas três dimensões são vividas com clareza, o resultado é uma vida mais estável e coerente. 

Reconhecendo os papéis

Nem tudo precisa se transformar em plano de negócio. Cantar, por exemplo, pode ser uma forma de servir espiritualmente, uma atividade profissional ou uma fonte de prazer pessoal. Tentar forçar todas essas interpretações ao mesmo tempo pode esvaziar a experiência e gerar frustração.

Missão não exige retorno financeiro. Carreira precisa de método. E o prazer merece ser preservado, sem a necessidade de aprovação externa ou de conversão em performance. Quando se confunde os papéis, o risco de esgotamento aumenta. Quando se reconhece a função de cada esfera, os limites se tornam mais nítidos e as decisões mais estratégicas. 

O que as gerações anteriores enfrentaram

Cada geração encontrou um tipo diferente de desafio ao entrar na vida adulta. Os baby boomers, educados em um mundo mais linear, valorizaram estabilidade e permanência. Muitos permaneceram décadas em uma mesma empresa, mesmo diante de crises econômicas e transformações tecnológicas.

Os millennials, que ingressaram no mercado após 2008, viram a dissolução dos antigos modelos de carreira. Enfrentaram desemprego estrutural, informalidade e a pressão por reinvenção constante. A criatividade tornou-se uma necessidade, e o cansaço, uma consequência.

A geração Z, por sua vez, cresceu com mais liberdade de escolha, mas também com menos referências. Tudo é possível, mas quase nada é claro. O excesso de alternativas, aliado à exposição constante nas redes, criou um ambiente em que é fácil se perder na tentativa de corresponder a múltiplas expectativas. 

Leveza não é ausência de estrutura

Em especial para mulheres jovens, o mercado ainda impõe modelos de liderança baseados em força visível e postura dura. Espera-se que o respeito venha da rigidez. Mas há um caminho mais sutil e igualmente eficaz: atuar com firmeza sem abrir mão da elegância.

Sensibilidade, escuta ativa e intuição não são obstáculos ao desempenho. São atributos que ampliam a inteligência relacional e ajudam a construir vínculos de confiança. A liderança que mais cresce no mundo hoje é aquela que combina técnica com presença. Clareza com humanidade. Racionalidade com percepção.

Manter a leveza diante de um mundo que exige entrega constante é uma escolha que exige preparo. Mas é justamente essa leveza que permite continuidade, resiliência e consistência ao longo dos anos. 

Uma decisão consciente

Conciliar missão, carreira e prazer é uma tarefa de longo prazo. Não existe fórmula única, mas há uma pergunta que pode guiar decisões difíceis: isso pertence a qual esfera da minha vida? Se for missão, preserve. Se for carreira, estruture. Se for prazer, aproveite sem culpa.

Essa divisão não limita a identidade. Ela protege. Protege o que é espiritual da lógica do mercado. Protege o que é profissional da contaminação por idealismos. E protege o que é leve do peso desnecessário da obrigação.

Separar não é romper. É respeitar. É reconhecer que uma vida coerente não precisa ser perfeita, mas precisa ser clara. E que é possível viver com direção, mesmo em tempos acelerados.

A geração que mais ouviu que poderia fazer tudo precisa agora aprender a escolher o que realmente importa. E isso começa pela decisão de não tentar viver tudo ao mesmo tempo, mas de viver cada coisa no seu tempo.

*Pryslla Oliveira é CEO da Total Group em Orlando (FL), psicóloga formada pelo Rollins College (Florida, USA), e fundadora da His Song Worship.

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