Clube CHRO no Rio de Janeiro: evento teve mesa redonda com Nelson Queiroz Tanure, presidente do conselho de administração da petroleira Prio (Márcio Mercante/Exame)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 29 de junho de 2025 às 09h30.
Última atualização em 29 de junho de 2025 às 09h41.
"Um dos melhores jeitos de aprender, infelizmente, é o fracasso. Estudar quem deu errado é o que te ensina o que evitar", afirmou Nelson Queiroz Tanure, presidente do conselho da Prio, durante a edição de junho do Clube CHRO, projeto da EXAME Saint Paul voltado à troca de experiências entre lideranças de RH de grandes empresas.
O Clube CHRO começou em junho de 2023, em São Paulo, e desde o ano passado é também realizado no Rio de Janeiro. O encontro na capital fluminense teve o patrocínio do iFood Benefícios.
O encontro foi realizado no espaço de eventos da própria petroleira, na Praia de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. De um lado, o Cristo Redentor; do outro, o Pão de Açúcar — uma vista que Tanure faz questão de chamar de casa.
Anfitrião e convidado da vez, ele conversou com Camila Securato, CSO da EXAME Saint Paul, sobre como transformou uma petroleira em dificuldades em uma das maiores empresas independentes do setor no Brasil em menos de dez anos.
A entrevista teve como fio condutor o que Tanure chama de sua obsessão profissional: evitar erros. Para isso, ele se dedica há anos a estudar os fracassos de outras companhias e entender por que quebraram. “O mais fácil é saber o que você não quer. Isso já te ajuda a não seguir certos caminhos. O fracasso dos outros é um presente pra quem quer fazer melhor”, disse.
Para Tanure, essa filosofia se aplica tanto à gestão da Prio quanto à formação de lideranças internas. “Erro e fracasso são impostores. O que importa é o método, o esforço, o aprendizado. Se você acertou, dê seu máximo no dia seguinte. Se errou, dê o mesmo máximo. O que vale é o processo.”
Olhando para frente, ele quer manter a cultura de leveza, ambição e senso de dono como pilares da empresa. E, principalmente, garantir que a companhia siga crescendo com lucro, responsabilidade e gente boa. “Tem que entrar mais do que sai. Empresa que não dá lucro, morre. Ponto final.”
Nascido em 1985, Tanure cresceu entre o Rio de Janeiro e Nova York, onde viveu boa parte dos anos 90, durante a transformação da cidade com a política de tolerância zero.
Essa experiência, junto com a convivência próxima com o pai, um investidor ativo, moldou sua visão de negócios. Desde jovem, Tanure teve acesso ao que chama de "casos reais de fracasso" — empresas que falharam por excesso de ambição, desorganização ou falta de preparo para cenários ruins.
Antes de fundar a Prio, ele trabalhou com o pai por seis anos e mergulhou em estudos sobre empresas em crise. “Gosto de gente que passou por empresa que deu errado. Essas pessoas sabem identificar problema antes dele acontecer. E sabem o valor de um plano bem feito”, afirmou.
Na base da filosofia de Tanure está a preparação constante para o pior. Ele orienta os times da Prio a sempre testarem cenários negativos: queda do preço do petróleo, redução de produção, aumento de custos e criação de novos impostos. A lógica é simples: se a empresa consegue sobreviver quando tudo vai mal, ela tem uma chance real de prosperar.
“O jeito é se preparar pras coisas irem mal. Se sobreviver no pior, você tem uma chance. E se der certo, aí você voa”, afirmou.
Esse tipo de raciocínio levou Tanure a perceber uma lacuna no setor de óleo e gás: os grandes players buscavam novos campos e ignoravam os maduros, que ainda tinham potencial.
A Prio nasceu da ideia de revitalizar esses ativos abandonados — uma estratégia vista por muitos como arriscada, mas que, para Tanure, era uma oportunidade segura se feita com método, eficiência e sem pressa.
A Prio opera com um modelo pouco convencional no setor. Mais de 90% dos colaboradores, inclusive os que atuam offshore, têm ações da empresa. A ideia é simples: dar ao funcionário a chance de ser sócio. "A melhor maneira de alguém agir como dono é ser dono", afirmou Tanure.
A cultura é de autonomia e hierarquia das ideias. “Não tem dono da verdade. O estagiário é melhor do que eu no que ele faz. E as ideias boas podem vir de qualquer lugar”, disse. Os bônus são pensados para o longo prazo, e as decisões passam por um crivo de mérito e fit cultural, não de origem, experiência prévia ou cargo.
Outro ponto importante para Tanure é o ambiente de trabalho. Ele acredita que, mesmo num setor técnico e exigente como o de óleo e gás, é possível manter a leveza. “Trazer tensão no momento tenso é a pior coisa. Tem que manter a cabeça fria. E trabalhar com gente legal ajuda muito nisso.”
O desafio de formar e manter talentos é um dos temas que mais mobiliza Tanure. Ele reconhece que o setor enfrenta escassez de mão de obra qualificada e, por isso, a Prio aposta em programas de formação, parcerias com universidades e busca ativa por jovens ambiciosos.
“Procuramos quem quer crescer rápido. Gente que olha pra minha cadeira e pensa: um dia eu quero sentar aí”, disse. Um exemplo citado por ele foi o de um jovem que se ofereceu para trabalhar seis meses com salário de estagiário só para provar seu valor. “Esse tipo de atitude conta muito.”
A Prio também evita jargões e barreiras de linguagem. No campo, os treinamentos usam comunicação visual, linguagem simples e foco total na segurança. A empresa investe em bem-estar mesmo em plataformas offshore: boa comida, yoga, internet rápida, teatro e academia são parte do pacote.
Tanure tem uma visão pragmática sobre transição energética e impacto ambiental. Para ele, o setor de petróleo pode e deve ser mais eficiente, mas a principal responsabilidade está em outros setores — como a indústria pesada e os governos.
“Se você carrega um carro elétrico com energia de carvão, você tem um carro a carvão, não um carro limpo”, afirmou. Na Prio, medidas de eficiência já reduziram a pegada de carbono dos campos de 30 kg para cerca de 18 kg de CO₂ por barril, com mudanças como a substituição do diesel por gás e a consolidação de plataformas.
A empresa também investe mais de 30 milhões de reais por ano em projetos sociais, esportivos e culturais, com parte do valor vindo de leis de incentivo. “Não adianta ter discurso se não tiver entrega. A gente coloca dinheiro onde acredita”, disse.
Apesar da exigência por excelência — "todo trabalho entregue tem que ser o melhor da sua vida", segundo Tanure —, ele faz questão de que a jornada seja prazerosa. Incentiva um ambiente de amizade, respeito às ideias e abertura para pedir desculpas quando necessário.
“A gente passa muito tempo aqui. Se não for divertido, tem algo errado”, afirmou.
Essa combinação entre alto desempenho e leveza é, para ele, um diferencial da Prio. Uma empresa que cresce rápido, lucra, distribui valor entre os colaboradores e cria um ambiente em que errar, aprender e tentar de novo fazem parte do caminho.
O clube CHRO do Rio contou com a presença de nomes de peso no cenário corporativo brasileiro, com representantes de empresas como: