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‘É momento de organizar a casa’, diz CEO da Corello após período de crescimento

Prestes a completar um ano no comando, Felipe Silvarolli fala ao podcast da EXAME sobre as dores do varejo, os desafios da sucessão familiar e os próximos passos da companhia

Felipe Silvarolli, CEO da Corello: “A nossa maior dor hoje não é um desafio exclusivo da Corello, mas do varejo: custos altos e inflação pesam no consumo, e precisamos garantir que a marca esteja entre as escolhas do cliente” (Leandro Fonseca /Exame)

Felipe Silvarolli, CEO da Corello: “A nossa maior dor hoje não é um desafio exclusivo da Corello, mas do varejo: custos altos e inflação pesam no consumo, e precisamos garantir que a marca esteja entre as escolhas do cliente” (Leandro Fonseca /Exame)

Publicado em 6 de outubro de 2025 às 11h43.

Última atualização em 6 de outubro de 2025 às 12h02.

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“Quando você entra na empresa como filho do dono, muitas vezes pode parecer uma ameaça, mas não precisa ser assim. Você pode mostrar que existe oportunidade para todos crescerem na companhia”, diz Felipe Silvarolli, CEO da Corello.

Aos 32 anos, o executivo representa a quarta geração da família à frente da marca de bolsas e calçados femininos fundada em 1964 pelo bisavô, o imigrante italiano Antônio Silvaroli, em uma pequena loja na Rua do Arouche, em São Paulo.

“Meu bisavô foi pioneiro ao decidir vender sapatos femininos junto com bolsas. Na época, ou a loja era de bolsa ou era de calçado, e ele acreditou que fazia sentido oferecer os dois no mesmo espaço. Essa combinação virou uma marca registrada da Corello,” afirma o CEO.

Desde novembro do ano passado, Felipe lidera a companhia em um momento de consolidação. Depois de dobrar de tamanho desde a pandemia, o executivo define 2025 como o ano para “reorganizar a casa”.

“Tiramos 2025 para organizar a casa, rever processos e ganhar eficiência, para então voltar a imprimir um ritmo mais acelerado de crescimento”, afirma Felipe.

Em entrevista exclusiva ao podcast "De frente com CEO", da EXAME, Felipe Silvarolli fala sobre as dores do varejo, os desafios da sucessão familiar e os próximos passos da companhia.

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As dores do varejo brasileiro

Em julho de 2025, o volume de vendas no varejo geral caiu 0,3% em relação a junho, segundo o IBGE. O setor de têxteis, vestuário e calçados — onde a Corello está inserida — foi um dos mais impactados, com retração de 2,9% no mês e 1,5% em relação ao ano anterior.

Diante desse cenário, Felipe avalia que a principal dor da Corello hoje não é algo exclusivo da companhia, mas sim fatores estruturais que afetam todo o setor.

“Eu não colocaria como uma dor específica da Corello, mas sim do varejo e das empresas no Brasil. Custos logísticos, juros altos e o aumento do custo de vida impactam diretamente a demanda, porque o consumidor é obrigado a fazer escolhas — e precisamos garantir que a Corello esteja entre elas.”

Crescimento tradicional — e 100% nacional

A Corello mantém um modelo que foge da lógica das franquias: são apenas lojas próprias, 28 atualmente, concentradas em São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal e Goiás.

“A percepção que fica é sempre da ponta. Por isso, o varejista tem de estar na loja. É lá que surgem os melhores insights”, afirma o CEO.

Esse modelo garante controle sobre a experiência do cliente, que, para Felipe, é o maior patrimônio da marca.

“A Corello sempre priorizou lojas próprias para manter um controle da cadeia como um todo. No fim, o que fica é a experiência, o atendimento, o contato direto com o consumidor,” diz o CEO que não tem planos de exportar. "Temos muita oportunidade de crescer ainda no Brasil".

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Um centro de distribuição — e de treinamento

Com cerca de 550 funcionários, sendo 400 nas lojas, a Corello tem investido em treinamento e engajamento. Um novo centro de distribuição foi inaugurado neste ano, já com espaço dedicado para capacitações.

“Nossa prioridade é garantir que todas as pessoas reflitam os valores da marca. Quando o vendedor conhece os bastidores e gosta do produto, ele consegue transmitir isso ao cliente”, afirma Felipe.

O “feeling” que vem dos dados

Se no passado as decisões tinham como base principalmente em “feeling”, hoje a empresa aposta em dados e tecnologia.

“Minha mãe tem 40 anos de experiência, então o feeling dela é uma bagagem. Mas hoje conseguimos embasar decisões em informações mais concretas”, diz.

A Corello já aplica inteligência artificial na operação, especialmente em reabastecimento e alocação de produtos. “O algoritmo identifica padrões de consumo e sugere reposições antes mesmo de o time perceber a falta”, explica.

No estilo, a equipe interna artística desenvolve coleções mensais, inspiradas em pesquisas de tendências realizadas em viagens anuais para Milão e Paris.

Planos de expansão

A companhia não descarta abrir novas praças nos próximos anos, mas sempre dentro do modelo de lojas próprias.

“Temos muito potencial ainda no Brasil. A ideia é reforçar nossa presença em capitais e no interior, onde há cada vez mais demanda pós-pandemia”, conta.

Franquias ou linhas masculinas ou infantis, por enquanto, não estão nos planos.

“A gente acredita muito em foco. Enquanto houver espaço para crescer no segmento que já dominamos, vamos continuar nesse caminho”, afirma o CEO que visa crescer 15% neste ano.

“Esse é um número que conseguimos alcançar sem perder eficiência ou controle. Crescer demais sem organizar a casa pode gerar redundâncias e processos ineficientes. Por isso, 2025 é um ano de ajustes.”

Uma sucessão natural

Antes de assumir a cadeira de CEO, Felipe passou por quase todas as áreas da empresa.

“O processo de sucessão foi natural. Eu já vinha desempenhando funções estratégicas e, em determinado momento, fez sentido formalizar essa liderança”, afirma o executivo que cresceu acompanhando a mãe e o avô nas lojas de segunda a segunda.

Hoje, as decisões mais relevantes passam por um conselho familiar formado por ele, a mãe e os irmãos.

“Eu acredito muito em ter um leque de pessoas experientes com quem posso contar. Isso encurta caminhos e evita erros”, diz o executivo, que também trabalhou diretamente com o avô — experiência que ele considera determinante para moldar sua visão de negócios.

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Respeito pela história

Para quem deseja abraçar o desafio de liderar uma empresa familiar, Felipe traz como principais aprendizados a resiliência e o respeito pela história.

“Não serão só momentos fáceis. É preciso se levantar, aprender e seguir em frente. E em uma empresa familiar, antes de propor mudanças, você precisa entender e respeitar o que já foi construído”, diz.

O jovem CEO também leva no seu dia a dia um conselho do avô para levar a empresa para outro patamar.

“Meu avô dizia que eu só conseguiria dentro da empresa quando tivesse certeza de que todos estavam alinhados comigo. No fim, a Corello ser bem-sucedida promove o crescimento de todos. Essa é a lógica que seguimos.”

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