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Robin Williams e o uso do verbo suicidar-se

Diogo Arrais, professor do Damásio Educacional, fala sobre reflexividade do verbo suicidar-se, que veio à tona com a suspeita sobre a morte de Robin Williams


	Robin Williams: suspeita é de suicídio
 (Alessia Pierdomenico/Files/Reuters)

Robin Williams: suspeita é de suicídio (Alessia Pierdomenico/Files/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 12 de agosto de 2014 às 12h22.

Perdemos, infelizmente, um grande gênio da Arte: Robin Williams. A Polícia crê em suicídio. É muito triste indagarmos: “Robin Williams, com toda aquela expressividade, suicidou-se?”

O verbo “suicidar-se”, que provém do Latim “sui: a si mesmo” e “cida: que mata” classifica-se como verbo pronominal: ações concebidas com o pronome; são os verbos conectados a um pronome, como “arrepender-se” e “queixar-se”.

Aparentemente se vê a forma “suicidar-se” como pleonástica, redundante; gramaticalmente, não. Por consagração, tradição, o “se” é parte integrante do verbo, assim registrado nos dicionários. Exemplo disso: não se escreve que Fulano “arrepende” ou Fulano “suicida”.

Alguém que se queixa da vida suicida-se, infelizmente. 

No entanto, deve-se considerar que a citada parte integrante do verbo é praticamente vazia de significado. Costumo dizer aos meus leitores que é uma espécie de apêndice do verbo; no futuro, talvez, após uso e consagração dos dicionários, venha a se tornar “apendicite” e seja retirado o “se”. Hoje, não.

Por que, também, não classificarmos o termo “se”, em “suicidar-se”, como reflexivo? Vejamos!

A reflexividade, como se sabe, consiste na reversão da ação para a pessoa do próprio sujeito:

Robin Williams talvez não se amasse mais.

Aquele sujeito, no surto, cortou-se.

Na chamada voz reflexiva, o sujeito é agente e paciente (age e recebe a ação). Note que é possível “amar” outra pessoa; que é possível “cortar” outra pessoa; nos dois citados exemplos, o sujeito se ama e se corta.

Em contrapartida, com o “se” classificado como parte integrante do verbo, não se observa o “agir e receber a ação”.

Como um belo desafio gramatical, veja a seguinte lista de verbos: arrepender-se, sentar-se, queixar-se, pentear-se, enganar-se. Pergunta-se: quais, dos citados verbos, dependem obrigatoriamente do “se”? É possível “pentear outra pessoa”? É possível “enganar outra pessoa”? Sim! Bingo! As formas “pentear-se” e “enganar-se” são, pois, reflexivas.

Por um outro lado, as formas “arrepender-se”, “sentar-se”, “queixar-se” e “suicidar-se” são verbos pronominais e possuem a parte integrante do verbo.

Robin Williams provavelmente suicidou? Ops! Não! Robin Williams provavelmente se suicidou.

Um abraço, até a próxima e siga-me pelo Twitter!

 

Diogo Arrais
@diogoarrais
Professor de Língua Portuguesa – Damásio Educacional
Autor Gramatical pela Editora Saraiva
Acompanhe tudo sobre:Dicas de PortuguêsGramática

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