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Opinião: startups precisam abraçar a cultura do erro – e andar mais como camelo do que unicórnio

A cultura do erro ainda é um tema delicado, mas os investidores valorizam quem a entende

Cultura do erro é sobre aprender com os tropeços e criar resiliência e consistência  (Cecilie_Arcurs/Getty Images)

Cultura do erro é sobre aprender com os tropeços e criar resiliência e consistência (Cecilie_Arcurs/Getty Images)

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Publicado em 15 de outubro de 2025 às 10h00.

Por Guilherme Skaf Amorim*

Em um mundo que celebra cases de sucesso e histórias de crescimento meteórico, é comum esquecer que a inovação raramente nasce de jornadas lineares. 

O mercado gosta de aplaudir startups que viraram unicórnios em tempo recorde ou que se tornaram referência quase da noite para o dia, trazendo os holofotes para suas grandes conquistas. 

Mas, nos bastidores, existe sempre uma trajetória menos glamourosa, feita de tentativas, aprendizados e ajustes constantes, que envolve experimentações e decisões difíceis.

Depois de mais de 18 anos acompanhando empreendedores, corporações e fundos de investimento em processos de inovação, posso afirmar que não existe atalho, e que errar não é apenas parte do jogo, mas sim, na maioria das vezes, o próprio motor que move a inovação. 

A cultura do erro ainda é, no Brasil, um tema delicado 

O medo de falhar e ser julgado paralisa muitos empreendedores e até executivos em grandes corporações. 

Mas é justamente ao errar que se descobrem os limites de uma ideia, as fragilidades de um modelo de negócio e as necessidades reais do mercado. 

Não se trata de romantizar os percalços, mas de reconhecer que a experimentação gera dados, e os dados, quando bem interpretados, são ativos valiosíssimos para quem quer construir soluções consistentes.

Errar é ainda mais relevante quando se fala de inovação

No ambiente de inovação aberta, onde startups e empresas tradicionais se encontram, o aprendizado com os erros ganha ainda mais relevância. 

Startups trazem velocidade, ousadia e novas perspectivas, enquanto corporações oferecem escala, experiência e processos bem definidos. O choque entre esses mundos pode gerar ruídos no primeiro momento, mas também é nele que surgem as oportunidades mais transformadoras. 

Muitas vezes, o primeiro piloto falha, mas esse insucesso inicial abre caminho para ajustes que tornam a próxima tentativa mais sólida e aderente às demandas do setor.

A trajetória de uma empresa não é feita apenas de vitórias, mas da forma como ela reage aos desafios. 

Por isso, quando avalio um projeto, não me prendo somente às métricas de crescimento ou ao tamanho do mercado, procuro entender a resiliência do time fundador, a capacidade de refletir sobre os erros e de se reorganizar diante das necessidades

O investidor confia mais nas empresas que aprendem com os erros

Para o investidor, equipes que demonstram terem aprendido com as falhas do passado transmitem muito mais confiança do que aquelas que tentam esconder tropeços. 

Isso porque extrair lições dos erros exige, acima de tudo, abertura. É reconhecer que nem sempre teremos todas as respostas, que o mercado é dinâmico e que o consumidor muda mais rápido do que nossas planilhas conseguem prever. 

Essa postura cria espaço para ajustes contínuos e para uma mentalidade de aprendizado permanente. Quem insiste em proteger a própria visão sem ouvir críticas ou se adaptar acaba limitando seu próprio potencial de crescimento

Vale lembrar que inovação não é apenas sobre tecnologia 

É sobre pessoas, processos e cultura. Uma empresa que lida com o erro de forma punitiva cria um ambiente de medo e estagnação. 

Já aquelas que encaram como parte da curva de aprendizado, estimulam times a arriscar, testar hipóteses e propor soluções que podem mudar de fato o jogo. E é nesse ambiente de confiança que a inovação floresce com mais força.

Dessa forma, inovar é aceitar a incerteza, aprender com cada resultado e seguir em frente com mais preparo. 

Se assemelha à postura do Camelo, muito mais do que a do Unicórnio, pois exige resiliência, constância e a capacidade de avançar de forma sólida, mesmo diante dos desafios do caminho. 

No fim das contas, é nesse trajeto, feito de aprendizados reais e decisões conscientes, longe de atalhos e certezas absolutas, que se constrói soluções capazes de deixar uma marca duradoura.

*Guilherme Skaf Amorim é Head da Rosey Ventures, Corporate Venture Capital do Grupo Marista. 

 

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