O impacto do Pix vai muito além de ser apenas uma nova forma de realizar pagamentos (FG Trade/Getty Images)
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Publicado em 21 de novembro de 2025 às 10h00.
Marcelo Buosi, cofundador e COO da QI Tech.
O sistema Pix completou cinco anos desde sua estreia e, no Brasil, deixou de ser uma promessa de modernização para se tornar o principal motor da economia digital brasileira.
Em um país historicamente marcado pela burocracia financeira, o pagamento instantâneo redefiniu a lógica de agilidade, inclusão e eficiência.
Hoje, mais de 170 milhões de brasileiros, praticamente todo adulto no país, estão conectados a uma infraestrutura de pagamentos que liquida recursos em poucos segundos, 24 horas por dia, sete dias por semana.
O resultado é um sistema financeiro mais dinâmico, competitivo e acessível, que já dita a forma como pessoas e empresas operam.
Os números confirmam: segundo o Banco Central, 76,4% da população brasileira utiliza o Pix de forma recorrente.
Em 2024, o sistema movimentou cerca de R$ 26,46 trilhões, distribuídos em 63,5 bilhões de transações, consolidando‑se como o meio de pagamentos mais difundido do país e um dos mais relevantes do mundo.
Mas o impacto do Pix vai muito além de ser apenas uma nova forma de realizar pagamentos.
Ele alterou a estrutura econômica do país ao acelerar a migração do dinheiro físico para o digital.
Isso reduziu o custo logístico e operacional de circulação de espécie e trouxe milhões de pessoas para dentro do sistema financeiro.
O aumento do número de pessoas utilizando suas contas de pagamento permitiu às instituições conhecerem melhor o comportamento financeiro dos clientes.
Esse novo fluxo de dados possibilitou a oferta de crédito, seguros e outros produtos com muito mais precisão e, principalmente, ampliou a competição no setor, reduzindo tarifas e aumentando o acesso.
À medida que os pagamentos se consolidaram como uma commodity, o diferencial competitivo deixou de estar na transferência em si e passou a estar nos produtos construídos sobre essa infraestrutura.
Um exemplo claro é o Pix Parcelado, que vem reconfigurando o crédito ao consumidor.
Nele, o recebedor recebe o valor integral à vista enquanto o pagador divide o pagamento em parcelas, reduzindo custos para o varejo, diminuindo a inadimplência e oferecendo ao consumidor uma alternativa mais barata e transparente ao cartão de crédito tradicional.
O Pix Automático avança ainda mais na dimensão concorrencial.
Antes restrito a grandes bancos e grandes empresas, o débito automático se torna acessível a qualquer negócio, reduzindo custos operacionais e democratizando modelos de cobrança recorrente.
Fintechs passam a disputar diretamente esse produto, ampliando a competição no sistema financeiro e permitindo que empresas de todos os portes ofereçam experiências mais eficientes, previsíveis e com menor inadimplência.
Pagamentos recorrentes deixam de ser um privilégio dos incumbentes e passam a ser uma funcionalidade aberta, pressionando todo o setor por eficiência.
No horizonte próximo, o Pix Internacional representa a nova fronteira.
As iniciativas do Banco Central apontam para um cenário no qual enviar dinheiro entre países será tão simples quanto fazer um Pix doméstico, com conversão automática, liquidação instantânea e rastreabilidade completa.
Essa infraestrutura tem potencial para colocar o Brasil na vanguarda global da interoperabilidade de pagamentos.
A evolução também se manifestou em segurança e governança.
O Banco Central tem atuado de forma decisiva para preservar a confiança do Pix, afinal, em um arranjo de pagamentos, a reputação é o ativo mais valioso.
Nos últimos anos, o regulador implementou um amplo conjunto de medidas: exigência de coincidência dos dados de titularidade com a Receita Federal, cadastro obrigatório de dispositivos, bloqueio automático de transações para chaves marcadas por fraude, limites ajustados por geolocalização, revisão do manual de penalidades e maior rigor na autorização e no requerimento de capital das instituições participantes.
Ao todo, mais de 20 medidas que reforçam a segurança do arranjo e garantem a estabilidade do sistema.
A combinação de eficiência, segurança e inteligência coloca o Pix em uma nova categoria.
Ele deixou de ser apenas um meio de pagamentos para se tornar a infraestrutura que sustenta a economia digital brasileira.
À medida que se integra a dados, crédito e automação, o Pix tende a atuar como um orquestrador financeiro, em que a fronteira entre pagar e financiar praticamente desaparece.
O Pix completou cinco anos, mas sua jornada está longe do fim.
Se a primeira onda foi sobre adoção, a próxima década será sobre explorar plenamente seu potencial.