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Publicado em 30 de maio de 2025 às 10h00.
Por Guilherme Machado*
Vivemos uma era em que a tão comentada IA é tratada como a próxima grande alavanca de produtividade nas empresas, mas essa conta ainda não fecha. Apesar dos avanços acelerados e dos crescentes investimentos, os ganhos efetivos frequentemente ficam aquém das expectativas. O entusiasmo esbarra em uma realidade frustrante para muitos líderes, visto que as promessas são gigantes, mas os resultados concretos demoram a aparecer. Esse cenário reflete um fenômeno conhecido como paradoxo da produtividade, que, apesar de já observado em outras revoluções tecnológicas, como a chegada do computador, ressurge com força na era da IA.
A ideia de paradoxo da produtividade foi apresentada em 1987 pelo economista Robert Solow e partiu de uma observação de que, apesar dos grandes investimentos de TI e avanços tecnológicos, não há impacto significativo nas estatísticas de produtividade. A diferença agora é a escala, a velocidade e a urgência com que ele se manifesta no contexto da IA. Além disso, como nas vezes anteriores, a causa do problema não está apenas na tecnologia em si, mas na capacidade humana e organizacional de utilizá-la de forma estratégica e eficaz.
Diferentemente da fluência digital – relativa à simples familiaridade com ferramentas digitais –, o termo refere-se à ambição e habilidade de pessoas e organizações para adotar e aplicar tecnologias de forma estratégica na resolução de problemas corporativos. Trata-se da capacidade de usar a tecnologia com propósito, criatividade e pensamento crítico, mas, principalmente, em ter iniciativa própria para conectar habilidades, tecnologias disponíveis e desafios do negócio. OGartner já conseguiu evidenciar, em pesquisa feita nos EUA, em 2024, que trabalhadores que possuem destreza digital podem ser até 95% mais produtivos, se comparados com suas contrapartes.
Sem esse tipo de competência, as empresas correm o risco de transformar tecnologias disruptivas em ferramentas subutilizadas, que geram pouco valor real. E não por falha da IA, mas por falha de cultura, processos e lideranças que não preparam suas equipes para navegar nesse novo cenário. Em outras palavras, a tecnologia está disponível, mas frequentemente não gera valor porque os colaboradores não têm repertório, confiança ou incentivo para usá-la com propósito.
Os principais casos de uso da IA generativa, especificamente para trabalhadores do conhecimento, concentram-se em gerar conteúdos, sumarizar ou encontrar informações. O ganho de produtividade gerado a partir disso, na maioria das vezes, acaba sendo reinvestido em mais trabalho administrativo, como responder a mais e-mails ou gerar relatórios mais rápidos. No entanto, para que os trabalhadores realmente tenham produtividade alavancada de maneira a maximizar valor, é necessária a construção de habilidades para que a IA seja utilizada de forma tão efetiva que ajude a removê-los do loop de trabalho administrativo, ampliando suas capacidades para se concentrarem em pensamento e atividades inovativas.
Na tentativa de “surfar o hype” da IA, muitas empresas pulam etapas críticas, como o redesenho de processos, o engajamento das lideranças intermediárias e a formação continuada dos times. Superar o paradoxo da produtividade exige uma mudança cultural, e não apenas tecnológica. Algo muito mais profundo e que passa, inevitavelmente, pelo desenvolvimento da destreza digital em todos os níveis organizacionais, incluindo ações coordenadas entre áreas como TI, RH e lideranças executivas.
Na prática, isso significa investir não somente em trilhas de capacitação integradas a novas ferramentas, como também criar desafios e incentivos para que colaboradores tenham a ambição para resolver problemas do negócio a partir das habilidades adquiridas. A ideia é preparar os times para extrair valor da tecnologia de forma alinhada às metas das companhias e do mercado como um todo. Como resultado, vemos iniciativas aceleradas com IA generativa, aumento da autonomia em processos analíticos e maior engajamento na resolução de problemas complexos.
A inteligência artificial tem, sim, o potencial de ser uma alavanca poderosa de produtividade, mas só onde há maturidade para usá-la com intenção. Desenvolver a destreza digital das equipes é o caminho para romper o paradoxo da produtividade, que não é uma falha da tecnologia, mas da forma como a usamos. Transformar o potencial tecnológico em vantagem competitiva exige muito mais do que orçamento e infraestrutura, requer preparo humano e visão estratégica.
O futuro do trabalho não será apenas digital, mas digitalmente destro. A partir do momento em que CEOs, CIOs, CHROs e demais executivos entenderem essa nuance, eles estarão à frente não só da transformação tecnológica, mas da verdadeira transformação organizacional. A que de fato prepara seus times para colher os frutos da IA, e não apenas para seguir a onda.
*Guilherme Machado é especialista em Inteligência de Mercado no segmento B2B na Positivo S+, negócios de serviços gerenciados de TI da Positivo Tecnologia.
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