Uma pesquisa recente da Infojobs mostrou que 90% dos profissionais brasileiros querem trocar de emprego por insatisfação - e isso tem muita relação com a chamada 'gaiola de ouro' (MicroStockHub/Getty Images)
Repórter
Publicado em 23 de setembro de 2025 às 10h37.
Você já conheceu alguém com cargo alto, salário generoso e benefícios invejáveis — mas que, no fundo, se sentia preso? Essa é a chamada “gaiola de ouro”, dilema vivido por muitos profissionais que conquistaram estabilidade, mas perderam o brilho pelo trabalho.
Mirella Franco, autora do livro Carreira com Valuation, conhece bem essa sensação. Depois de anos no mercado farmacêutico, percebeu que sua trajetória não estava sob seu controle. Foi quando decidiu aplicar à própria carreira a lógica do valuation de empresas — e transformar sua vida profissional em um ativo de valor.
“Assim como uma empresa, uma carreira precisa ser gerida estrategicamente. Quando negligenciamos reputação, atualização ou diversificação, deixamos a gestão nas mãos de terceiros”, afirma Mirella.
Ela defende que os mesmos conceitos usados no valuation de empresas – como projeção de fluxo de caixa, gestão de riscos e análise de ativos – podem ser aplicados à vida profissional.
“Não se trata apenas de finanças, mas de um exercício mental que ajuda a projetar impacto, medir riscos e construir relevância.”
No paralelo que propõe, a autora distingue dois tipos de ativos:
“São os intangíveis que diferenciam. Eles funcionam como a marca de uma empresa: não aparecem em relatórios, mas sustentam o valuation da carreira”, diz.
Mirella Franco, autora do livro Carreira com Valuation: “Assim como uma empresa, uma carreira precisa ser gerida estrategicamente. Quando negligenciamos reputação, atualização ou diversificação, deixamos a gestão nas mãos de terceiros” (Mirella Franco/Divulgação)
Uma pesquisa recente da Infojobs mostrou que 90% dos profissionais brasileiros querem trocar de emprego por insatisfação. Para Mirella, isso acontece porque identidade e propósito se tornaram centrais no trabalho contemporâneo.
“A identidade dá autenticidade, o propósito é bússola para as escolhas e a visão permite enxergar além do presente. Esses três elementos transformam o profissional de recurso operacional em ativo estratégico.”
Mas há um risco comum: a chamada 'gaiola de ouro'. “É quando o profissional tem cargo, salário e benefícios, mas sente que paga um preço alto. O brilho do trabalho já não existe, mas ele continua porque teme perder a segurança. É uma prisão confortável, que por fora brilha, mas por dentro limita”, explica.
Para ajudar profissionais a saírem dessa armadilha, Mirella estruturou a metodologia Plano de V.O.O., com três pilares:
“O grande desafio para os brasileiros é a ousadia calculada, porque nossa cultura sempre valorizou estabilidade. Romper com essa mentalidade é essencial para criar carreiras mais autônomas e prósperas”, aponta.
Na visão da autora, o profissional que se limita ao crachá corre o risco de perder relevância da noite para o dia.
“Cargo pode ser dado ou tirado. O que garante longevidade é o lastro que você constrói em reputação, marca pessoal e impacto. Esse valor ninguém pode tirar de você.”
Ela lembra o exemplo de uma profissional de marketing que, sem mudar de empresa, ampliou seu valuation ao se reposicionar internamente: buscou feedbacks, ajustou sua presença e consolidou autoridade em inovação digital. Resultado: renegociou remuneração e conquistou mais protagonismo.
Para Mirella, as competências destacadas pelo Fórum Econômico Mundial continuam relevantes — como adaptabilidade e resiliência —, mas duas ganharão ainda mais peso: a capacidade de reaprender e a mentalidade empreendedora.
“O profissional que não reaprende, repete. E a mentalidade empreendedora não significa abrir um negócio, mas enxergar a própria carreira como ativo. No fim das contas, o crachá muda, mas o valor que você constrói de forma intencional acompanha você em qualquer contexto.”