Tarciana Medeiros, CEO do Banco do Brasil, e uma das poucas mulheres que lidera uma empresa listada no Ibovespa (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 20 de julho de 2025 às 08h05.
O Ibovespa, principal indicador do desempenho das ações negociadas no Brasil, conta com 84 empresas listadas. O novo portfólio deve ser anunciado no final de agosto, mas até o momento, apenas 3 empresas, que estão no índice, são lideras por mulheres. São elas:
Tanto Magda quando Jeane foram a segunda mulher a ocupar a cadeira de CEO das companhias que lideram hoje. Já Tarciana é a primeira mulher a liderar a empresa estatal.
Esse número é um reflexo do perfil da liderança das empresas no Brasil. Segundo o último estudo da consultoria Deloitte sobre o tema, no Brasil a representação de mulheres em cargos de CEO era 2,4% em 2023. Para identificar a diversidade nas empresas, a B3 exige desde 2023 um relatório das companhias listadas.
Na bolsa de valores, os homens também são maioria: o número de investidores homens que entram em equities é historicamente maior que o número de mulheres. Por outro lado, as mulheres apresentam valor mediano do primeiro investimento de R$ 372, enquanto o dos homens é de R$ 164.
Ana Buchaim, vice-presidente da B3, compartilha à EXAME as medidas de diversidade dentro e fora da bolsa.
Com a aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a B3 criou o Anexo ASG, uma medida que estimula a transparência nas empresas listadas. A ação entrou em vigor em 2023, e desde então as empresas devem divulgar a presença (ou ausência) de diversidade, equidade e inclusão na diretoria estatutária e nos conselhos de administração. Caso não adotem práticas de diversidade, como gênero e raça, devem explicar os motivos.
A lógica do “pratique ou explique” oferece um parâmetro para investidores e consumidores: o de considerar, além dos indicadores financeiros, os valores representados por cada companhia.
“Essa transparência permite que o mercado tome decisões mais conscientes, favorecendo empresas que, de fato, estão comprometidas com a diversidade”, afirma a vice-presidente da B3.
Para apoiar esse avanço, a instituição também oferece o Guia de Boas Práticas em Diversidade, Equidade e Inclusão e promove pesquisas que ajudam as empresas a fazer um diagnóstico preciso e estruturar planos de ação alinhados à estratégia de negócios.
Outra frente importante é o IDiversa B3, criado também em 2023, é o primeiro do tipo no Sul Global e mede a performance financeira de companhias com boas práticas de diversidade de gênero e raça. “A importância desse índice é mostrar, com dados, que a pluralidade também gera resultado”, afirma a VP da B3.
Ana Buchaim, vice-presidente da B3: “Diversidade não é discurso. É ação estratégica que começa dentro de casa, mas precisa influenciar o mercado inteiro” (B3/Divulgação)
Internamente, a B3 aplica o mesmo rigor. Estabeleceu metas de diversidade para todos os níveis de liderança e definiu publicamente o objetivo de ter 35% de mulheres em cargos de gestão até 2026. A meta impacta diretamente a remuneração variável de todos os gestores — inclusive do presidente.
“Queremos que os líderes se comprometam com a construção de times diversos”, afirma Buchaim.
A empresa também criou programas voltados a grupos sub-representados, como o Humanas da Tec, que recruta e forma mulheres para atuar em tecnologia, além de iniciativas de mentoria em momentos críticos para o avanço da carreira feminina, diz Buchaim.
“Reforçando o compromisso com a inclusão, a B3 realiza censos de diversidade recorrentes, monitora a equidade salarial e mantém núcleos internos para tratar das dores específicas de cada grupo”.
A cultura de ética é outro pilar: a B3, segundo Buchaim, possui um comitê especializado para investigar e resolver, com agilidade, possíveis casos de assédio. Ao mesmo tempo, promove o letramento contínuo de lideranças e equipes para garantir um ambiente seguro, respeitoso e preparado para lidar com a pluralidade.
Com 5 mulheres entre os 11 membros do conselho de administração e 3 entre os 10 diretores estatutários, a B3 está entre os 6% das empresas listadas no país que reúnem liderança feminina em ambas as instâncias, diz Buchaim. “Diversidade não é discurso. É ação estratégica que começa dentro de casa, mas precisa influenciar o mercado inteiro”.