No trainee, as empresas buscam jovens talentos com perfil de liderança, que possam ser preparados para assumir cargos de gestão em médio prazo. (Prostock-studio/ AdobeStock/Divulgação)
Colaboradora
Publicado em 7 de julho de 2025 às 17h27.
Com o fim de mais um ano letivo e a proximidade das formaturas, milhares de jovens brasileiros enfrentam o mesmo dilema: qual caminho seguir para ingressar no mercado de trabalho? Entre vagas de estágio, programas de trainee e oportunidades como jovem aprendiz, a confusão é comum – e compreensível. Afinal, cada modalidade tem suas próprias regras, benefícios e públicos-alvo específicos.
O estagiário é o estudante que busca complementar sua formação acadêmica com experiência prática em sua área de estudo. Regulamentado pela Lei nº 11.788/2008 (conhecida como Lei do Estágio), esse modelo de contratação não gera vínculo empregatício – ou seja, não é considerado um emprego formal, mas sim uma atividade educativa supervisionada.
Para ser estagiário, é necessário estar regularmente matriculado em uma instituição de ensino, seja no ensino médio, técnico ou superior. A idade mínima é de 16 anos, mas não há limite máximo – sim, aquele filme com Robert De Niro, "Um Senhor Estagiário", retrata uma possibilidade real! Desde que a pessoa esteja estudando, pode estagiar aos 20, 40 ou até 70 anos.
O estágio pode ser obrigatório (quando faz parte da grade curricular do curso) ou não obrigatório (também chamado de extracurricular). No Brasil, cursos como Medicina, Direito, Engenharia e Pedagogia costumam exigir o estágio obrigatório para a obtenção do diploma. Já o extracurricular é uma escolha do estudante para ganhar experiência e, muitas vezes, uma graninha extra.
Já o trainee é um profissional recém-formado (geralmente com até 2 ou 3 anos de conclusão do curso) que participa de um programa intensivo de desenvolvimento e capacitação oferecido por empresas de médio e grande porte. Diferentemente do estágio, o trainee é um funcionário efetivo, com carteira assinada e todos os direitos trabalhistas.
Os programas de trainee são verdadeiros "aceleradores de carreira". Durante um período que varia de 12 a 24 meses, o profissional passa por diferentes áreas da empresa, recebe treinamentos especializados, participa de projetos estratégicos e, não raro, viaja para conhecer outras unidades do negócio. É como fazer um MBA prático e remunerado dentro da própria organização.
O perfil buscado pelas empresas é bem específico: jovens com alto potencial de liderança, conhecimento em idiomas, disponibilidade para mudanças e, claro, muita vontade de crescer rapidamente. Por isso, os processos seletivos costumam ser mais concorridos – algumas empresas recebem mais de 40 mil inscrições para poucas dezenas de vagas.
O programa Jovem Aprendiz, regulamentado pela Lei nº 10.097/2000 e atualizado pelo decreto nº 11.061/2022, é uma modalidade de emprego que combina formação teórica e prática para jovens de 14 a 24 anos (sem limite de idade para pessoas com deficiência). É a porta de entrada mais acessível ao mercado de trabalho.
Para participar, o jovem precisa estar matriculado e frequentando o ensino fundamental ou médio. A jornada de trabalho varia de 4 a 6 horas diárias (podendo chegar a 8 horas para quem já concluiu o ensino médio), sempre conciliada com os estudos. O contrato pode durar até 3 anos e inclui carteira assinada, férias, FGTS e vale-transporte.
Cada modalidade atende a um momento específico da jornada profissional. O Jovem Aprendiz é ideal para adolescentes e jovens adultos (14 a 24 anos) que buscam a primeira experiência formal de trabalho. Não é necessário ter experiência prévia nem formação técnica – basta estar estudando e ter vontade de aprender.
O estágio é voltado para estudantes de qualquer idade que estejam cursando ensino técnico ou superior. É perfeito para quem quer testar na prática os conhecimentos teóricos da sala de aula. E sim, pessoas mais velhas em transição de carreira podem – e devem! – considerar o estágio como opção.
Já o trainee é exclusivo para recém-formados no ensino superior. As empresas buscam jovens talentos com perfil de liderança, que possam ser preparados para assumir cargos de gestão em médio prazo. É o programa mais seletivo dos três.
A obrigatoriedade varia conforme a modalidade. O estágio obrigatório faz parte da grade curricular de diversos cursos superiores e técnicos. Sem cumprir essa etapa, o aluno simplesmente não se forma.
Por outro lado, o estágio não obrigatório (ou extracurricular) é totalmente opcional. O estudante escolhe fazê-lo para ganhar experiência, networking e, claro, uma remuneração que ajuda nas despesas. Muitas vezes, é nesse tipo de estágio que surgem as melhores oportunidades de efetivação.
Os programas de Jovem Aprendiz e trainee nunca são obrigatórios. São oportunidades que o jovem pode buscar conforme seu interesse e momento de vida. No entanto, vale destacar que a experiência adquirida nesses programas costuma fazer toda a diferença no futuro profissional.
Sim, todas as modalidades podem ser remuneradas, mas com algumas diferenças importantes.
No programa Jovem Aprendiz, a remuneração é obrigatória. O salário costuma variar entre R$ 635 e R$ 1.000 por mês, dependendo da empresa, região e carga horária. Além disso, o jovem tem direito a vale-transporte, férias remuneradas e todos os benefícios previstos em lei.
