Casual

120 mil visitantes, R$ 184 milhões, dois bois: a vibração de Parintins, o maior festival da Amazônia

A edição de 2025 foi de recordes. Um novo bumbódromo e um interesse nacional cada vez maior devem continuar impulsionando a rivalidade entre Caprichoso e Garantido

A entrada do Bumbódromo: clima de tranquilidade, apesar da divisão rigorosa entre azul e vermelho (Leandro Fonseca )

A entrada do Bumbódromo: clima de tranquilidade, apesar da divisão rigorosa entre azul e vermelho (Leandro Fonseca )

Lucas Amorim
Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 5 de julho de 2025 às 08h01.

Última atualização em 5 de julho de 2025 às 08h13.

"Na dança, mantém viva a tradição; Bandeiras enfeitam terreiros e ruas, é festa pé no chão". A toada "Boi do Povo, Boi do Povão" toca alto nos fundos de um tradicional barco de linha no meio do Rio Amazonas. Cerca de 20 pessoas pulam e jogam cerveja para o alto.

É segunda-feira, 30 de junho, e eles acabaram de receber a notícia que o boi Garantido foi o campeão do Festival de Parintins 2025, após três títulos consecutivos de seu adversário, o Caprichoso. É o 33º título do boi vermelho, conhecido por ser o mais popular, ante 26 vitórias do azul, conhecido por suas alegorias elaboradas e muita tecnologia.

Esse é um dos 691 barcos que cruzam o Rio Amazonas de Manaus a Parintins e depois voltam -- felizes ou resignados -- para a capital do Amazonas. A viagem de ida, descendo o Rio, leva de 8 a 20 horas, dependendo do modelo de embarcação. Na volta, contra a correnteza, o tempo pode dobrar.

A edição de 2025, realizada de 27 a 29 de junho, foi a 58⁠ª do Festival de Parintins, a maior festa folclórica do norte do país e um dos maiores espetáculos teatrais do mundo. Este ano foi de recordes. Foram mais de 120 mil visitantes, que chegaram à ilha distante 400 quilômetros da capital não só nos barcos, como em mais de mil voos pequenos e médios. A movimentação econômica chegou a 184 milhões de reais, outro recorde.

"Eu posso dizer que foi o maior festival de todos os tempos", disse o governador Wilson Lima em coletiva. Na primeira noite do festival ele assinou o contrato para elaboração do projeto do novo Bumbódromo, a arena onde os bois se apresentam, que substituirá o atual, com capacidade para 25 mil pessoas.

O governo destacou que o número de embarcações cresceu 25% em relação a 2024. O de voos aumentou 146% na comparação com 2019. O governo comemorou também uma queda de 24% no furto de celulares e de 41% em episódios de lesão corporal. Oitenta câmeras instaladas pela cidade de 100 mil habitantes ajudaram, pela primeira vez, a coibir a violência com reconhecimento facial.

O meu boi, e o contrário

Para preparar suas apresentações, que incluem cerca de 300 músicos e 1,5 mil integrantes, além de carros alegóricos de dar inveja aos das escolas de samba do Rio e São Paulo, cada boi recebe 5 milhões de reais do governo. Recebe, também, verbas de patrocinadores como a Coca-cola, que há 29 anos apoia o festival. Em 2025, novos patrocinadores, como Natura e Mercado Livre, se uniram a Parintins.

O interesse pelo festival cresce junto com o interesse pela Amazônia. Em novembro, Belém, distante 900 quilômetros de Parintins, recebe a COP30, a conferência global do clima. Será uma oportunidade para o mundo olhar a floresta e seus costumes – o que o Festival de Parintins faz há 6 décadas.

Na ilha, cada patrocinador precisa respeitar a divisão de cores. A Coca-Cola aparece em azul, por exemplo, assim como a cerveja Brahma. A companhia aérea Azul, por sua vez, também vira vermelha. Assim como a agência do Bradesco, com o logo dividido ao meio.

O bumbódromo também é dividido rigorosamente ao meio. As torcidas populares, ou galeras, não pagam entrada, mas precisa passar longas horas nas filas. São 5 mil de cada lado. Pulam sem parar durante as 2h30 de exibição de seu boi; e precisam ficar em silêncio absoluto na apresentação do “contrário”, como se referem a seu oponente. A animação conta ponto para seu boi, assim como outros 20 itens, como alegorias, música e destaques individuais, como a Sinhazinha (a herdeira da fazenda) ou a Cunhã-Poranga (a moça mais bonita da tribo).

De Eunice a Chico Mendes

Em três noites de festival, com ordem de apresentação sorteada, cada boi conta sua versão para uma história tradicional: o boi preferido da filha do fazendeiro é morto e um pajé é chamado às pressas. É uma lenda que, com suas adaptações, embala os bois-bumbás também do Maranhã e do interior do Nordeste.

A história é recheada de atualidades. Este ano, o Garantido, que focou em sua conexão com o povo, homenageou Eunice Paiva; o Caprichoso, que focou na floresta, homenageou Chico Mendes. O apresentador de cada boi conduz a festa e, junto com o “Amo do Boi”, capricha nas provocações aos contrários, levantando sua “galera”. Faz parte da festa. Como diz uma toada deste ano do Caprichoso: “arreda quem não aguenta”.

Para uma festa com tanta rivalidade, o clima entre as duas galeras é de tranquilidade, dentro e fora da arena. Quando as apresentações terminam, as ruas, já apinhadas, ficam ainda mais cheias. Torcedores terminam a madrugada em barraquinhas de churrasco, de tacacá, em baladas improvisadas.

Ou procurando um lugar para pendurar sua rede nas centenas de barcos que começam a voltar a Manaus. Como diz uma toada do Garantido: “Povo de fibra, curtindo a sua vida em poesias inundadas de esperanças”.

*O jornalista viajou a convite da Coca-Cola do Brasil

Acompanhe tudo sobre:AmazonasCoca-ColaManausTurismo

Mais de Casual

BYD tem 35 mil emplacamentos do Dolphin Mini, modelo 100% feito no Brasil

Rolex 6 Horas São Paulo: corrida com hipercarros e GTs promete muita emoção e velocidade

Agenda cultural em São Paulo: exposições e apresentações para o fim de semana

Os 5 melhores filmes e séries para maratonar no fim de semana