Painel com CEOs da Swile e da Saint Paul Escola de Negócios, durante o CONARH, mostra como humanizar a gestão impacta o futuro das organizações (Marcos Assis Pereira dos Santos/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 22 de agosto de 2025 às 15h36.
Última atualização em 22 de agosto de 2025 às 16h12.
A busca por líderes mais humanos deixou de ser discurso e passou a se consolidar como necessidade — com resultados claros para os negócios. Dados de um estudo da Deloitte mostram que 72% dos funcionários afirmam que a atenção das empresas à chamada sustentabilidade humana (que envolve bem-estar e saúde mental) melhora a experiência no trabalho. Outros 71% destacam aumento do engajamento e da satisfação, enquanto 70% relatam ganhos em produtividade.
No painel realizado durante o CONARH (maior evento de RH do Brasil) nesta quinta-feira, 21, Júlio Brito, CEO da Swile, e José Cláudio Securato, CEO da Saint Paul Escola de Negócios, discutiram sobre o tema e falaram como equilibrar performance, inovação e resultados sem perder o olhar humano.
Para Júlio Brito, da Swile, a gestão humanizada começa com práticas de proximidade. O executivo promove encontros como o “Brunch com Júlio” e já chegou a cozinhar para mais de 40 líderes em um encontro de alinhamento.
“Quando os funcionários percebem que podem ser ouvidos e trazer insights, há um salto de confiança e engajamento. Isso melhora o clima e impacta diretamente os resultados”, afirma.
A mudança de sede da empresa em São Paulo também reforça o olhar humano da gestão. Após um estudo de geolocalização que mostrou que a maioria dos funcionários gastava até 3 horas no trajeto ao escritório, a Swile mudou o endereço para facilitar o acesso.
“A decisão foi um investimento estratégico, porque acelerou em 14 meses o alcance do break-even da companhia”, diz Brito.
Com uma missão focada em educação corporativa, Securato trouxe a perspectiva para o palco. Para ele, a gestão humanizada passa por derrubar a verticalidade nas relações de trabalho.
“Quando a gente fala daquela gestão que é comando e controle, que é aquela gestão antiga, a gente está falando de verticalidade. O vertical deriva do padrão. E o mundo do padrão ficou para trás.”
Para o CEO da Saint Paul, o modelo atual de gestão que está sendo mais trabalhado é o da horizontalidade, uma vez que promove mais conexão humana.
“Sala de reunião não tem patente. O papel do CEO é criar um ambiente horizontal, onde a confiança substitui a hierarquia rígida”, diz.
Esse movimento, segundo Securato, é essencial diante da transição para um mundo contemporâneo mais diverso, criativo e menos previsível.
“No passado, o mundo do padrão trazia previsibilidade. Hoje, em meio a tantas possibilidades, liderar exige coragem e aprendizado contínuo”, diz.
Outro ponto central do debate foi o impacto da inteligência artificial. Para Brito, a tecnologia não deve ser vista como ameaça, mas como ferramenta para liberar tempo e fortalecer o lado humano da liderança. Ele mesmo estuda inteligência artificial para, segundo ele, “entender como a tecnologia pode liberar ainda mais espaço para se dedicar às pessoas”.
Securato complementou com uma visão prática. “A IA substitui tarefas repetitivas e de baixa interação social, mas reforça a importância das funções criativas e das relações de alta interação. Humanos não vivem, humanos convivem”.
No final do painel, ambos trouxeram conselhos para quem deseja praticar uma gestão mais humanizada:
O consenso é que o futuro da liderança passa por equilíbrio: coragem para inovar, mas leveza para lidar com as pessoas. A soma de confiança, escuta ativa e cultura horizontalizada tende a definir as empresas que prosperarão no mundo contemporâneo.
O CEO da Swile trouxe como exemplo uma metáfora para falar sobre liderança leve. Inspirado no livro A Arte de Ser Leve, de Leila Ferreira, ele lembrou da fala de Conceição, dona de um salão de beleza em Araxá, que dizia: “Muita gente vem para este mundo de caminhão, carregando bagagem demais. Eu venho de bicicleta, de duas rodas, sem bagagem.”
“Aprendi com essa história que muita gente vem para este mundo de caminhão, carregando bagagem demais. Eu prefiro vir de bicicleta, leve, sem peso desnecessário. Na liderança, é assim também: precisamos nos desprender do que não faz sentido para viver e trabalhar de forma mais leve e conectada”, diz
Para Securato, um líder com um olhar mais humano é aquele que vê leveza em abrir caminhos para os seus liderados.
“No final, liderança é menos sobre cargo e mais sobre facilitar. Quanto menos o líder fizer, mais ele permite que as pessoas construam juntas”, afirma Securato.