Monica Delgado
Redatora
Publicado em 16 de setembro de 2025 às 09h51.
Última atualização em 16 de setembro de 2025 às 13h21.
Desde criança, Monica Delgado tinha curiosidade pelo mundo. “Naquela época não tinha internet, então eu folheava o atlas por horas. Sempre quis entender como era viver em outros lugares”, lembra.
Esse hábito virou metáfora de uma carreira marcada por movimentos internacionais, fusões corporativas complexas e escolhas que exigiram sensibilidade para diferentes culturas.
Com mais de 30 anos de experiência em multinacionais, Monica Delgado construiu uma carreira internacional que a levou por seis países — Holanda, Angola, Colômbia, Chile, França e Suíça — conduzindo transformações organizacionais, integrações culturais e agendas de mudança em larga escala.
Sua passagem pela ENGIE, multinacional francesa de energia, marcou especialmente essa trajetória, onde liderou projetos de cultura e pessoas em contextos de alta complexidade, tanto na América Latina quanto no cenário global.
Hoje, de volta ao Brasil, traz consigo não apenas uma bagagem internacional, mas a convicção de que a transformação cultural só acontece quando pessoas e cultura caminham juntas.
Formada em Matemática, Monica iniciou sua trajetória em uma multinacional americana no Brasil.
Pouco tempo depois, ingressou em um banco holandês, onde participou de uma das maiores integrações bancárias do país, experiência que despertou ainda mais seu interesse em processos de fusões e mudanças culturais.
Foi nesse contexto que surgiu a primeira oportunidade de expatriação. Em 2004, mudou-se com a família para Amsterdam, onde viveu por cinco anos.
“Eu já era casada, tinha um filho pequeno e meu marido era empreendedor. Foi uma decisão difícil, que precisou ser ponderada em família, avaliando juntos os desafios e oportunidades.”
Na Holanda, Mônica enfrentou a crise financeira de 2008, participando ativamente do spin-off do banco na Europa — um marco que lhe ensinou a conduzir pessoas em meio às incertezas.
De volta ao Brasil em 2009, decidiu aprofundar-se academicamente. O mestrado em Cultura levou-a a Angola, onde pesquisou comunicação e liderança em contextos multiculturais.
Logo depois, recebeu um convite de um conglomerado colombiano para liderar Recursos Humanos na América Latina. Chegou a Medellín em 2010 sem falar espanhol.
“Fui convidada pelo histórico que já tinha em processos de transformação, mas logo percebi que adaptação cultural exige respeito à cultura local e aprendizado rápido — e descobri que ser genuína, aceitando a vulnerabilidade, é o que realmente gera conexão.”
Em 2015, aceitou o desafio de uma multinacional francesa de energia para liderar Pessoas e Cultura na América Latina, com sede em Santiago, Chile.
A experiência lhe deu uma visão ampla sobre diversidade latino-americana e integração regional, que abriram caminho para sua transferência à matriz em Paris, onde assumiu a agenda global de integração cultural em projetos de M&A.”.
“Foi nesse momento que percebi de forma definitiva que fusão de empresas não se sustenta sem integração cultural. Cultura não é detalhe: é a espinha dorsal que define o sucesso ou fracasso de qualquer fusão.
Após Paris, Mônica seguiu para Zurique, na Suíça, onde ingressou em uma empresa israelense com forte atuação no continente africano.
O propósito era claro: melhorar vidas em regiões onde água, energia e segurança alimentar ainda são escassas.
“O retorno ao Brasil, em março deste ano, tem sido desafiador. Precisei reaprender códigos sociais e profissionais e, ao mesmo tempo, lidar com o fato de que também não sou a mesma depois de 21 anos de trajetória internacional.”
Fiel à própria estratégia de enfrentar momentos de transição com aprendizado, buscou novamente formação e ingressou no Programa Avançado para CEOs, Conselheiros e Acionistas (SEER), da Saint Paul.
“O SEER me trouxe algo além do conteúdo técnico: ofereceu espaço para reflexão crítica sobre o mundo contemporâneo, mostrou que as decisões não podem ser tomadas apenas pela razão e ampliou minha consciência sobre o papel das emoções e da sensibilidade na liderança”, conta Monica.
“O módulo em Ouro Preto teve impacto especial. Ali percebi que a brasilidade é um ativo de liderança”, Delgado comenta sobre uma das aulas do SEER.
"Nossa criatividade, empatia e flexibilidade, tantas vezes interpretadas como fragilidade, são na verdade diferenciais poderosos não somente para lidar com o mundo contemporâneo, mas também para conduzir transformações em qualquer parte do mundo”, ela complementa.
Para Mônica, escuta ativa é a competência que diferencia líderes em contextos multiculturais. “Mapas culturais podem orientar, mas não substituem a sensibilidade de estar presente, ouvir com respeito e perceber silêncios, expressões e emoções. Essa escuta genuína cria conexões reais e sustenta decisões estratégicas.”
Depois de duas décadas entre fusões, países e culturas, Monica resume sua visão em uma frase que carrega a mesma curiosidade da infância com o atlas:
“A transformação começa quando nos permitimos — a pensar diferente, sentir mais, escutar de verdade e abraçar o novo. É nesse espaço que crescemos e fazemos a diferença.”