Silvia Penna, CEO da Uber no Brasil: "A Uber é uma empresa nova e esse modelo precisa de uma regulamentação que preserve o principal ponto da nossa proposta de valor: a flexibilidade” (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter
Publicado em 30 de junho de 2025 às 12h13.
Última atualização em 30 de junho de 2025 às 15h53.
“Lembro quando fiz a minha primeira viagem como motorista da Uber. O local era um shopping aqui em São Paulo e saber que a passageira era uma mulher me trouxe mais segurança”, conta Silvia Penna, CEO da Uber no Brasil, que testou uma das soluções do aplicativo, o chamado U-Elas, em que a motorista mulher pode escolher fazer a viagem apenas com passageiras.
A experiência de ser motorista do aplicativo e de testar as soluções ajuda a executiva até hoje a dirigir a operação no Brasil desde 2021.
“Precisamos conhecer o nosso produto e serviço para saber como oferecer o melhor aos nossos funcionários e clientes”, diz Penna.
O teste, segundo a CEO, faz parte do plano de inovação da companhia que há mais de 10 anos tenta trazer novidades de mobilidade no Brasil. Para isso, um investimento de R$ 1 bilhão em tecnologia, anunciado pela Uber no ano passado, está previsto para os próximos 5 anos. “Com esse investimento, o nosso objetivo é criar soluções inovadoras, e tudo o que é desenvolvido aqui no Centro de Tecnologia é expandido globalmente”, afirma Penna.
O centro de tecnologia da Uber, criado em 2019, foi o primeiro da empresa na América Latina e vem se expandindo criando soluções como o 'Uber Flash', que ajudou muito a companhia durante a pandemia com o transporte de objetivos e documentos, além de soluções de segurança para motoristas e passageiros.
Um exemplo é o ‘RapidSOS’, que integra a Uber com as centrais de polícia, permitindo que motoristas e passageiros tenham uma camada extra de segurança. "Temos uma preocupação constante com a segurança, e nosso objetivo é usar nossa tecnologia a favor disso", conta Penna.
O investimento de R$ 1 bilhão no Brasil é um movimento estratégico para fortalecer a posição da Uber no país, que enfrenta forte concorrência. A chinesa Meituan anunciou recentemente seu investimento de US$ 1 bilhão no mercado brasileiro, enquanto a 99 também prometeu aplicar US$ 1 bilhão para expandir seu serviço de entregas nos próximos anos.
“Estamos comprometidos com o Brasil. Nosso centro de tecnologia aqui está impulsionando inovações que beneficiarão o mundo todo”, afirma Penna.
À EXAME, Silvia Penna comenta sua trajetória, avanços e desafios da companhia e soluções que prometem acelerar os negócios da Uber no Brasil.
Silvia Penna, CEO da Uber Brasil: “Precisamos conhecer o nosso produto e serviço para saber como oferecer o melhor aos nossos funcionários e clientes” (Leandro Fonseca /Exame)
Além da solução que ajuda motoristas mulheres a escolherem apenas mulheres como clientes (algo que tem sido fundamental para diminuir as barreiras de entrada para muitas mulheres neste ramo no Brasil desde 2019), a Uber tem apostado em outras iniciativas para atrair mais mulheres na direção, e consequentemente, mais mulheres no banco de trás.
Para isso a empresa desenvolveu o programa "Elas na Direção", que tem como objetivo incentivar o ingresso de mais mulheres como motoristas, oferecendo apoio psicológico e parcerias com ONGs para facilitar a adaptação ao trabalho.
"Quase dobramos o número de motoristas mulheres ano após ano, mas ainda há muito a ser feito. Queremos chegar a um ponto em que as passageiras possam escolher ser atendidas exclusivamente por mulheres motoristas", afirma Penna.
Dentro desse cenário, um dado da Uber Moto, (serviço criado em 2020 em Aracaju e que já está em todas as capitais do Brasil, menos em São Paulo, por ter sido suspenso no último mês), também traz luz sobre como mulheres apostam na mobilidade para sua segurança. Segundo um estudo da Uber no Brasil, comparado com a população, o perfil do usuário de moto por aplicativo é mais jovem (média de 31 anos) e 53% são mulheres.
“Para o público total de mulheres respondentes, 44% disseram que fazer as viagens em moto é mais seguro que andar a pé até suas casas”, afirma a CEO.
Natural de Belo Horizonte e formada em Engenharia pela UFMG, Penna iniciou sua carreira no mercado técnico, mas ao longo dos anos se descobriu em áreas mais estratégicas e com foco em pessoas, um caminho que a levou a grandes mudanças de carreira.
Na Uber, a trajetória de Silvia começou em 2016 como gerente de operações, e, após um período como CEO interina, ela foi oficialmente nomeada para a liderança da companhia em 2021. “Eu me sentia preparada para o desafio. A oportunidade veio após um processo seletivo rigoroso, onde fui reconhecida pelo desempenho durante o período interino. Isso me motivou muito”, afirma Penna que se tornou CEO aos 33 anos em 2021, e logo depois engravidou.
