Cada modalidade de intercâmbio tem requisitos específicos de idade, nível de idioma e experiência prévia, tornando essencial alinhar o tipo escolhido com objetivos pessoais. (Thinkstock)
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Publicado em 8 de julho de 2025 às 18h10.
Entre cafés em Dublin, aulas em Toronto e estágios no Vale do Silício, o intercâmbio deixou de ser um plano distante para virar realidade presente. A Pesquisa Selo Belta 2025 confirmou o que as filas nos consulados já indicavam: Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, Irlanda e Austrália lideraram as escolhas dos brasileiros em 2024. Mas afinal, o que torna esses destinos tão atrativos? E mais importante – como escolher o programa certo em meio a tantas opções?
O Canadá assume a liderança entre os destinos de intercâmbio mais procurados. Com políticas migratórias favoráveis a estudantes, o país permite trabalhar até 20 horas semanais durante o período letivo – um diferencial para quem precisa complementar o orçamento. Toronto e Vancouver concentram a maior parte dos intercambistas, mas cidades como Montreal e Ottawa (mais tranquila e acessível) crescem em popularidade.
A excelência educacional canadense se reflete em universidades como University of Toronto, UBC e McGill, todas entre as melhores do mundo. Para cursos de idiomas, o país oferece programas de ESL (English as a Second Language) e FSL (French as a Second Language), já que o Canadá é oficialmente bilíngue. Em Quebec, especialmente em Montreal e Quebec City, a imersão no francês é completa.
A documentação necessária inclui o Study Permit para cursos superiores a 6 meses. Vale destacar: o inverno rigoroso exige investimento em roupas adequadas, mas a infraestrutura das cidades está totalmente preparada. A diversidade cultural também facilita a adaptação – o Canadá é conhecido por ser multicultural, com comunidades de imigrantes de todo o mundo.
Taxis driving along Lexington Avenue with Chrysler building in the backdrop (© Marco Bottigelli/Getty Images)
Segundo colocado no ranking da Pesquisa Selo Belta, os Estados Unidos atraem pela diversidade de programas e pelo prestígio acadêmico. Harvard, MIT, Stanford – nomes que dispensam apresentações e abrem portas globalmente. Mas não é só a Ivy League que brilha: UCLA, Columbia e muitas universidades estaduais oferecem excelente qualidade educacional.
Nova York e Los Angeles lideram as preferências, mas cidades como Boston (polo acadêmico com Harvard, MIT e Boston University), San Francisco (próxima ao Vale do Silício) e Miami (popular para cursos de inglês com influência latina) oferecem experiências interessantes.
O visto F-1 é obrigatório para estudantes acadêmicos, e o J-1 para programas de intercâmbio cultural ou de curta duração. O processo inclui entrevista consular obrigatória.
Fique atento: estudantes internacionais não podem trabalhar fora do campus, exceto em casos específicos como CPT ou OPT. O custo de vida varia drasticamente – Nova York e San Francisco são caras, enquanto cidades como Austin ou Raleigh são mais acessíveis.
O Reino Unido combina séculos de tradição acadêmica com uma Londres cosmopolita e vibrante. Oxford e Cambridge são as mais antigas e prestigiadas, mas universidades como UCL, Imperial College London e University of Edinburgh oferecem excelência com processos seletivos competitivos. O sistema britânico é intenso: graduações duram 3 anos (4 na Escócia) e mestrados, geralmente 1 ano.
Londres domina as escolhas, com inúmeras universidades (UCL, King's College, LSE), apesar do alto custo de vida. Alternativas inteligentes incluem Manchester (mais acessível), Edinburgh (famosa pelos festivais), Cambridge e Oxford (cidades acadêmicas históricas) e Brighton (popular para cursos de inglês, com clima costeiro).
O Student Visa é necessário para cursos superiores a 6 meses, permitindo trabalhar até 20 horas por semana durante o período letivo. Cursos de curta duração (até 6 meses) exigem o Short-term Study Visa, que não permite trabalhar. O clima é instável, com chuva frequente – roupas impermeáveis são essenciais.
Dublin, na Irlanda. (Mady70/Getty Images)
A Irlanda vive um boom entre intercambistas brasileiros, ocupando o quarto lugar no ranking. Dublin concentra as principais escolas e universidades, incluindo Trinity College Dublin (a mais prestigiada) e UCD. Cork (com a UCC) e Galway (com a University of Galway) oferecem imersão cultural e são mais acessíveis.
O grande atrativo para brasileiros é a política de visto: não é necessário visto prévio para cursos de até 90 dias. Para cursos mais longos, o Stamp 2 permite estudar e trabalhar – 20 horas semanais durante as aulas e 40 nas férias. A solicitação é feita após a chegada, com carta da escola e comprovantes financeiros. O inglês é o idioma principal, falado com sotaque irlandês distinto.
