Renato não costuma expor jogadores. Em derrotas, assume a responsabilidade (Paul Ellis / AFP)
Redação Exame
Publicado em 4 de julho de 2025 às 19h23.
Última atualização em 4 de julho de 2025 às 20h19.
Renato Portaluppi, o técnico do Fluminense, está em alta após uma nova vitória no Mundial de Clubes. Com folha salarial próxima de 10% de seu adversário, levou o Fluminense à vitória contra o saudita Al-Hilal. Nos últimos dias, passou a ser alvo de reportagens da imprensa internacional e voltou a virar pauta no Brasil graças a inúmeras histórias de quem tem mais de 40 anos de futebol.
Carismático e polêmico, Renato Gaúcho, como é conhecido, sempre foi daquelas figuras respeitadas, mas tidas como folclóricas. Conquistou títulos relevantes como treinador no Fluminense e no Grêmio (onde tem uma estátua, inclusive), mas sempre foi tratado com alguma desconfiança por especialistas e jornalistas. Nunca foi cogitado como candidato real à seleção brasileira.
Demitido pelo Grêmio, assumiu o Fluminense em abril deste ano e em três meses de trabalho levou o clube à maior campanha de sua história. É uma ótima oportunidade para mergulhar nas lições de vida e gestão de pessoas do técnico.
Seu estilo informal esconde uma habilidade: Renato entende de gente. E, por isso, seu jeito de conduzir equipes oferece lições valiosas para líderes empresariais que querem melhorar sua relação com seus times.
Renato é conhecido por manter uma relação próxima com os atletas. Conversa individualmente, percebe o momento de cada um e evita tratar o grupo como massa homogênea. Neste mundial, por exemplo, defendeu o centroavante Everaldo, criticado pela fase sem gols. “Daqui a pouco vai cair nas graças da torcida. Hoje não está fazendo gols, mas taticamente tem sido muito importante para o nosso time”, disse em uma coletiva.
Lição: Gente precisa ser tratada como gente. Gestores que se interessam pela individualidade de seus colaboradores criam confiança e extraem o melhor de cada um.
Renato evita o microgerenciamento. Dá liberdade a jogadores-chave para que criem e decidam dentro de campo — e cobra resultado com base nessa confiança. Neste mundial, por exemplo, abriu caminho para Thiago Silva definir a estratégia para a reta final contra a Inter de Milão – deixando Árias livre da necessidade de marcar. “Às vezes quem está lá vê algo que o treinador não está vendo”, disse.
Lição: Autonomia fortalece a responsabilidade. Quando o líder acredita no potencial da equipe, ela responde com mais entrega e criatividade.
Nos bastidores, Renato é lembrado por resolver conflitos com conversas francas. Publicamente, é direto, mas sabe dosar sinceridade com carisma — e evita rodeios.
Lição: Comunicação assertiva e humana evita ruídos, desmobiliza conflitos e fortalece vínculos de confiança dentro da equipe.
Mesmo em semanas decisivas, o clima com Renato tende a ser descontraído. Ele sabe que ambiente tenso paralisa — e que a leveza pode ser uma aliada da performance. Neste mundial, por exemplo, aparece em posts feitos por sua filha, Carol, jogando tênis de mesa na concentração.
Lição: Ambientes tóxicos minam produtividade. Um bom clima de trabalho é tão importante quanto metas claras.
Renato não costuma expor jogadores. Em derrotas, assume a responsabilidade. Neste mundial, após dificuldades contra Ulsan e Mamelodi, sempre enfatizou: “eu sei o que estou fazendo”. Em vitórias, valoriza o grupo. Isso fortalece o senso de pertencimento.
Lição: Um líder que protege sua equipe conquista lealdade. Delegar a culpa é um atalho para perder autoridade moral
Renato adora dizer que aprendeu o jogo na prática. Brinca com seu “DVD” de melhores lances para mostrar aos jogadores que fala com propriedade. E fala mesmo: foi campeão como jogador e técnico — e entende o que é estar lá dentro.
Lição: Líderes que conhecem o dia a dia da operação inspiram mais respeito. A experiência prática, quando bem aplicada, se transforma em autoridade legítima.
Aqui, uma antilição do técnico. Renato gosta de dizer que “quem sabe, sabe; quem não sabe, estuda”. É uma forma de proteger o lado lúdico e a experiência do futebol brasileiro contra o avanço do futebol europeu nos últimos anos
Antilição: Leveza e experiência podem ser equilibrados com inovação e humildade para abraçar o novo. O risco, aqui, é que grandes vitórias, ou grandes sucessos empresariais, seguem os líderes diante dos desafios do futuro.
Uma visão de como adaptar as ideias de Renato Portaluppi para o cargo de CEO de uma companhia, segundo um dos mais experientes especialistas em liderança do Brasil, seria mais um menos assim: