A redução do custo do crédito não depende exclusivamente das autoridades monetárias (Thomas Barwick/Getty Images)
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Publicado em 4 de junho de 2025 às 10h00.
Por Ezequiel Wilbert*
Com a Selic em 14,75% ao ano, o Brasil permanece entre os países com o crédito mais caro do mundo. Para empresas que dependem de capital para expandir, manter o fluxo de caixa ou mesmo sobreviver, essa taxa representa uma barreira quase intransponível. O que poucos percebem, no entanto, é que esse custo não decorre apenas da política monetária: ele também é resultado direto da forma como as empresas se apresentam ao mercado.
É comum observar taxas finais que ultrapassam 4% ao mês, valor que, na prática, inviabiliza qualquer operação de médio ou longo prazo. No entanto, há casos concretos em que essa taxa foi reduzida para patamares próximos de 1,5% ao mês. O que mudou? A qualidade da informação. Empresas que passaram a apresentar dados financeiros de forma clara, confiável e auditável conquistaram mais credibilidade e, com isso, melhores condições de negociação junto a instituições financeiras.
Em momentos de crise, porém, ainda é frequente ver empresários adotando caminhos que comprometem essa confiança: omissão de passivos, manipulação de indicadores ou o uso de liminares para “limpar o nome” sem resolver os problemas estruturais. Essas práticas, além de ineficazes, têm efeito reverso. O risco percebido aumenta e, com ele, os juros.
Esse fenômeno tem nome: é o preço da insegurança. O mercado até aceita risco; o que ele não aceita é a incerteza. Quando há opacidade nas informações, a resposta é imediata: juros mais altos, menos crédito e condições mais duras. Já quando há clareza, consistência e governança, os bancos e fundos se mostram dispostos a negociar, o que amplia o acesso a capital e reduz seu custo.
Os números ajudam a dimensionar o problema. Em março deste ano, o país registrou 7,3 milhões de empresas inadimplentes, segundo a Serasa Experian. Em 2024, 2,4 milhões de empresas fecharam as portas — alta de 12% em relação ao ano anterior, segundo o Mapa de Empresas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. São sinais de uma fragilidade estrutural que vai além da conjuntura econômica: decorre, em grande parte, da ausência de processos de gestão capazes de sustentar uma relação madura com o mercado financeiro e o empreendedorismo local.
No último relatório Doing Business, do Banco Mundial, o Brasil ocupava apenas a 124ª posição entre 190 países na facilidade para se fazer negócios. Em acesso ao crédito, a colocação era a 104ª. Esses dados não surpreendem. A insegurança jurídica, a burocracia e, sobretudo, a baixa qualidade das informações financeiras oferecidas por muitas empresas ajudam a explicar o custo elevado de se empreender no país.
Quando uma empresa passa a tratar sua comunicação financeira com o mesmo rigor com que cuida da produção, da logística ou do atendimento ao cliente, ela se torna mais atrativa, mais previsível e, por consequência, mais financiável. A transparência, nesse caso, deixa de ser apenas um valor e passa a ser uma alavanca de competitividade.
A redução do custo do crédito não depende exclusivamente das autoridades monetárias. Ela começa no nível micro, com a forma como cada empresa escolhe se apresentar ao mercado. E, nesse contexto, transparência e gestão são os ativos mais valiosos.
*Ezequiel Wilbert é sócio da Safegold, consultoria especializada em reestruturação e performance empresarial.
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