É imperativo que o Brasil reconheça a sucata de alumínio como um insumo estratégico (dzejdi/Thinkstock)
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Publicado em 18 de agosto de 2025 às 15h00.
Por Alfredo Veiga*
A indústria da reciclagem de alumínio no Brasil, um modelo de sucesso e referência global em economia circular, enfrenta um desafio singular. Nos últimos anos, testemunhamos um alarmante surto de exportação de sucata, que coloca em risco uma cadeia produtiva consolidada, sustentável e que gera renda para mais de 800 mil famílias.
Segundo dados da Comexstat, entre 2022 e 2024, os volumes exportados pelo Brasil cresceram 176%, um movimento que desequilibra a oferta e a demanda nacional pelo metal. Atualmente, essa movimentação foi impulsionada pelas recentes políticas tarifárias dos Estados Unidos, tornando o produto brasileiro excessivamente atrativo para o mercado norte-americano.
As consequências dessa nova dinâmica de exportação são severas, pois agravam um déficit estrutural de sucata de alumínio já existente no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), a indústria possui capacidade para processar cerca de 1 milhão de toneladas anuais de sucata, mas o mercado interno gera apenas 65% desse volume.
A intensificação da competição pela matéria-prima, agora disputada também pelo mercado externo, ameaça diretamente o setor. Um exemplo tangível desse impacto é a decisão da Novelis de fechar seu centro de coleta em Juiz de Fora (MG), uma consequência direta da escassez de material disponível para compra no mercado local. Este cenário prenuncia um risco real de redução da produção, o fechamento de mais unidades fabris, a utilização de alternativas mais intensivas em carbono e a desestruturação da cadeia de coleta.
As consequências dessa nova dinâmica de exportação de sucata são severas, pois agravam um déficit estrutural de sucata de alumínio já existente no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), a indústria possui capacidade para processar cerca de 1 milhão de toneladas anuais de sucata, mas o mercado interno gera apenas 65% desse volume.
Isso significa que, mesmo antes da escalada da exportação, todo o material disponível já era consumido internamente. A intensificação da competição pela matéria-prima, agora disputada também pelo mercado externo, ameaça diretamente o setor com a redução da produção, o fechamento de unidades fabris, a utilização de alternativas mais intensivas em carbono e a desestruturação da cadeia de coleta.
Sob a ótica ambiental, a exportação da sucata é extremamente prejudicial para a descarbonização da indústria brasileira. Ao agravar o déficit de matéria-prima, a prática impõe uma troca prejudicial: a substituição de sucata por alumínio primário, um processo que, segundo a ABAL, eleva em 95% tanto o consumo de energia quanto a emissão de gases de efeito estufa.
Esse aumento na pegada de carbono setorial pode comprometer a capacidade do país de atingir as metas estabelecidas em marcos regulatórios chave, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Isso porque a base do sistema de reciclagem passa a gerar um benefício ambiental que não é internalizado pelo Brasil, mas sim transferido para outras economias. Com isso, o país exporta sua sustentabilidade e assume o ônus de uma produção com maior pegada de carbono, caminhando na contramão de seus próprios objetivos ambientais.
Embora a indústria invista continuamente no fortalecimento da cadeia, desenvolvendo estratégias para ampliar o conteúdo reciclado e profissionalizando cooperativas, essas ações isoladas não são suficientes para reverter um desequilíbrio estrutural dessa magnitude. A solução definitiva exige uma resposta coletiva por todos os agentes da cadeia, apoiada também pelo governo federal.
É imperativo que o Brasil reconheça a sucata de alumínio como um insumo estratégico para a indústria nacional. Proteger este recurso é alinhar-se a um movimento global.
*Alfredo Veiga é vice-presidente de Metal da Novelis América do Sul.
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