A liderança educadora não é uma teoria distante, é o caminho atual para construir organizações resilientes (whyframestudio/Getty Images)
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Publicado em 15 de julho de 2025 às 10h00.
Por Denis Zanini*
A velha guarda da gestão está com os dias contados. Não se trata de uma ameaça, mas de uma constatação. Em um mundo onde a única constante é a mudança, o líder que apenas dita ordens ou controla processos está obsoleto.
O poder migrou, da hierarquia rígida para as redes fluidas, da imposição para a cocriação, do “manda quem pode, obedece quem tem juízo” para a hierarquia horizontal. Os novos tempos pedem outra coisa, um novo arquétipo, uma nova alma de comando: os líderes educadores.
Este é um dos mais potentes insights que emerge do dossiê "A Ascensão da Liderança Educadora", produzido pela HSM Management em colaboração com um timaço de especialistas. É um estudo aprofundado sobre o futuro do trabalho e o papel de quem lidera, e os principais pontos vou trazer aqui neste artigo.
Por anos, o comando-e-controle reinou soberano. Líderes viam funcionários como meras engrenagens de uma máquina, peças substituíveis em um mecanismo preditivo.
A máxima de Peter Drucker, de que "o desenvolvimento das pessoas deve ser o primeiro objetivo da gestão", foi muitas vezes esquecida. O resultado? Uma força de trabalho desengajada, pouco inovadora e, por vezes, adoecida.
Mas essa máquina pifou.
O capital humano, antes um recurso, agora é o epicentro da vantagem competitiva. O mundo atual exige propósito, autonomia e um palco para aprender e crescer, não apenas um banco de tarefas. O "analfabeto do século 21", profetizado por Alvin Toffler, já não é quem não sabe ler e escrever, mas sim quem "não sabe atualizar conhecimentos e habilidades".
Os talentos buscam cada vez mais ambientes onde possam florescer, onde o erro seja oportunidade de aprendizado e o conhecimento flua livremente. Organizações baseadas em habilidades não são um modismo, mas uma resposta concreta à fluidez organizacional necessária.
Se o líder não for um catalisador desse florescimento, os melhores simplesmente não ficarão. Migrarão para onde a curiosidade e o aprendizado são incentivados, onde a autenticidade é um diferencial competitivo.
Ser um líder educador vai muito além de ensinar no sentido tradicional. É um papel multifacetado, ligado ao sucesso sustentável.
Como sugere o dossiê, pense no líder como um farol: ele ilumina o caminho, inspira a jornada, mas não carrega o barco sozinho. Sua missão é fazer com que cada tripulante encontre sua própria luz.
Sua arte é a da facilitação. É quem libera o potencial latente em cada indivíduo, fazendo perguntas poderosas em vez de entregar respostas prontas.
Mais ainda, ele energiza.
É a força positiva que contagia, que inspira entusiasmo, confiança e propósito. Hugo e Miguel Nisembaum, da Mapa de Talentos, destacam a liderança energizadora como fundamental para superar a tempestade perfeita de obsolescência humana e esgotamento.
Essa energia se constrói através de microgestos virtuosos e da conexão propósito-ação, onde cada interação positiva aumenta a capacidade cognitiva.
É a capacidade de transformar o ambiente de trabalho em um lugar onde a vitalidade humana é regenerada, não esgotada. Não basta ser competente, é preciso ser inspirador.
E, fundamentalmente, ele conecta.
Em uma era "figital" (que integra as dimensões física, digital e social), liderar é orquestrar redes. Silvio Meira, cientista-chefe da TDS Company, fala do protagonismo do todo, uma evolução do tradicional protagonismo individual.
O líder educa porque entende que o valor está na capacidade de fazer aprender, e de aprender junto, catalisando o potencial coletivo em um ciclo virtuoso de operar, inovar e adaptar.
É a passagem da liderança transacional (que se foca em trocas e recompensas) para a liderança transformacional, que inspira a transcendência de interesses pessoais por uma visão coletiva.
Para o líder educador, a comunicação não é um adereço estratégico, e sim a ferramenta mais potente dessa nova liderança. Vania Bueno, especialista em governança e comunicação, defende que "quando falta comunicação, falta liderança".
É no processo comunicativo que o propósito é internalizado, compartilhado e ativado. É por meio da comunicação que o valor se torna cultura e que a estratégia encontra caminhos reais para se realizar.
A coerência se constrói na prática diária, não em discursos vazios ou murais corporativos. A transparência é compulsória. O que se esconde, vem à tona. E a confiança, uma moeda valiosíssima e cada vez mais rara, se desfaz rapidamente quando falta autenticidade e consistência.
Dados da Gallup são alarmantes: apenas 21% dos colaboradores estão engajados, e 70% da variação nesse engajamento depende da qualidade da liderança local. O principal motivo? A ausência de comunicação clara.
A liderança educadora não é uma teoria distante, é o caminho atual para construir organizações resilientes, adaptáveis e, acima de tudo, profundamente humanas. Ignorar essa transformação é aceitar a obsolescência.
A sustentabilidade humana - cuidar do bem-estar dos colaboradores, do ambiente emocional e cultural – não é uma questão de RH, mas de estratégia, um pilar que garante que haverá pessoas capazes de aprender e inovar.
Comece a sua própria reinvenção. Olhe para dentro, energize quem está ao seu lado e comunique com propósito. O mundo dos negócios agradece.
*Denis Zanini é jornalista, escritor e palestrante de autoconhecimento, protagonismo e educação reflexionária.
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