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A empresária que ajudou a promover Boca Rosa e Mari Maria agora cria fundo para novas marcas

Após dar visibilidade para marcas de beleza que começaram no digital e ganharam o mercado, Simone Sancho quer ajudar grandes empresas a investirem em pequenos negócios

Simone Sancho, empresária e CEO da Belong Be: "Você precisa ser louco para empreender, porque você não tem garantia, mas é a resiliência que vai te levar adiante" (Belong Be/Divulgação)

Simone Sancho, empresária e CEO da Belong Be: "Você precisa ser louco para empreender, porque você não tem garantia, mas é a resiliência que vai te levar adiante" (Belong Be/Divulgação)

Publicado em 6 de julho de 2025 às 08h06.

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"Você precisa ser louco para empreender, porque você não tem garantia, mas é a resiliência que vai te levar adiante", afirma Simone Sancho, que empreende há mais de 10 anos e hoje é fundadora e CEO da Belong Be, empresa que nasceu para apoiar pequenas marcas de beleza brasileiras no varejo.

Desde o início, a Belong Be se dedicou a ajudar marcas independentes, as chamadas DNVBs (Digitally Native Vertical Brands), aquelas que nasceram no ambiente digital, mas que possuem uma forte presença física, controlando toda a cadeia de valor - desde a fabricação até a experiência do cliente.

"A competição das marcas de beleza nacionais com as internacionais é desleal, por isso criei um ponto de apoio para empreendedores menores, oferecendo desde consultoria até uma estrutura que eles não teriam acesso de outra forma", conta Sancho.

Foi essa visão que a levou a conquistar uma parceria estratégica com o Grupo Malwee em 2021, quando a gigante do varejo de moda investiu na Belong Be, apoiando seu crescimento e dando espaço para marcas independentes no mercado.

Em 2024, Sancho recompra a marca que criou e agora com um tamanho maior, a empreendedora avança com mais uma aposta no mercado brasileiro: a criação de um fundo de investimento.

"Criamos um playground para essas empresas testarem suas ideias e se prepararem para o próximo nível", diz Sancho.

A proposta do fundo é atrair investimentos do mercado de grandes companhias e utilizar a curadoria da Belong Be para identificar e selecionar as pequenas empresas de beleza que receberão os recursos.

Para Sancho, é fundamental para a economia nacional o investimento de grandes empresas em marcas que estão começando no mercado.

"O verdadeiro empreendedorismo está na capacidade de dar espaço para os outros e de aprender com os erros ao longo do caminho", diz a empresária.

Em entrevista à EXAME, a empresária da Belong Be conta como começou a sua aposta no mundo do empreendedorismo e as expectativas com o negócio que faturou R$ 8 milhões no último ano.

Uma empresária que nasceu no ambiente CLT

Um empreendedor pode ‘nascer’ no meio CLT. Foi assim com a história de empreendedorismo de Sancho. Ela começou como trainee no Unibanco, onde teve a oportunidade de trabalhar diretamente com presidentes e vice-presidentes da instituição. “Esse período foi essencial para entender a dinâmica empresarial e as estratégias de grandes corporações”, afirma Sancho.

Mas aos 25 anos, enquanto trabalhava em uma seguradora, Sancho foi convidada para participar de um novo empreendimento no setor de programas de fidelidade, o que foi um divisor de águas em sua carreira.

“Foi nesse ambiente de altos executivos e decisões estratégicas que me tornei aos 25 anos uma das fundadoras da NetPoints, uma empresa de fidelidade”, diz Sancho que era única mulher sócia da empresa.

A experiência nesse mercado financeiro e corporativo foi determinante para que ela tivesse um primeiro grande sucesso empresarial, ao vender sua participação na NetPoints em 2011, avaliada na época em 125 milhões de reais.

“Essa primeira venda não só me deu a base financeira para continuar, mas também a certeza de que, com visão e resiliência, eu poderia criar e transformar novos negócios”, afirma Sancho.

Entrando no mercado de beleza de cabeça

A transição para o universo da beleza aconteceu de forma inusitada. Em 2012, a Sephora Brasil estava tentando lançar seu programa de fidelidade, o "Beauty Club", e precisava de uma pessoa com conhecimento em fidelidade, experiência com CRM, e capacidade de conduzir projetos de grande escala, e para isso precisava de alguém que falasse inglês e muito bem o francês.

“Eu não queria voltar para trabalhar como funcionária queria continuar empreendendo. Mas fui convencida pela CEO e vi uma oportunidade de conhecer o setor de beleza, que tem um grande potencial no Brasil”, diz Sancho.

Ela começou como gerente de CRM na Sephora e, ao longo de 7 anos, cresceu para cargos mais estratégicos, incluindo a posição de executiva Latam de digital. Até que em 2019 ela viu uma revolução silenciosa nas marcas de beleza independentes, como a Fenty de Rihanna e a Drunk Elephant.

“Esse insight me fez perceber uma oportunidade no mercado de cosméticos: apoiar marcas pequenas e independentes a crescerem de forma autêntica e sustentável”, diz Sancho que em 2019 liderou a primeira Animation da Sephora, que é quando a empresa levou produtos de blogueiras para a vitrine.

