Varejistas precisam avaliar como novas tecnologias podem beneficiar seus negócios (jittawit/Getty Images)
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Publicado em 2 de julho de 2025 às 10h00.
Por Fabiano Nagamatsu*
O avanço da tecnologia tem transformado a forma como os pontos de venda (PDVs) supermercadistas entendem e otimizam a jornada dos consumidores. Diversos supermercadistas têm explorado o uso de sensores acoplados a câmeras estratégicas e algoritmos de inteligência artificial para monitorar o comportamento dos consumidores em tempo real. Essa combinação permite a criação de mapas de calor que identificam as áreas de maior movimentação e os produtos que mais atraem a atenção.
A rede de varejo japonesa MUJI, por exemplo, equipou suas lojas com o sistema FootfallCam, que utiliza câmeras de segurança existentes para monitorar mapas de calor e rastrear as jornadas de compra dos clientes. Em outro caso, a 2nd Avenue Thrift Superstore (EUA) implementou o sistema FootfallCam Centroid, aproveitando as câmeras de segurança para monitorar mapas de calor e rastrear as jornadas de compra dos clientes, oferecendo informações detalhadas para aprimorar a experiência de compra.
Já a Watsons, uma das maiores redes de varejo de saúde e beleza da Ásia, implementou o sistema FootfallCam 3D Pro2 em suas lojas em Hong Kong, Taiwan, Cingapura, Malásia, Filipinas, Indonésia, Tailândia e Vietnã. Já a Hometime, especialista em sofás e camas, implantou contadores de passos 3D em seus showrooms Dreams na Irlanda e no Reino Unido. A tecnologia monitora as jornadas de compra dos clientes dentro da loja, fornecendo aos gestores informações para otimizar os layouts das lojas.
Além disso, tecnologias como reconhecimento de íris e visão computacional avançada possibilitam identificar para onde os consumidores olham e quais produtos despertam maior interesse. Dessa forma, os estabelecimentos podem criar zonas de destaque, otimizando a exposição de produtos de alta demanda e promovendo ofertas de maneira mais eficaz.
Desse modo, o potencial o uso destas novas tecnologias no varejo vive uma tendência de alta com o mercado global de IA no varejo projetado para crescer de US$ 7,14 bilhões em 2023 para US$ 85,07 bilhões até 2032, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 31,8%. Estima-se que até 2028, o mercado global de soluções de IA no varejo alcance US$ 31 bilhões, um crescimento de 190% em relação aos atuais US$ 10,7 bilhões.
Segundo a KPMG, a adoção da IA no varejo deve aumentar de 33% para 85% das empresas nos próximos três anos, refletindo uma percepção crescente da IA como uma alavanca estratégica para competitividade e eficiência. Além disso, a IA está sendo cada vez mais utilizada para automatizar processos e personalizar a experiência do cliente, com 94% dos varejistas desejando implementar IA ainda este ano.
De fato, essas tecnologias não só auxiliam no mapeamento do comportamento dos consumidores como também geram informações valiosas para a gestão dos PDVs. A análise dos dados coletados permite identificar produtos com baixa saída e criar estratégias para otimizar a visibilidade. Além disso, há a possibilidade de ajustar os layouts para melhorar o fluxo de clientes e promover ações promocionais antes que os produtos alcancem a data de vencimento.
Essa personalização da experiência de compra não só aumenta as vendas, mas também aprimora o atendimento, já que os colaboradores podem focar nos produtos mais procurados e garantir que estejam sempre disponíveis e acessíveis.
Entretanto, a coleta e análise desses dados requerem cuidados rigorosos com a privacidade e a ética. A lei no Brasil determina que as empresas adotem políticas de transparência e consentimento, além de técnicas de anonimização e criptografia para garantir que os dados sensíveis dos consumidores permaneçam protegidos.
Dessa forma, a conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é essencial para evitar violações e garantir o uso responsável da inteligência artificial e da visão computacional. Além disso, a adoção de sistemas de blockchain reforça a segurança, evitando vazamentos de informações sensíveis.
Mas, como diz o clichê, “Nem tudo são flores” e apesar das vantagens evidentes, a implementação dessas tecnologias em redes de médio e pequeno porte ainda enfrenta barreiras significativas. O custo de investimento inicial e a complexidade dos processos de integração são alguns dos principais obstáculos. Para superá-los, é preciso adotar soluções modulares, que possam ser implantadas gradativamente conforme a necessidade.
Outro desafio é a resistência cultural dentro das organizações, especialmente em empresas familiares. Para mitigar essa resistência, é fundamental investir em treinamento e comunicação clara, garantindo que colaboradores compreendam os benefícios e as funcionalidades das novas ferramentas.
Além disso, a escassez (e o custo) de mão de obra qualificada é uma realidade que pode dificultar a adoção dessas tecnologias. Portanto, buscar parceiros com experiência comprovada e capacitar a equipe interna são estratégias fundamentais para garantir o sucesso dos projetos.
Assim, cabe aos varejistas avaliar como as novas tecnologias podem beneficiar seus negócios, pois, embora os desafios sejam consideráveis, o investimento em inovação tecnológica se mostra essencial para manter a competitividade no setor.
*Fabiano Nagamatsu é CEO da Osten Moove, empresa que faz parte da Osten Group, uma Aceleradora Venture Studio Capital focada no desenvolvimento de inovação e tecnologia.
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