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Amazon lidera nova era do entretenimento fora dos Estados Unidos

Alemanha, Índia, Espanha e Brasil disputam o protagonismo no streaming global com produções locais

Maxton Hall: o fenômeno alemão da Prime Video (Divulgação)

Maxton Hall: o fenômeno alemão da Prime Video (Divulgação)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de Casual

Publicado em 27 de outubro de 2025 às 07h40.

Última atualização em 27 de outubro de 2025 às 12h11.

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Berlim (Alemanha)* - Se a cultura é o reflexo de um país, os Estados Unidos estiveram um passo à frente na imagem de si que promovem mundo afora no último século. Hollywood emplacou o cinema como motor de sucesso, com receita anual de US$ 130 bilhões, segundo a PwC. A indústria literária americana gerou US$ 32,5 bilhões em 2024, mostram os dados da Association of American Publishers, e o mercado da música segue na pista com quase US$ 25 bilhões arrecadados no ano passado, de acordo com o US Music Revenue Database. 

Mas esse é um império com estruturas abaladas, graças ao streaming. E o contexto é positivo para a diversidade: nos últimos anos, produções culturais de fora dos Estados Unidos vêm ganhando destaque e receita. O filme mais assistido da Netflix é o coreano Guerreiras do K-Pop, o porto-riquenho Bad Bunny ocupou o topo das paradas no Spotify e os livros do alemão Franz Kafka mesmo que tão antigos estão entre os mais lidos do ano.

Essa globalização cultural é algo que a Amazon também vem notando no consumo de séries, filmes, livros, músicas e podcasts. No Prime Video, a série alemã Maxton Hall - O Mundo Entre Nós se tornou o lançamento de Original Internacional mais bem-sucedido da plataforma de todos os tempos. Ficou em primeiro lugar em mais de 120 países e chegou ao top 3 em outros 50 — incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido.

E ela não é a única. Produções como Deadloch (Austrália), Culpa Tuya (Espanha), Panchayat (Índia) e a brasileira Cangaço Novo também estão entre as séries internacionais que vêm ganhando destaque na plataforma, tanto quanto os conteúdos norte-americanos.

"Estamos ajudando a remodelar o cenário criativo de três maneiras fundamentais: empoderando criadores locais, possibilitando o intercâmbio cultural global e ampliando o acesso à cultura", disse David Zapolsky, Chief Global Affairs & Legal Officer da Amazon durante o evento.

Maxton Hall se tornou a série internacional mais assistida do Prime Video, figurando no top 1 de 120 países (Divulgação)

A indústria criativa fora dos EUA movimenta a economia

A descentralização cultural não é só virtual: ela também movimenta economias locais. Para além do consumo de conteúdos estrangeiros, a Amazon produziu o Relatório Internacional sobre Indústrias Culturais e Criativas para estudar o impacto que essas produções têm dentro e fora da plataforma.

No Canadá, a produção da série Upload mobilizou 600 negócios e 1.500 pessoas — 95% da equipe era canadense. Na Escócia, The Rig gerou £40 milhões em valor agregado e impulsionou um crescimento de 110% nos investimentos criativos desde 2019.

Em paralelo, cidades ganham visibilidade turística. Málaga, na Espanha, viu o número de visitantes aumentarapós a estreia de Culpables. No estado indiano de Madhya Pradesh, após as filmagens de Panchayat, foi criada uma política pública para atrair novas produções que atraiu mais de 200 novos projetos desde 2020. Hoje, na Índia, a indústria de streaming de vídeo gera aproximadamente 170 mil empregos diretos e indiretos por ano.

Até o Brasil entrou na lista. Desde que chegou, em 2019, a plataforma já lançou 45 títulos originais produzidos no país e investiu mais de R$ 5 bilhões na indústria audiovisual brasileira. Locais como Paraty, Vassouras e Manaus, que serviram de cenário para séries originais do Prime Video, tiveram um aumento turístico e econômico evidente após a estreia das produções audiovisuais.

