Tati Marzullo e Cleo Pillon, empresárias brasileiras que decidiram empreender nos Estados Unidos (Divulgação)
Repórter
Publicado em 7 de julho de 2025 às 10h02.
Última atualização em 7 de julho de 2025 às 10h46.
No último ano, o Brasil se destacou como o 2º país com maior número de novas empresas abertas nos Estados Unidos, atrás apenas da Índia. Esse é um dado da AG Immigration, escritório de advocacia especializado em imigração localizado em Washington D.C.
Mesmo com as novas políticas imigratórias de Donald Trump, muitos empresários ainda têm o sonho de abrir um negócio em solo americano. Foi o caso da Cleo Pillon, que abriu a Aegisderma, uma empresa de produtos de beleza com sede nos Estados Unidos, e da Tati Marzullo, que abriu a Agência A+, uma empresa de comunicação no Rio de Janeiro e que agora tem uma filial nos Estados Unidos.
As duas empresárias fundaram também dois programas focados em mulheres na liderança no país: Marzullo trabalha desde 2023 com o “Programa Salto Alto”, que leva mulheres para Orlando, na Flórida, para aprender sobre liderança com grandes marcas americanas, e Pillon fundou o “Salto Alto Conexion”, evento que apoia mulheres imigrantes em New York, oferecendo orientação sobre finanças, luto imigratório e apoio para transição de carreira.
Empreender é, por si só, um desafio, mas quando isso acontece em outro país, a jornada exige ainda mais coragem, planejamento e determinação. Por isso o podcast “De frente com CEO” recebe nesta semana as duas empresárias brasileiras, diretamente de New York, que compartilham suas trajetórias profissionais e trazem dicas de como empreender com sucesso nos Estados Unidos.
A origem de Cléo Pillon começou bem longe da cidade mais populosa dos Estados Unidos (NY). Foi no sertão do Maranhão que ela cresceu criada pela madrasta e o pai, em uma casa bem simples de barro. Mas foi lá que viu seu talento com vendas aparecer, vendendo pastel no bairro aos 8 anos.
“Eu nasci uma empreendedora por necessidade, e hoje sou empreendedora porque encontrei um propósito”, diz a brasileira que quer promover a beleza e o autoconhecimento de forma natural para as mulheres.
A situação difícil NO Nordeste levou Pillon aos 17 anos a tomar uma decisão que mudou sua vida: deixou sua cidade natal e partiu para São Paulo em busca de oportunidades. "Eu vendi o pouco que tinha, comprei uma passagem e fui com R$ 200 no bolso. Quando pisei em São Paulo, senti que ali era o meu lugar. Foi a minha primeira grande cidade”, diz.
Após anos trabalhando por áreas como limpeza, recepção e comercial, Pillon se formou em estética em São Paulo, e após tentativas de empreender no Brasil, foi nos Estados Unidos que ela decidiu apostar novamente em um novo negócio em 2023. Foi neste período que nasceu a marca “Aegisderma”, uma linha de produtos de beleza com produtos naturais, fabricados no Brasil.
Tati Marzullo, natural do Rio de Janeiro, começou sua carreira como jornalista e passou por diversas áreas de comunicação antes de decidir empreender.
"Eu sou uma intraempreendedora. Eu sempre trabalhei como se fosse a dona do meu metro quadrado”, diz Marzullo.
Com mais de 10 anos de experiência em grandes empresas, Marzullo optou por abrir sua própria agência de comunicação, a “Agência A+”, no Brasil. "Eu queria empreender com um olhar mais humano, mais focado no propósito, valores”, diz Marzullo, que encontrou o caminho para transformar esse sonho em prática após participar de um curso na Disney Institute sobre liderança.
Com a pandemia, a agência, mesmo em home office, teve um crescimento de 35% e Marzullo percebeu que era hora de expandir o negócio para os Estados Unidos.
"A comunicação interna e o endomarketing cresceram muito durante a pandemia, e foi aí que vi a oportunidade de levar o meu negócio para os Estados Unidos", conta.
Com o apoio do marido, que também é seu sócio, Marzullo entrou com o visto de empreendedor EB2NW, específico para pessoas com habilidades extraordinárias, e em 2022 expandiu a Agência A+ para o mercado americano, em Orlando na Flórida.
Empreender nos Estados Unidos oferece grandes oportunidades, mas também desafios. Abrir um negócio não é um processo burocrático, mas estabelecer contratos de acordo com as leis locais é um grande desafio.
