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Opinião: vivemos uma epidemia silenciosa da obesidade

Combater a doença com informação e tratamentos adequados é investir em um futuro melhor para a população e condições saudáveis para a longevidade

Obesidade (Getty Images/Getty Images)

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Publicado em 28 de fevereiro de 2025 às 10h51.

Última atualização em 28 de fevereiro de 2025 às 10h53.

Por Filippo Pedrinola e Guilherme Lima* 

A obesidade prejudica a qualidade de vida e é a principal inimiga da longevidade. Segundo pesquisa da revista The Lancet, divulgada em 2024, o número de adultos obesos no mundo dobrou desde 1990 e quadruplicou entre crianças e adolescentes. Ou seja, uma em cada oito pessoas no mundo é obesa, o que dá cerca de 1 bilhão de pessoas.

A doença é um dos principais fatores de risco para o surgimento de diversas comorbidades perigosas, como problemas cardiovasculares e ortopédicos, diabetes tipo 2, hipertensão e Acidente Vascular Cerebral (AVC). O excesso de peso também provoca câncer no esôfago, estômago, pâncreas, intestino, entre outros, o que reduz a expectativa de vida da pessoa obesa.

Março é o mês do combate à obesidade no mundo todo. Diante do cenário de uma epidemia global, a OMS (Organização Mundial da Saúde) instituiu a data em 2020, para disseminar informações e conscientizar a população sobre os malefícios da condição, visando também um apelo aos países em formular políticas públicas de prevenção e tratamento.

No Brasil, uma recente pesquisa da Fiocruz, de 2024, mostra dados alarmantes sobre a situação atual: 34% dos adultos vivem com obesidade em diferentes graus e, até 2044, metade da população do país será obesa. O aumento se deve por diversos fatores comportamentais, socioeconômicos, genéticos e psicológicos. O Ministério da Saúde destaca que as mudanças no padrão alimentar dos brasileiros, principalmente, contribuem para a escalada do problema.

Obesidade não é doença de preguiçoso, como apregoado em mitos e preconceitos. Ela é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal que acarreta severos prejuízos à saúde física e mental. Não se trata de ter força de vontade para vencer o excesso de peso, trata-se de ter o acompanhamento médico indicado.

Viver adoecido durante a velhice acarreta custos para o tratamento das enfermidades decorrentes do sobrepeso e da obesidade. Da mesma maneira, prejudica o bem-estar e impede a pessoa de desfrutar momentos importantes da vida devido às condições que enfrenta. No ponto em que estamos em relação ao desenvolvimento científico da medicina, a população poderia viver por mais de 100 anos. No entanto, atualmente apenas alguns têm essa oportunidade. 

A expectativa de vida no Brasil é de 76,4 anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em 2024. Apesar disso, os idosos do nosso país convivem com problemas de saúde adquiridos por meio do estilo de vida que levam, já que isso altera o funcionamento genético das pessoas.

As pessoas obesas, em sua grande maioria, estão fadadas a envelhecer mal, principalmente se não buscarem tratamento adequado a tempo. Não obstante, a doença tira um tempo de vida considerável do indivíduo, não só em anos, mas da convivência agradável e com bem-estar. 

É comum surgir, em quem carrega a condição, problemas psicológicos, emocionais e transtornos alimentares. Distúrbios respiratórios, dores musculares e nas articulações, fadiga, dificuldades para dormir e machucados na pele são mais alguns dos sintomas. A verdade é que não é justo que alguém viva e envelheça assim. 

A conscientização sobre a obesidade é uma urgência. É necessário que o poder público, gestores de saúde e profissionais da área de modo geral utilizem todos os mecanismos de comunicação existentes para levar o conhecimento dos riscos e consequências de estar ou se tornar obeso. 

As pessoas precisam de mais acesso a informações úteis e gratuitas para prevenir e tratar esse mal. Assim, poderão investir em um futuro melhor, vivendo por mais tempo para aproveitar tudo que a vida tem a oferecer com bem-estar.

O comprometimento das autoridades públicas em saúde no combate à doença é crucial. Nesse ponto a sociedade não pode ter preguiça. Ao investir em novos tratamentos, principalmente os preventivos, o poder público economiza com futuros cuidados às comorbidades. Isso evitará também um colapso no sistema de saúde do país, porque se continuarmos assim, nossa população viverá adoecida. A luta contra essa epidemia global depende de todos nós.

Filippo Pedrinola, médico endocrinologista, é Doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP, membro da “The Endocrine Society (EUA)”, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira de Estudos sobre Obesidade (ABESO). 

Guilherme Lima, é especialista em genética, bioquímica e fisiologia pela Harvard Medical School (EUA) e CEO fundador da Soul 8, clínica de saúde e longevidade

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