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O que é preciso para se tornar papa? Entenda o caminho até o cargo mais alto da Igreja Católica

Não existe uma faculdade para formar papas. O caminho até o cargo máximo da Igreja Católica passa por anos de formação religiosa, liderança e, em alguns casos, experiência no Vaticano

Padres e outros religiosos acompanham o funeral do Papa Francisco no Vaticano (Filippo Monteforte/AFP)

Padres e outros religiosos acompanham o funeral do Papa Francisco no Vaticano (Filippo Monteforte/AFP)

Publicado em 26 de abril de 2025 às 07h09.

Última atualização em 26 de abril de 2025 às 08h00.

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Ao contrário do que muitos imaginam, o único requisito formal para ser eleito papa é simples: ser um homem batizado na fé católica. Na prática, porém, o processo é muito mais complexo e tradicionalmente reservado aos membros de longa carreira e experiência na Igreja.

“Sempre se pressupõe que seja um padre que virou bispo, que depois virou cardeal”, conta Brenda Carranza, professora de Antropologia da Religião da Unicamp.

Apesar disso, a especialista lembra que qualquer fiel católico pode ser eleito papa, mesmo que não tenha sido ordenado padre, bispo ou cardeal — embora essa possibilidade seja considerada altamente improvável.

De forma prática, o caminho para se tornar um papa é dividido nas seguintes fases:

Formação inicial (caminho tradicional):

  • Propedêutico: período de discernimento vocacional.
  • Seminário: 3 anos de estudos em Filosofia + 4 anos de estudos em Teologia.
  • Ordenação diaconal: torna-se diácono.
  • Ordenação sacerdotal: torna-se padre.

Evolução na hierarquia eclesiástica:

  • Atuação como padre: liderando paróquias e realizando trabalhos pastorais.
  • Nomeação como bispo: caso se destaque como padre, é convidado para ser bispo.
  • Atuação como bispo: liderando dioceses e ganhando experiência administrativa e pastoral.
  • Nomeação como cardeal: feita diretamente pelo papa.

Experiência adicional valorizada:

  • Experiência diplomática (por exemplo, em nunciaturas ou representações da Santa Sé).
  • Atuação no Vaticano (em órgãos como a Cúria Romana).
  • Domínio de línguas (especialmente o italiano, além da língua nativa).
  • Habilidades de liderança e conhecimento da burocracia vaticana.

Eleição no Conclave:

  • Participação no Conclave: cardeais com menos de 80 anos são chamados para votar em Roma.
  • Eleição como Papa: escolhido entre os cardeais (ou excepcionalmente, entre outro católico batizado).

À EXAME, Brenda Carranza, professora de Antropologia da Religião da Unicamp, explica como funciona cada fase para chegar ao cargo mais alto da Igreja Católica:

A formação de um futuro papa

O caminho tradicional começa cedo. Um jovem que deseja ser padre inicia sua trajetória com o chamado propedêutico — um período inicial de discernimento vocacional. Depois disso, ingressa no seminário para estudar três anos de Filosofia e, em seguida, quatro anos de Teologia.

Antes de se tornar padre, o seminarista é ordenado diácono. Só depois da ordenação sacerdotal ele assume paróquias e passa a atuar sob a orientação do bispo. "Nem todo padre se torna bispo, porque não há trabalho para todos. Mas, se for indicado e aceito, ele pode ser nomeado bispo", diz Carranza.

Aqueles que se destacam no episcopado podem ser elevados a cardeais, sempre por nomeação do papa vigente. São os cardeais que formam o Colégio Cardinalício, grupo responsável por eleger o novo papa em um conclave realizado no Vaticano.

Mais do que fé: liderança, idiomas e diplomacia

Embora não exista uma formação específica para o papado, a experiência pastoral, administrativa e diplomática é altamente valorizada. "Competências de liderança e experiência diplomática influenciam bastante", afirma a professora. Conhecer a burocracia do Vaticano e ter exercido cargos anteriores na Cúria Romana também são fatores que pesam na escolha.

Outro ponto importante: domínio de línguas. “É esperado que o Papa fale pelo menos duas línguas — a sua nativa e o italiano, que é a língua de consenso no Vaticano”, explica Carranza. Como líder mundial de mais de 1,3 bilhão de católicos, habilidades de comunicação são essenciais.

Fatores políticos no conclave

O termo conclave vem do latim "cum clavis", que significa "com chave", e faz referência ao fato de que, historicamente, os cardeais eram trancados em uma sala fechada para garantir a integridade e a confidencialidade do processo eleitoral do papa.

Além da formação e das competências individuais, o jogo político dentro da Igreja pesa ainda hoje no momento da eleição. "Se o candidato é mais progressista ou conservador, se alinha mais à direita ou à esquerda, tudo isso influencia o resultado, dependendo dos ventos que sopram no conclave", afirma Carranza.

Atualmente, cerca de 131 cardeais têm direito a voto e são convocados a Roma para escolher o novo papa que substituirá Francisco.

Desde quando existe o papado?

O papado, ou seja, a instituição que reconhece o bispo de Roma como líder supremo da Igreja Católica, remonta ao século I, com a figura de São Pedro. Segundo a tradição cristã, Jesus Cristo conferiu ao discípulo Pedro uma posição especial de autoridade sobre seus seguidores, e é a partir dessa missão que se origina o papado.

Assim, São Pedro é considerado o primeiro Papa e teria liderado a comunidade cristã em Roma até seu martírio, por volta do ano 64 d.C., durante a perseguição do imperador Nero.

“Biblicamente e historicamente, há fortes evidências de que Pedro foi o primeiro papa. Já nos evangelhos, ele é apontado como líder dos apóstolos. Depois, nos primeiros séculos, os padres da Igreja e documentos arqueológicos reforçam essa tradição: desde o século II, todas as listas de bispos de Roma começam com o nome de Pedro”, afirma Paulo Raphael Andrade, professor de Filosofia e Teologia da PUC-SP.

A sucessão apostólica - a ideia de que a liderança da Igreja passa de geração em geração, de bispo para bispo - se consolidou ao longo dos séculos, tornando o bispo de Roma uma referência central para toda a cristandade. Ainda que nos primeiros tempos o papel do papa fosse mais de liderança espiritual do que de poder político, ao longo da história o papado se estruturou como uma das instituições mais influentes do mundo, moldando tanto a religião quanto a política ocidental.

Considerando São Pedro, ao longo da história, a Igreja Católica reconheceu oficialmente 266 papas.

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