“Isso nunca tinha acontecido na Sephora em lugar nenhum do mundo. Colocamos na vitrine do Brasil quatro influenciadoras: Mari Maria, Bruna Tavares, Chata de Galocha e Bianca Boca Rosa. O sucesso de três dessas marcas todo mundo hoje já conhece”, diz Sancho.

Ao ver oportunidade de investimento nessas marcas nacionais, Sancho decidiu sair da Sephora em 2019, mesmo estando grávida de três meses, para criar a Belong Be, uma plataforma que conecta marcas de beleza independentes com consumidores.

"A competição das marcas nacionais com as internacionais é desleal, por isso criei um ponto de apoio para empreendedores menores, oferecendo desde consultoria até uma estrutura que eles não teriam acesso de outra forma", afirma a executiva que busca com o seu negócio 'remover barreiras'.

A Belong Be foi oficialmente criada em 2021, em meio a pandemia. O investimento inicial veio de capital próprio, cerca de R$ 3 milhões, para a empresa começar. "Foi um ano estruturando e superando os desafios logísticos e financeiros”, diz Sancho que teve a ideia de apoiar marcas pequenas de cosméticos que não tinham espaço no varejo tradicional em um happy hour na Sephora.

Um dos desafios foi a logística dos produtos em grande escala. Muitas marcas pequenas não tinham capacidade para gerenciar o estoque e a distribuição de seus produtos de forma eficiente. “São marcas quase artesanais e com volume menor de produção”, afirma Sancho.

Como solução, ela teve que adaptar a operação e decidiu montar um centro de distribuição (CD) em São Paulo.

Com o perfil das empresas e a pandemia, o foco da Belong Be passou a ser um varejo virtual em vez de um marketplace, o que o mercado chama de DNVBs (Digitally Native Vertical Brands), que se refere a marcas criadas no ambiente digital e que, embora tenham uma forte presença online, também controlam toda a cadeia de valor: desde a fabricação até a venda e a experiência do cliente no mundo físico. A empresa que começou na internet ganhou fama com um press kit que chegou para 250 influenciadores e imprensa.

“Isso garantiu uma visibilidade impressionante para a plataforma, que já começou com 52 marcas e, hoje, conta com 127 marcas ativas”, afirma Sancho que contou como a sociedade de Amanda Coelho, Cintia Ferreira, Saulo Figueiredo, Bruna Tavares e Daniele da Mata.

A venda para o Grupo Malwee - e a recompra

O avanço do negócio não parou por aí: em outubro de 2021 a Belong Be foi comprada pelo Grupo Malve, uma das maiores empresas de moda do Brasil. A empresa entrou em uma holding chamada BB&Co (Basic, Beauty and Content), dividindo o espaço com a Basico&Co, de moda básica. A empresa tinha como objetivo faturar 60 milhões em 2022, com 50 funcionários.

“Vendemos 63% da empresa, e mesmo eu sendo minoritária eu tinha o poder de decisão corporativa por até cinco anos. Em nenhum momento eu fiquei distante da marca”, diz Sancho que recomprou 100% da empresa em janeiro de 2024.

“A Malwee foi absolutamente justa na entrega. Eu tenho uma admiração profunda pelo Grupo por ter feito esse caminho. Acho que precisamos exaltar mais esse movimento, porque precisamos ver mais empresas nacionais e gigantes apoiando outras menores”, diz Sancho.

Ainda sobre o controle do Grupo Malwee, a Belong Be abriu em 2023 a primeira loja em São Paulo, no bairro da Oscar Freire, que reúne mais de 100 marcas de beleza, um café e o primeiro laboratório de batons da América Latina, em que as clientes podem fazer o próprio batom, escolhendo cor, aroma e colocando o próprio nome.

"Fomos além do varejo tradicional. Queríamos oferecer uma vivência única, onde as pessoas pudessem criar seus batons do zero, escolhendo cores e fórmulas, tudo dentro de um ambiente imersivo e aprovado pela Anvisa", diz Sancho.

A nova aposta do ano: um fundo de investimento para novas marcas

Com o tempo, Sancho conta que a Belong Be se transformou em um ecossistema, incluindo a criação do ‘Instituto de Beleza Independente’ e da ‘Bure University’.

“Criamos o instituto e a universidade voltada para o varejo de beleza para dar aos nossos parceiros as ferramentas e o conhecimento necessários para crescerem de forma sustentável no mercado de varejo", diz Sancho.

Assim como a Belong Be teve investimento de um grande grupo de moda para crescer, neste ano Sancho aposta na criação de um fundo de investimento, que irá apoiar empreendedoras a escalar seus negócios.

"O fundo será um 'playground' para essas empresas testarem suas ideias e se prepararem para o próximo nível", diz a empresária.

A proposta do fundo é atrair investimentos do mercado e usar a curadoria da Belong Be para fazer o "sourcing" (identificação e seleção) das empresas que receberão os recursos.

Com mais de 30 funcionários e faturamento de R$ 8 milhões, Sancho também tem a expansão das lojas como plano para o negócio. No próximo ano a empresária prevê franquear o modelo da empresa e investir em novos mercados, incluindo Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

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