Entre a Geração Z, 68% planejam trocar de emprego, enquanto os Millennials chegam a 65%. (shutter_m/Thinkstock)
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Publicado em 27 de agosto de 2025 às 17h31.
A busca por uma nova oportunidade de emprego tornou-se prioridade para 3 em cada 5 profissionais brasileiros em 2025, segundo levantamento recente do LinkedIn. O número revela uma mudança significativa na forma como os trabalhadores encaram suas trajetórias profissionais, especialmente entre os mais jovens. Entre a Geração Z, 68% planejavam trocar de emprego, contra 65% dos Millennials.
Mas esse cenário levanta uma questão fundamental para quem está pensando em mudar de emprego: quanto tempo é necessário permanecer em uma empresa antes de buscar novos desafios? A resposta não é tão simples quanto parece. O mercado ainda valoriza a estabilidade, mas as novas gerações trouxeram perspectivas diferentes sobre carreira e desenvolvimento profissional.
A busca por uma fórmula mágica sobre o tempo ideal de permanência na empresa esbarra na complexidade do mundo corporativo atual. Joaquim Santini, pesquisador e palestrante internacional sobre vida organizacional, é categórico: "O 'tempo ideal' depende muito do contexto, da complexidade da função, da curva de aprendizagem, da cultura da empresa e do momento de vida do profissional".
Em conversa com a EXAME, o especialista aponta que ciclos muito curtos, menos de um ano, costumam indicar que o profissional não chegou a se integrar plenamente, nem a gerar impacto mensurável. "Por outro lado, ciclos longos demais, sem crescimento ou mudança de escopo, também podem sinalizar estagnação", alerta ele.
O pesquisador define o que chama de permanência estratégica: "A permanência estratégica é aquela em que o profissional atravessa diferentes estágios, como a adaptação, contribuição, expansão de responsabilidades e, se possível, legado. Isso raramente acontece em menos de dois anos".
Num mundo cada vez mais volátil, saber permanecer tornou-se uma competência diferenciada. Santini explica que a estabilidade profissional vai muito além de simplesmente ocupar uma vaga por determinado período. "Estabilidade não é sinônimo de comodismo, é sinônimo de construção de vínculo e de maturação de entregas."
O especialista destaca que mesmo as empresas mais inovadoras valorizam pessoas que conseguiram permanecer e se desenvolver em contextos reais, com conflitos, pressões, aprendizados e resultados. "A estabilidade gera confiança, porque indica que o profissional não apenas passou, mas permaneceu, evoluiu e sustentou desafios. Além disso, é na continuidade que se formam relações mais profundas, visão sistêmica e autoridade".
A decisão de deixar um emprego prematuramente pode ter custos invisíveis que só se revelam com o tempo. Entre essas camadas, o especialista aponta: resiliência emocional ao atravessar crises e tensões internas, profundidade técnica ao lidar com projetos de médio e longo prazo, relações de confiança, e reconhecimento interno, que muitas vezes exige trajetória e não só performance pontual.
"Além disso, muitos recrutadores ainda leem movimentações frequentes como sinais de instabilidade, falta de paciência ou dificuldade de lidar com frustrações", alerta Santini.
Os números do LinkedIn mostram claramente a diferença geracional na busca por novos empregos. Enquanto 68% da Geração Z planejava mudar de emprego em 2025, apenas 41% dos Boomers tinham a mesma intenção. Santini analisa essa mudança como algo mais profundo que uma simples diferença comportamental.
"As novas gerações entraram no mercado de trabalho num mundo em transformação constante, onde a lógica da permanência foi substituída pela lógica do propósito e da autonomia."
O pesquisador explica que, para muitos jovens, permanecer em uma empresa que não oferece desenvolvimento ou que fere seus valores não é sinal de lealdade. "A estabilidade, para eles, precisa ter significado, não apenas tempo", observa.
Sobre o futuro, o especialista projeta "carreiras não lineares, com múltiplos ciclos, reinvenções e até pausas intencionais. O novo prestígio profissional não será apenas o tempo de casa, mas a coerência da trajetória e a potência das entregas ao longo dela."
Embora a permanência seja valorizada, existem situações em que deixar um emprego rapidamente pode ser a decisão mais acertada. Santini é claro sobre a hora de mudar de emprego: "Vale a pena quando o ambiente se mostra incompatível com aquilo que foi prometido, ou quando a permanência começa a gerar adoecimento, perda de propósito e bloqueio de crescimento."
O especialista também considera legítima a saída quando o profissional identifica que entrou por um equívoco estratégico, seja da empresa ou dele próprio. No entanto, faz um alerta: "O importante é que essa saída precoce não vire um padrão repetitivo e inconsciente".
Antes de tomar a decisão de deixar um emprego, especialmente se for em menos de um ano, Santini recomenda alguns cuidados fundamentais. O primeiro deles é evitar a impulsividade: "Avalie se a vontade de sair é uma fuga de algo desconfortável (mas importante) ou um movimento genuíno de crescimento".
Ele também destaca a importância de fechar ciclos com dignidade. "Sempre que possível, converse com seus líderes, ofereça transição e agradeça pela experiência".
Outro ponto crucial tem relação com construir uma narrativa coerente para exaltar sua trajetória. "No seu currículo, LinkedIn e entrevistas, mostre como aquela experiência, ainda que breve, fez parte de uma trajetória em construção", aconselha Santini.
Sobre a questão da reputação profissional e o fenômeno conhecido como job hopping, o pesquisador reconhece que ainda existe certo preconceito, especialmente em setores mais tradicionais. "No futuro, a reputação profissional será cada vez menos baseada na permanência estática e mais na capacidade de aprender, contribuir e se reinventar. Mas essa transição cultural ainda está em curso e exige cuidado estratégico", acrescenta.