“Pense em um presidente dos Estados Unidos que não joga golfe. Não existe, todos jogaram sempre” (Mariana Martucci/Divulgação)
Repórter
Publicado em 27 de setembro de 2025 às 08h01.
Nos Estados Unidos, entrevistar candidatos jogando golfe não é excentricidade: é prática conhecida para ver, em quatro horas, como a pessoa decide, lida com pressão, segue regras e colabora.
“No golfe, a máscara cai”, diz África Madueño, preparadora física de golfe e palestrante do Clube CHRO de São Paulo, encontro realizado pela EXAME na última terça-feira, 23, na Federação Paulista de Golfe.
O esporte, segundo a especialista que se especializou em golfe nos Estados Unidos, funciona como laboratório de liderança e networking — e pode ser uma porta de entrada para mais mulheres em posições de destaque.
“Pense em um presidente dos Estados Unidos que não joga golfe. Não existe, todos jogaram sempre”, afirma a especialista.
África construiu sua carreira explorando um nicho pouco ocupado: a preparação física e biomecânica aplicada ao golfe. “Quando me formei em Educação Física, percebi que não havia ninguém atuando nessa área no Brasil. Foi um oceano azul. Eu queria ser referência, então estudei muito para abrir esse espaço”, conta.
O Clube CHRO acontece em São Paulo desde julho de 2023 e reúne profissionais de destaque para discutir tendências e práticas no ambiente corporativo. A Alelo é a patrocinadora oficial do evento.
A seguir, veja os aprendizados que um RH pode aprender com o golfe.
Leia também: Mulheres no golfe: o esporte antes dominado por homens de elite agora tem elas no campo
C-levels de RH membros do clube CHRO visitando um campo de golfe e aprendendo mais sobre o esporte e o seu impacto nos negócios (Eduardo Frazão/Exame/Divulgação)
Existe um paralelo entre golfe e o mundo corporativo, segundo a África. O esporte exige autorregulação — não há árbitros em campo, e o próprio jogador é responsável por aplicar penalidades e assinar seu cartão de tacadas. “A honestidade vem em primeiro lugar. Se você não assina, é desclassificado”, afirma. A disciplina de seguir regras e assumir erros, segundo África, é uma lição clara para o RH: criar ambientes onde a responsabilidade individual sustenta a confiança coletiva.
Outro ponto é a tomada de decisão. Cada jogada envolve escolher entre 14 tacos possíveis, analisar vento, terreno, distância e só então executar. “O objetivo do golfe é jogar menos golfe. Quanto mais assertivo, menos tacadas você precisa”, diz. No mundo dos negócios, isso significa aprender a agir com estratégia, equilibrando ousadia e cautela, e vivendo com as consequências da escolha.
O golfe também é, nas palavras dela, “um esporte de gente” - ideal para networking.
“É o único esporte que permite estar quatro horas com alguém, observando e sendo observado. No fim, você sabe se quer jogar de novo com aquela pessoa ou não.”
Executivos e empresas perceberam esse valor: há torneios exclusivos de advogados, incorporadoras, médicos, e até companhias que compram títulos em clubes para incentivar sócios e líderes a jogarem. “Quem não joga, perde oportunidades. Eu já vi negócios sendo fechados no campo”, afirma.
E há ainda o componente de inclusão. África lidera o programa “Mulheres & Golf”, que oferece 8 semanas de aulas gratuitas para mulheres interessadas em se iniciar no esporte. Além da técnica, aprendem regras, etiqueta e cultura.
“É um ambiente seguro, respeitoso e diurno. Isso faz diferença para muitas mulheres que não se sentem confortáveis em ambientes de networking noturnos," diz a especialista. “O programa Mulheres & Golf nasceu para abrir a porta para a diversidade neste esporte".
Abaixo, veja imagens de membros que participaram do evento:
Veja também: Como brasileiros estão empreendendo com sucesso nos EUA