A cultura do pub é central, com música tradicional ao vivo e festivais como St. Patrick's Day. Dublin é relativamente cara, mas Cork, Galway e Limerick são mais acessíveis. O clima é úmido e chuvoso, exigindo roupas adequadas. A proximidade com Reino Unido e Europa permite viagens baratas durante o intercâmbio.
A Austrália completa o top 5 da pesquisa, seduzindo com uma combinação única: educação de ponta e permissão para trabalhar. O Student Visa (Subclass 500) permite trabalhar até 48 horas por quinzena durante o período letivo e em período integral nas férias. Sydney e Melbourne disputam a preferência, mas Brisbane (mais ensolarada) e Gold Coast (popular para cursos de inglês) crescem entre brasileiros.
Universidades do Group of Eight, como University of Melbourne, University of Sydney e Australian National University, são reconhecidas globalmente.
A adaptação cultural é facilitada pela informalidade dos australianos e amor por atividades ao ar livre. Sydney e Melbourne estão entre as cidades mais caras, mas Brisbane e Adelaide são mais acessíveis. O clima varia de tropical em Queensland a temperado em Melbourne e Sydney. Protetor solar é essencial devido à alta exposição UV.
Malta. (Tu xa Ha Noi/Getty Images)
Malta surge como uma alternativa para quem busca Europa com orçamento controlado. O arquipélago oferece inglês como idioma oficial (herança britânica), além do maltês.
A vantagem para brasileiros é clara: sem necessidade de visto para estadias de até 90 dias. Para cursos acima de 90 dias, é necessário o Long-Term Study Visa (Type D), solicitado após a chegada, que permite trabalho parcial com permissão específica. A University of Malta em Msida é a principal instituição acadêmica do país.
O país é pequeno, permitindo explorar tudo facilmente. O clima mediterrâneo oferece verões quentes e invernos amenos. Os malteses são amigáveis, e o custo de vida é mais acessível que outros destinos europeus como Reino Unido. Gozo, a ilha vizinha, oferece uma atmosfera mais tranquila para quem busca imersão total.
Wellington: são só 400 mil habitantes na capital (Foto/Divulgação)
A Nova Zelândia atrai aventureiros que valorizam natureza e qualidade educacional. Auckland é a maior cidade e principal hub para intercambistas, sede da University of Auckland. Wellington, a capital, abriga a Victoria University e tem uma cena artística notória. Christchurch (University of Canterbury) e Dunedin (University of Otago) também recebem muitos estudantes internacionais.
O país permite trabalho de 20 horas semanais durante o período letivo e tempo integral nas férias com o Student Visa (necessário para cursos acima de 3 meses). O inglês é o idioma principal, com sotaque neozelandês característico. A cultura kiwi valoriza equilíbrio entre estudo e vida pessoal, com ênfase em atividades ao ar livre como trilhas e esportes.
O custo de vida é moderado em comparação com Austrália. Auckland é a mais cara, enquanto Dunedin é mais acessível. O clima é temperado, com verões amenos e invernos frios, especialmente na Ilha Sul. A proximidade com fiordes, praias e cenários naturais transforma fins de semana em aventuras.
Frankfurt, Alemanha. (Leonhard Niederwimmer/Unsplash)
A Alemanha se destaca no cenário de intercâmbio com universidades públicas que cobram apenas taxas administrativas, mesmo para estrangeiros. Berlim hipnotiza com sua diversidade e cena cultural, Munique impressiona com tradição (lar da LMU e TUM), enquanto cidades como Leipzig e Dresden oferecem custo de vida mais baixo.
O alemão é o idioma oficial, mas muitos programas de pós-graduação são oferecidos em inglês. Para graduação, proficiência em alemão (TestDaF ou Goethe-Zertifikat) é frequentemente exigida. O visto de estudante permite trabalhar até 120 dias integrais ou 240 meios períodos por ano. Brasileiros não precisam de visto para cursos de até 90 dias.
As universidades alemãs são conhecidas por pesquisa e inovação, com foco em aprendizado independente. Hamburgo oferece vida cosmopolita, enquanto Freiburg, próxima à Floresta Negra, atrai pela vibe ecológica.
Na Espanha, Madrid (com Universidad Complutense e Universidad Autónoma) e Barcelona (Universidad de Barcelona) dominam as escolhas, mas Granada (famosa por cursos de espanhol e pela Alhambra), Salamanca (a mais antiga universidade espanhola) e Valência (à beira-mar) crescem em popularidade.
O espanhol (castelhano) é o idioma oficial, mas atenção: na Catalunha fala-se catalão, no País Basco o euskera, e na Galícia o galego. Os programas ELE (Español como Lengua Extranjera) são populares. Brasileiros não precisam de visto para cursos de até 90 dias. Para períodos maiores, o Visto de Estudante permite trabalhar até 30 horas semanais com autorização.
O custo de vida varia: Madrid e Barcelona são mais caras, enquanto cidades menores são acessíveis. O clima mediterrâneo predomina, com verões quentes e invernos amenos.
