(AndreyPopov/Getty Images)
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Publicado em 17 de julho de 2025 às 10h00.
Por Julien Lafouge*
O Brasil entrou com consistência no mapa de prioridades de startups globais que atuam com inteligência artificial (AI). O país, que historicamente foi percebido como um mercado promissor, agora passa a ser considerado um elo estratégico na expansão internacional de empresas de tecnologia, não apenas pela dimensão de seu mercado, mas por sua capacidade de gerar valor real em inovação. Esse reposicionamento também reflete um cenário global em transformação: tensões geopolíticas têm levado empresas a reavaliar suas estratégias de localização, e o Brasil surge como uma alternativa estável, com alto potencial de inovação e desenvolvimento em IA.
A inteligência artificial vive uma fase de consolidação global. Startups que buscam escalar precisam mirar regiões que ofereçam mais do que consumo: precisam de ambientes que acelerem aprendizado, adaptação e relevância. E o Brasil, nesse contexto, reúne fatores que o tornam particularmente atrativo.
Com mais de 214 milhões de habitantes e um dos maiores índices de engajamento em plataformas digitais do mundo, o Brasil representa um dos maiores mercados consumidores de produtos baseados em imagem, vídeo e interação visual. Soluções com IA aplicada à edição de fotos, filtros inteligentes, automações criativas e personalização estética encontram no país não só uma base de usuários ativa, mas uma cultura digital que valoriza a imagem como forma de expressão pessoal e social.
Plataformas como Instagram e TikTok ocupam papel central no cotidiano digital brasileiro, impulsionando o crescimento de criadores, influenciadores e consumidores visuais. Esse comportamento cria um campo fértil para tecnologias que aprimoram experiências visuais, seja por meio de edições automáticas, avatares realistas, geração de conteúdo ou recomposição estética personalizada.
A adoção de novas tecnologias costuma ocorrer de forma acelerada no Brasil. Ajustes que levam trimestres em outros mercados podem ser feitos em semanas por aqui, criando um ambiente ideal para validar funcionalidades, coletar feedbacks em escala e refinar produtos com agilidade. Isso acelera a validação e o aprimoramento de soluções de IA focadas em imagem. Startups como a Stilingue, especializada em análise de sentimentos, demonstram como o país já impulsiona inovações relevantes no campo da inteligência artificial.
Além do mercado consumidor, o Brasil oferece um ecossistema técnico cada vez mais maduro. Engenheiros, designers e cientistas de dados formam uma base sólida de talento local, com custo competitivo e alta capacidade criativa, um diferencial importante para startups que priorizam eficiência sem renunciar à qualidade. Grandes players globais, como Google e Microsoft, já reconheceram esse potencial, estabelecendo centros de pesquisa e desenvolvimento no país para aproveitar tanto o talento local quanto o mercado consumidor em expansão.
Outro ativo singular é a diversidade do país. A pluralidade de contextos culturais, estéticos e sociais cria uma base valiosa para treinar modelos de IA mais justos, amplos e adaptáveis a diferentes realidades. "Arrisco dizer que uma tecnologia validada no Brasil tende a ser mais preparada para operar em escala global," diz Lafouge.
Comprovadamente, o crescimento do ecossistema de startups no Brasil também atrai a atenção internacional. Em 2024, os investimentos em startups da América Latina cresceram 37% em relação ao ano anterior, alcançando US$ 8,76 bilhões em 830 rodadas, a primeira alta anual desde 2021, segundo relatório da Sling Hub com o Itaú BBA. O Brasil se consolidou como o mercado mais aquecido da região, liderando 7 das 9 maiores rodadas da América Latina.
No segmento de inteligência artificial, destaque do ano, foram registradas 204 rodadas, das quais 57% envolveram startups com autonomia habilitada por IA, que atraíram US$ 1,29 bilhão em aportes. Esses números reforçam a posição do Brasil como centro da inovação na região e expandir para a região, hoje, representa mais do que abrir uma nova frente de receita. É uma decisão estratégica para startups que querem construir produtos mais robustos, sensíveis à diversidade e competitivos em mercados variados. O país oferece, simultaneamente, um campo de experimentação acelerada e um espelho do comportamento digital global.
Inclusive, sabe-se que reforçando essa direção, o governo brasileiro lançou um plano nacional de investimento de R$ 23 bilhões voltado para inteligência artificial, com o objetivo de posicionar o Brasil como um dos líderes globais na área.
Apesar do potencial, o país ainda enfrenta desafios de infraestrutura digital, como a necessidade de expandir a conectividade em áreas remotas, o que pode limitar o alcance de algumas soluções de IA. Além disso, a regulamentação do uso de inteligência artificial, especialmente em questões de privacidade de dados, ainda é um tema em evolução no país, o que pode representar um desafio para startups que buscam escalar suas soluções.
Para startups de IA globais que buscam escalar e inovar, o Brasil é um parceiro estratégico. Investir no país é uma oportunidade de acessar um mercado consumidor relevante, aproveitar um ecossistema técnico criativo e desenvolver soluções mais robustas e adaptáveis para um mundo cada vez mais diverso. Por seu mercado, seus talentos, sua cultura e sua capacidade de influenciar tendências, o país verde e amarelo se consolida como um dos polos naturais de inovação global.
*Julien Lafouge, Chief Financial Officer da Photoroom.
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