Marzullo, por exemplo, precisou de cartas de recomendação de ex-líderes, apresentar uma proposta do negócio (explicando os benefícios que a empresa levaria aos Estados Unidos) e contratar especialistas de contabilidade e de advocacia para garantir que todos os requisitos legais fossem atendidos.
"Quando você chega em um novo país, é essencial contratar advogados e contadores para garantir que seu negócio esteja em conformidade com as leis locais”, diz a fundadora da Agência A+.
“No Brasil, por exemplo, você paga imposto em cima do bruto e ele é mensal. Já nos Estados Unidos, é um imposto anual, que você paga em cima do lucro da empresa. Então, essas diferenças são importantes de se estudar”, diz Marzullo.
Outro ponto importante abordado por Pillon foi a necessidade de fazer contratos bem definidos.
“A primeira vez que empreendi aqui nos Estados Unidos não deu certo porque fiz um ‘contrato de boca’. Então, contrate um bom advogado que ajude a você a ter um contrato bem amarrado, se não você quebra”, diz Pillon.
Tanto Pillon quanto Marxullo, além das empresas, também têm se dedicado a ajudar outras mulheres a alcançar seus objetivos empresariais por meio de seus programas de liderança. O “Programa Salto Alto” e o “Salto Alto Conexion” têm sido fundamentais para criar um espaço de acolhimento, aprendizado e apoio para mulheres imigrantes e empreendedoras.
"O que mais me motivou a criar o ‘Salto Alto Conexion’ foi a falta de apoio que senti quando cheguei aos EUA. Esse programa é a oportunidade que eu gostaria de ter tido", afirma.
Já Marzullo viu como mulheres empreenderas e líderes de grandes empresas poderiam aprender com as marcas americanas.
"O sucesso no empreendedorismo não está só no resultado financeiro, mas em liderar com um olhar humanizado e com propósito. Por isso criei o ‘Programa Salto Alto’, para criar uma rede de apoio, onde mulheres se ajudam, se inspiram e crescem juntas aprendendo o melhor da cultura americana”, diz Marzullo que se divide hoje entre a sede e a família no Rio de Janeiro e a nova filial em Orlando.
Em maio deste ano, Cleo Pillon e a sua sócia Deise Miréia lançaram o livro “Conexão Mulher, o Poder de Salto Alto”, na Biblioteca Pública de New York. A EXAME fez a cobertura exclusiva do evento que anunciou a obra que conta a história de 10 mulheres empreendedoras – 9 delas empreenderam e vivem nos Estados Unidos.
“A intenção do livro é mostrar que cada mulher tem o poder de transformar sua trajetória e conquistar grandes saltos em sua vida, independentemente da origem ou das dificuldades enfrentadas”, diz Pillon que foi uma das empresárias que compartilhou sua história no livro.
O outro perfil do livro foi de Marzullo, que compartilhou sua jornada de autoconhecimento e liderança.
“O livro é uma ferramenta importante para discutir a superação das crenças limitantes que muitas mulheres têm, especialmente no que diz respeito à liderança e ao empreendedorismo”, diz Marzullo.
O livro “Conexão Mulher, o Poder de Salto Alto” foi publicado nos Estados Unidos mas já está à venda na Amazon.
Agora, com empresas estruturadas nos Estados Unidos, tanto Marzullo quanto Pillon pensam em um futuro de expansão. Marzullo já tem clientes americanos e está conduzindo sua empresa com o objetivo de formar líderes no Brasil e nos Estados Unidos. Pillon, por sua vez, continua a fortalecer sua marca Aegisderma e a expandir suas operações, inclusive em solo americano.
Elas acreditam que, apesar das dificuldades, o empreendedorismo nos EUA é possível para quem tem coragem, visão e clareza de seus valores e objetivos. Para quem está pensando em empreender no país, elas deixam alguns conselhos:
"Quem você é define sua jornada. Os líderes devem se concentrar nas suas forças, ao invés de tentar melhorar constantemente o que não é tão bom. Focar no que é bom é algo bem-visto aqui nos Estados Unidos, desde a escola e não é diferente no mundo dos negócios”, afirma Marzullo.
Para Pillon, o sucesso não anda sozinho e é preciso acreditar em si para apostar em algo grande como um negócio internacional. “É preciso se conectar com pessoas locais, aprender com os erros e, acima de tudo, acreditar em você. Por isso eu sempre aconselho: silencie as vozes que não te levam para frente. Vai pela sua coragem e pela sua intuição. Você pode fazer das suas dores um motivo para desistir ou um combustível para alcançar grandes saltos na sua vida."