Paris. (Alexander Spatari/Getty Images)
A França mantém seu magnetismo cultural. Paris seduz com instituições como Sorbonne, Sciences Po e PSL, além de museus e vida cultural intensa. Lyon destaca-se pela gastronomia e pela Université de Lyon, Toulouse pelo setor aeroespacial, Nice pela Riviera Francesa e Bordeaux pelos vinhos.
O francês é essencial para a maioria dos programas de graduação, mas cursos em inglês crescem, especialmente em pós-graduações. A França é popular para cursos FLE (Français Langue Étrangère) oferecidos pela Alliance Française. Brasileiros não precisam de visto para cursos de até 90 dias. O VLS-TS é necessário para períodos maiores e permite trabalhar até 964 horas anuais.
A vida cultural é rica: cafés, cinema, moda, gastronomia. Strasbourg, próxima à Alemanha, tem um charme europeu único. O clima varia de mediterrâneo no sul a continental no norte, com invernos frios em Paris.
O universo dos tipos de intercâmbio é vasto e atende diferentes perfis. O High School permite cursar o ensino médio no exterior, geralmente por 6 meses a 1 ano. Programas de graduação incluem intercâmbio "sanduíche" (parte do curso no Brasil, parte fora) ou graduação completa. Pós-graduação, mestrado e doutorado oferecem especialização com networking global em universidades estrangeiras.
Cursos de idiomas variam de programas intensivos de curta duração a cursos de longa duração focados em aprender ou aprimorar línguas. Au Pair combina trabalho como babá em família estrangeira com moradia e bolsa-auxílio, geralmente para jovens. Work and Travel permite trabalho temporário durante férias universitárias, sendo muito comum nos EUA.
Intercâmbio de férias combina cursos curtos (2 a 8 semanas) com turismo e atividades recreativas. Cada modalidade tem requisitos específicos de idade, nível de idioma e experiência prévia, tornando essencial alinhar o tipo escolhido com objetivos pessoais.
A escolha do intercâmbio ideal começa com autoconhecimento. Defina seus objetivos principais: é aprimorar um idioma, conseguir um diploma internacional ou ganhar experiência profissional? Seu orçamento também é decisivo – lembre-se de incluir custos ocultos como visto, seguro-saúde e aquela reserva emergencial para imprevistos.
O tempo disponível determina muitas opções. Cursos de férias cabem em 2 a 8 semanas, enquanto uma graduação completa exige anos de comprometimento. Considere também seu perfil pessoal: você se adapta facilmente a climas frios? Prefere cidades grandes ou ambientes menores? Tem restrições alimentares que podem complicar a vida em certos países?
Pesquise além do óbvio. Aquele destino da moda pode não ser ideal para seus objetivos. Às vezes, uma cidade menor oferece imersão mais profunda e custo-benefício superior. Verifique se o país permite trabalho para estudantes – isso pode fazer toda a diferença no orçamento. E não subestime a importância de consultar ex-intercambistas, já que experiências reais valem mais que mil folhetos promocionais.
A preparação começa meses antes do embarque. O planejamento financeiro é crucial – abra uma conta internacional, pesquise sobre câmbio e entenda os custos reais do destino. Documentação exige atenção redobrada: passaporte válido, visto adequado, seguro-saúde obrigatório e comprovantes financeiros são apenas o começo.
Culturalmente, mergulhe no destino antes de chegar. Assista filmes locais, leia sobre costumes e aprenda expressões básicas do idioma. Isso minimiza o choque cultural e acelera a adaptação. Prepare-se psicologicamente também – saudade de casa é normal, e ter estratégias para lidar com ela faz diferença.
Questões práticas merecem atenção: vacinas em dia, medicamentos para levar, adaptadores de tomada e roupas adequadas ao clima. Digitalize documentos importantes e deixe cópias com familiares. Informe-se sobre o sistema de saúde local e tenha contatos de emergência sempre à mão. Apps de tradução e mapas offline salvam vidas nos primeiros dias.
O erro mais comum é deixar tudo para última hora. Vistos podem levar meses, passagens ficam mais caras e as melhores acomodações se esgotam. Começar o planejamento com 6 a 12 meses de antecedência não é exagero. Outro equívoco frequente é subestimar o orçamento, esquecendo gastos como transporte local, materiais didáticos e aquela socialização necessária.
Escolher destino por modismo, sem considerar objetivos pessoais, frequentemente leva a frustrações. Aquele intercâmbio EUA pode ser o sonho do seu amigo, mas talvez a Irlanda combine mais com seu perfil e bolso. Ignorar o seguro-saúde é roleta russa – uma consulta médica simples pode custar fortunas em certos países.
Não pesquisar adequadamente a agência ou instituição escolhida pode resultar em experiências desastrosas. Verifique certificações, leia avaliações reais e desconfie de promessas mirabolantes. Por fim, muitos negligenciam a preparação para o retorno. O intercâmbio transforma, mas é preciso planejar como integrar essa experiência à vida e carreira no Brasil.