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Opinião: na era da IA, fator humano se torna maior diferencial competitivo

Reconhecer pessoas no ambiente corporativo vai além de um gesto de valorização; é uma estratégia poderosa para fortalecer a liderança, engajar equipes e criar uma cultura de crescimento constante

 (Freepik/Reprodução)

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Publicado em 21 de agosto de 2025 às 15h00.

Por Thomas Gautier*

Enquanto a tecnologia avança e a Inteligência Artificial redefine processos, um hábito das empresas se torna ainda mais estratégico: reconhecer pessoas. Trata-se de um gesto transformador. Enquanto quem é reconhecido se sente valorizado, quem reconhece se torna uma liderança mais próxima do time e ciente do seu próprio negócio.

Nos últimos anos, vimos a consolidação no mundo corporativo de uma visão mais do que centrada no cliente. Entendendo que seus impactos são múltiplos, as organizações foram além do CRM: tornaram-se people centric – abrangendo fornecedores, parceiros, comunidades e outras audiências, especialmente funcionários.

Nos anos 2000, movimentos e iniciativas que procuram encorajar as relações de bem-estar no ambiente de trabalho começaram a se popularizar globalmente. A Zappos, e-commerce de calçados comprada pela Amazon por cerca de US$ 1 bilhão, pagava US$ 2 mil aos que desejassem abandonar a empresa, após o treinamento inicial. A proposta? Priorizar quem estivesse satisfeito e, assim, disposto a se empenhar. A cultura como diferencial competitivo ganhava um case.

Até 2016, a IBM já havia capacitado 10 mil funcionários em design thinking. Ao mesmo tempo, desenvolveu em torno de 100 produtos usando a metodologia, baseada em escuta ativa e cocriação para solucionar problemas complexos. Um passo firme no conceito que valoriza a visão sistêmica e multidisciplinar no esforço de competitividade das corporações. Nesse período, em paralelo, marcas como Apple já reforçavam a linha de que, mais do que satisfazer, era preciso encantar.

O profissional também é cliente interno

Aos poucos, cresceu a percepção de que o profissional da empresa também é cliente. Um cliente interno, que precisa preservar saúde física e mental, estar satisfeito, ser ouvido, ganhar flexibilidade, informação e cuidado para se destacar. Uma crença acelerada a partir de 2020, com a pandemia.

Hoje, em tempos de IA, dashboards e automações, a valorização de soft skills é o que nos diferencia das máquinas. Reconhecer e celebrar pessoas, portanto, tem mais potência do que parece. É dar visibilidade ao que, no dia a dia, pode passar despercebido. De modo mais espontâneo que campanhas institucionais, é comunicar a toda a empresa os valores que encorajamos. Olhar para cada comportamento na organização com intenção estratégica, aprendendo com os que estão à nossa volta, independentemente do crachá.

O que as máquinas não podem replicar

Existem duas qualidades que a máquina, por enquanto, não replica. A primeira é a imaginar o que ainda não existe, testar caminhos e aprender com os próprios erros. A segunda são as relações interpessoais, que permitem crescer em colaboração. Daí a importância do pensamento criativo e das trocas genuínas.

Profissionais que recebem retorno efetivo dos colegas, por exemplo, têm cinco vezes mais chances de se engajar, de acordo com dados da Gallup. A combinação de feedback e reconhecimento semanal faz com que 61% dos colaboradores se sintam comprometidos com a empresa, contra 38% que recebem apenas feedback.

A transformação do foco no cliente para o foco nas pessoas

Mais do que distribuir prêmios por atitudes admiráveis, reconhecer pessoas é ouvir. Cada reconhecimento obriga lideranças a mergulhar na rotina, compreender sua dinâmica, observar os resultados além da simples lógica numérica, valorizar o que há de mais humano no negócio. Funciona com critérios claros, para crescimento coletivo e quando inspira novos caminhos.

Empresas são feitas de pessoas com quem podemos contar. Funcionários ou lideranças do mês, do ano, da década. Seja qual for o tempo de avaliação, reconhecer as pessoas em um mundo automatizado é a confiança de que podemos melhorar sempre – principalmente, agora, quando a tecnologia desafia as organizações a serem ainda mais humanas.

*Thomas Gautier tem duas décadas de experiência em grupos internacionais e assumiu como CEO do Freto em 2021. O executivo iniciou sua carreira na França e tornou-se CFO da Repom, no Brasil, em 2013. Em 2017, virou diretor-geral da Repom e, em 2018, passou a ser Head de Logística do Grupo Edenred, quando, em sua gestão, o Freto nasceu.

 

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