“É claro que senti medo, afinal, venho de uma indústria predominantemente masculina desde a faculdade. No dia em que fui contar sobre a gravidez para o meu chefe, demorei tanto para falar que, quando finalmente terminei, ele se sentiu aliviado, achando que eu estava pedindo demissão”, diz.
Penna lembra que a Uber enfrentou momentos de grande transformação e desafios, como a pandemia, que representou um desafio imenso para a operação e a renda dos motoristas parceiros.
“A maior preocupação foi garantir que nossos mais de 1 milhão de motoristas parceiros pudessem continuar gerando receita enquanto a demanda caiu 80%”, conta Penna, que viu em meio a um cenário caótico a oportunidade de desenvolver soluções como o Uber Flash, uma solução que nasceu no Brasil e que agora funciona em vários países.
Atualmente, outros grandes desafios fazem parte da agenda da executiva, como a regulamentação para empresas de transporte no Brasil e a suspensão da Uber Moto em São Paulo.
O processo de regulamentação que a Uber enfrenta no Brasil envolve a criação de leis e políticas públicas que definam como as empresas de transporte por aplicativos, como a Uber, devem operar dentro do país.
"A Uber é uma empresa nova, completamos 10 anos, e esse modelo precisa de uma regulamentação que preserve o principal ponto da nossa proposta de valor: a flexibilidade para os motoristas parceiros. Eles conectam quando querem, desconectam quando querem, e escolhem as viagens que desejam fazer", afirma.
Penna defende a flexibilidade como um dos pilares fundamentais para o sucesso da Uber, e reiterou que a empresa está ativamente participando do debate sobre regulamentação.
"Fazemos essa defesa publicamente, com o executivo, o legislativo e as partes envolvidas. O governo enviou um projeto de lei ao Legislativo, que foi construído com concessões de todas as partes", afirma. Ela também mencionou que o debate é contínuo, com a Uber defendendo que a regulamentação acompanhe o crescimento e as mudanças do setor.
Silvia Penna, CEO da Uber no Brasil: “A Uber Moto é um meio de transporte que tem crescido muito e que vamos continuar apostando nesse seguimento no Brasil”. (Leandro Fonseca /Exame)
A suspensão do Uber Moto em São Paulo foi determinada por uma decisão judicial que ordenou a interrupção imediata do serviço, com multa diária de R$ 30 mil, após um acidente fatal envolvendo uma passageira. Em resposta, a Uber suspendeu temporariamente a operação da modalidade na cidade, aguardando a análise do caso pelas autoridades competentes, seja por meio de regulamentação ou de uma decisão judicial definitiva.
“A Uber Moto traz uma acessibilidade muito grande para a população, complementando a rede de transporte público, além de ser mais uma fonte de geração de renda para muitos motoristas”, diz a CEO. “É um meio de transporte que tem crescido muito e que vamos continuar apostando no Brasil”.
Diversificar a oferta de serviços da Uber é a aposta de Penna para acelerar os negócios da empresa americana no Brasil. A empresa, que inicialmente dependia de um único produto – o UberX –, agora oferece uma gama de opções, fortalecendo seu papel como uma plataforma de soluções de mobilidade. “Hoje, queremos ser a solução para todos os problemas de mobilidade das pessoas”, afirma Penna.
A CEO também destaca a importância da sustentabilidade nas operações da empresa, com iniciativas como o Uber Green, com a expansão de veículos elétricos e híbridos, em São Paulo e a partir deste mês no Rio de Janeiro. No ano passado, o CEO global da Uber, Dara Khosrowshahi, afirmou que está investindo 800 milhões de dólares para ajudar motoristas a fazer a transição para veículos elétricos.
Em maio deste ano, a Uber e o iFood anunciaram uma colaboração que integrará seus serviços em um único aplicativo. Usuários do iFood poderão solicitar viagens da Uber diretamente pelo app, enquanto usuários da Uber terão acesso aos serviços de entrega de comida, mercados, farmácias e conveniência do iFood.
“É uma parceria que tem um potencial muito grande, porque facilita muito a vida do consumidor ter os dois programas numa plataforma só. Então, estamos bem direcionados em aumentar o engajamento como forma de crescimento”, afirma a CEO que diz que ainda não tem uma data definida para estrear essa solução. “Mas estamos fazendo de tudo para ser o mais rápido possível”.
Neste mês, a Uber também estabeleceu uma parceria com a Loggi, uma empresa de logística brasileira. “Essa colaboração fortalece a estratégia da Uber em ampliar o Uber Flash para entregas intermunicipais e interestaduais, conectando pessoas e empresas em todo o país”.
Com investimentos em tecnologia e parcerias, Penna afirma que seguirá apostando na “via de mão dupla”, em que o melhor caminho está na colaboração e benefícios mútuos para ambas as partes envolvidas nas parcerias, seja entre a Uber e seus parceiros, ou entre a Uber e os clientes.
“Nosso compromisso com o Brasil é inabalável. Estamos entre os cinco maiores mercados da Uber no mundo e seguimos com a missão de expandir nossos serviços e nossa plataforma”, afirma Penna.