Diferentemente da Netflix, a Amazon não abre dados de audiência sobre suas séries e filmes, como número de horas assistidos ou espectadores. Mesmo assim, na lista dos mais assistidos, as produções americanas já têm forte concorrência com conteúdos da Alemanha, Índia, Espanha, Itália, México e Brasil.

Autores do KDP que fizeram sucesso global a partir de histórias locais

Criação literária sem fronteiras

Para além de filmes e séries, o Relatório Internacional sobre Indústrias Culturais e Criativas também fez uma análise extensiva sobre o mercado literário — um dos mais fortes da Amazon, desde a criação do Kindle. Nessa indústria, a globalização é ainda mais latejante. 

Com o Kindle Direct Publishing (KDP), ferramenta de autopublicação, escritores independentes têm alcançado públicos internacionais sem a necessidade de editoras tradicionais. A brasileira Jéssica Macedo é um dos grandes exemplos: com mais de 200 títulos publicados e traduzidos para seis idiomas, ela lidera o ranking de leitura no Kindle Unlimited no Brasil e na Europa, e já teve um de seus livros adaptado para o cinema.

Na Austrália, a autora C.J. Archer vendeu mais de 2 milhões de cópias pela plataforma após enfrentar contratempos na publicação tradicional. A italiana Chiara Assi transformou seu blog de viagens em ficção bestselling, e também seguiu o mesmo caminho de sucesso com milhares de cópias vendidas. "Meus livros chegaram ao Brasil, inclusive. Um professor disse que andava estudando italiano com eles", comentou ela à EXAME durante o evento.

Globalmente, milhares de autores da Alemanha, Itália, França, Índia e Austrália publicam seus livros e alcançam leitores nos EUA, Reino Unido, Japão, Canadá e México.

Gravação de Audiobook nos estúdio da Audible em Berlim

Música e voz com identidade

Na música, são mais de 2,8 milhões de artistas conectados com ouvintes por meio do Amazon Music. Os nomes mais ouvidos no Brasil são Henrique & Juliano; na Alemanha, AYLIVA; no Japão, Mrs. Green Apple e na França, Vianney. O top 10 de artistas mais escutados inclui canções em português, alemão, francês, espanhol, hindi e japonês — reflexo da diversidade musical dos últimos tempos.

A Audible, plataforma de áudio da Amazon, também tem sido outro motor para estimular a produção local de audiolivros e séries. A iniciativa chegou ao Brasil há exatos dois anos com um catálogo de cerca de 600 mil audiolivros. Ao longo desse período, ampliou a oferta para mais de 750 mil títulos, um acervo sem precedentes no país.

De 2023 para cá, já são 7.800 títulos em português, incluindo mais de 60 audiosséries com artistas, como Lázaro Ramos, Cláudia Abreu, Denise Fraga, Alice Carvalho, Bianca Comparato, Eduardo Moscovis, Marcos Palmeira, Maitê Proença, entre tantos outros.

Além das vozes já reconhecidas, a marca também já trabalhou com mais de 870 narradores profissionais, em mais de 20 estúdios e produtoras locais, em diversos estados do Brasil.

No Canadá, um círculo de escritores indígenas recebe mentoria para contar histórias ancestrais. E, na Índia, artistas compartilham suas trajetórias em uma série de vídeos com mais de 58 milhões de impressões.

Cultura global?

Mais do que promover diversidade, o avanço de produções culturais fora dos Estados Unidos reforça um ponto essencial: a cultura é um ativo econômico de alto impacto, e que vem crescendo ao longo dos anos.

Ao investir em talentos locais, impulsionar o turismo e ampliar o alcance de vozes antes invisibilizadas, o streaming deixa claro que a descentralização do entretenimento não é só possível — ela já está em curso.

E se a pergunta for se essa é uma era de cultura verdadeiramente global, a resposta talvez esteja nas listas de mais vendidos, nos rankings de audiência e nas trilhas sonoras dos fones de ouvido. Seja com dragões da Índia, romances da Itália ou audiolivros do Brasil, a cultura deixou de ser exportada por um único país para ser compartilhada, remixada e celebrada mundo afora.

*A repórter viajou a convite da Amazon.

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