Para estagiários, a situação depende do tipo de estágio. No estágio não obrigatório, a empresa deve pagar uma bolsa-auxílio, que geralmente varia entre R$ 1.000 e R$ 2.000 mensais, além de auxílio-transporte. Já no estágio obrigatório, a remuneração é opcional – muitas empresas pagam mesmo assim, como forma de atrair os melhores talentos.
Os trainees são os mais bem remunerados do grupo. Com salários que variam entre R$ 2.000 e R$ 4.000 mensais (podendo ser ainda maiores em multinacionais), eles recebem remuneração de funcionário efetivo, com todos os benefícios: vale-refeição, plano de saúde, participação nos lucros e, em alguns casos, até auxílio-moradia para quem precisa mudar de cidade.
Cada programa tem suas próprias regras de duração e jornada de trabalho, sempre pensando em conciliar desenvolvimento profissional com outras responsabilidades.
O Jovem Aprendiz pode ter contrato de até 3 anos. A carga horária varia: 4 a 6 horas diárias para quem ainda está no ensino fundamental ou médio, podendo chegar a 8 horas para quem já concluiu os estudos. É importante ressaltar que não é permitido fazer hora extra nem acumular banco de horas.
O estágio tem duração máxima de 2 anos na mesma empresa. A jornada é de até 6 horas diárias (30 horas semanais) para estudantes do ensino superior, profissionalizante ou médio. Para alunos da educação especial ou dos anos finais do fundamental, o limite é de 4 horas diárias. Em cursos que alternam teoria e prática, pode chegar a 8 horas nos períodos sem aula.
Os programas de trainee duram entre 12 e 24 meses, com jornada integral de 8 horas diárias (40 a 44 horas semanais). Como são funcionários efetivos, seguem o regime CLT normal da empresa, podendo inclusive fazer horas extras quando necessário.
Se você tem entre 14 e 18 anos e busca a primeira experiência profissional, o Jovem Aprendiz é a escolha natural. Não exige experiência prévia nem habilidades específicas – apenas vontade de aprender. É ideal para quem precisa conciliar trabalho com estudos e quer começar a construir um currículo.
Está na faculdade ou curso técnico? O estágio é seu melhor amigo. Escolha oportunidades alinhadas com seu curso para maximizar o aprendizado. Se o estágio for obrigatório, aproveite para fazer networking e mostrar seu potencial – muitos estagiários são efetivados ao final do contrato.
Para recém-formados que buscam ascensão profissional acelerada, os programas de trainee representam uma oportunidade estratégica. Os requisitos, entretanto, são rigorosos: inglês, disponibilidade para relocação e viagens, além de alta capacidade de adaptação. Embora a concorrência seja acirrada, o investimento compensa, já que diversos executivos iniciaram suas trajetórias como trainees.
Para Jovem Aprendiz, a simplicidade é fundamental. Use uma página, fonte clara (Arial ou Times New Roman, tamanho 12), e foque no básico: dados pessoais, objetivo ("Busco vaga de Jovem Aprendiz na área administrativa"), formação escolar e habilidades básicas (informática, comunicação).
Inclua atividades extracurriculares, trabalhos voluntários ou cursos livres. Não se preocupe com a falta de experiência – as empresas sabem que estão contratando iniciantes.
O currículo para estágio pede um pouco mais de substância. Além dos dados básicos, destaque seu curso, período e previsão de formatura. Liste projetos acadêmicos relevantes, monitoria, iniciação científica ou participação em empresas juniores. Mencione softwares que domina, idiomas e cursos complementares.
Para trainee, o currículo precisa impressionar. Destaque sua formação, experiências de liderança (centro acadêmico, atléticas, trabalho voluntário), intercâmbios, conquistas acadêmicas e domínio de idiomas. Use verbos de ação e, sempre que possível, quantifique resultados.
Para Jovem Aprendiz, comece pelo CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) e institutos como SENAI e SENAC. Além disso, faça cadastro em sites especializados. Muitas empresas também divulgam vagas diretamente em seus sites.
Vagas de estágio aparecem nos mesmos locais, além de murais das universidades, feiras de carreira e LinkedIn. Siga as páginas das empresas que admira e ative alertas de vagas. Professores também costumam receber e divulgar oportunidades – mantenha um bom relacionamento com eles.
Os programas de trainee são mais centralizados. Sites especializados concentram a maioria das oportunidades. As grandes empresas costumam abrir inscrições entre agosto e outubro, então fique atento ao calendário.
Para Jovem Aprendiz, o processo costuma ser simples: inscrição online, prova básica de português e matemática, dinâmica de grupo e entrevista. Nas dinâmicas, mostre colaboração, comunicação clara e respeito pelos colegas. Na entrevista, seja sincero sobre suas expectativas e demonstre vontade de aprender. Vista-se adequadamente – não precisa ser formal demais, mas mostre cuidado.
A seleção para estágio varia conforme a empresa. Geralmente inclui análise de currículo, testes online (raciocínio lógico, conhecimentos específicos), entrevista com RH e com o gestor da área. Pesquise sobre a empresa, prepare exemplos de situações em que demonstrou as competências pedidas na vaga e faça perguntas inteligentes sobre a área e as atividades.
Os processos de trainee são verdadeiras maratonas. Prepare-se para 5 a 7 etapas: inscrição, testes online, vídeo de apresentação, dinâmicas de grupo, case (resolução de problema de negócio), entrevistas com RH, gestores e até diretores. Estude sobre a empresa, seu mercado e tendências.
Lembre-se que não existe escolha errada. Cada programa tem seu valor e momento certo, o importante é dar o primeiro passo.