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Como a mulher mais poderosa de Portugal transformou cortiça em vinho

Luísa Amorim, considerada a mulher mais rica do país, pegou carona no império de cortiça da família e reinventou o mercado de vinhos no Dão, Alentejo e Douro

Luísa Amorim: o gênio por trás das principais vinícolas portuguesas (Luísa Amorim/ Divulgação)

Luísa Amorim: o gênio por trás das principais vinícolas portuguesas (Luísa Amorim/ Divulgação)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de Casual

Publicado em 30 de outubro de 2025 às 20h41.

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O processo de produção de vinhos pode ser, de certa forma, comparado a construir uma casa. O cultivo das vinhas, o desenho dos rótulos e as porcentagens de uvas se assemelha aos desenhos arquitetônicos de um novo espaço, das escolhas de vigas e do estilo. É uma relação que a portuguesa Luísa Amorim, CEO da Quinta da Taboadella e herdeira do império de cortiça, leva para a vida.

A mais nova das três filhas do bilionário Américo Amorim, conhecido como o "rei da cortiça" pela liderança à frente do maior grupo mundial de transformação do material, a família de Luísa trabalha com rolhas de garrafas de vinho há séculos. Depois que assumiu o negócio, ela se tornou uma das mulheres mais influentes de Portugal — já pelo terceiro ano seguido na lista das 50 Mulheres Mais Poderosas nos Negócios da Forbes do país.

A família Amorim lidera o ranking dos Mais Ricos de Portugal com fortuna avaliada em 5,4 bilhões de euros. E Luísa expandiu o empreendimento justamente no mercado de vinhos, dando continuidade ao legado da família com uma abordagem visionária e inovadora que conecta tradição, natureza e negócios.

"A ligação da minha família com a bebida vem de centenas de anos", disse ela em entrevista à Casual EXAME em uma degustação intimista, com algumas das garrafas que havia trazido ao Brasil para a ProWine de 2025. "Tive uma experiência aos 21 anos em vários para saber mais sobre hotelaria e enologia. Quando voltei para Portugal, com 25, já tinha um bichinho coçando no meu peito para fazer algo mais sério e, ao mesmo tempo, artístico com vinhos."

Para Luísa, o vinho vai além da bebida alcoólica. Ele é uma expressão cultural que reflete a história, as pessoas e a terra. "A cultura não é só cultivar, a cultura é isto, mais do que produzir uma bebida alcoólica, é produzir uma tradição", afirma.

Da cortiça à bebida engarrafada

Nos anos 1980 e 1990, a família Amorim soube aproveitar a entrada de Portugal na Comunidade Europeia para expandir ainda mais os horizontes, diversificando-se para o setor imobiliário, bancário e, mais tarde, o vinícola, área que Luísa adotaria com paixão. Mas a experiência com a cortiça foi central para a formação dela como CEO da empresa.

"Com a cortiça eu aprendi a arte da paciência. Fazer uma colheita de cortiça não é como uma fruta com temporada, que sai anualmente. O ciclo completo demora no mínimo 9 anos. Tem todo aqui um tempo, e é preciso saber esperar", compartilha.

A partir dos 30 anos — já formada em Direção Hoteleira, com curso de Marketing no Porto e nos Estados Unidos e formações em Gestão de Empresas e Finanças —, Luísa assumiu a direção-geral da empresa e nunca mais deixou o mundo do vinho. Em 1999, a família adquiriu a Burmester e, seis anos mais tarde, ela vendeu o empreendimento e ficou com a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, produtora de vinhos do Douro. Por lá, também implementou uma unidade hoteleira, integrada à rede Relais e Châteaux, para exploração do enoturismo.

Depois desse espaço estabelecido, vieram as outras vinícolas, em outras áreas de Portugal. No Dão, assumiu como CEO da Quinta da Taboadella. E em 2017, mais recentemente, inaugurou no Alentejo a Herdade da Aldeia de Cima, situada na Serra do Mendro, resultado de uma recuperação do solo e do espaço como um todo.

"Era uma área que me dizia muita coisa, tinha natureza, relação pessoal, as viagens — e eu adoro o mar —, tinha parte comercial, tinha um pouco de tudo. Sempre foi o que eu gostei fazer: um pouco de tudo ao mesmo tempo", completa ela.

À frente do negócio, ela tem defendido um modelo mais personalizado e intimista, com vinícolas pequenas e com produções limitadas que criam vinhos que expressam o terroir e a tradição local.

"Só trabalhamos com castas nacionais e tradicionais. Para mim é muito importante o sentido da portugalidade. Porque sou portuguesa, e acho que temos que se preocupar por aquilo que é nosso", afirma, destacando o foco que dedica à produção vinícola e ao enoturismo. "Quanto mais eu viajo, mais eu entendo a importância disso, e é algo que não vou abrir mão."

Hoje, as produções de todas as vinícolas geridas por ela são de baixa escala. Variam entre 40 e 60 mil garrafas ao ano, para tornar a produção mais exclusiva — e respeitosa com o manejo das vinhas.

O futuro e o novo

Tradição e respeito aos processos à parte, Luísa também está atenta às mudanças rápidas do mercado, especialmente com a chegada da inteligência artificial. À Casual EXAME, ela contou que está atenta ao uso da tecnologia, mas acredita que é os trabalhos braçais — aqueles que não podem ser substituídos — se tornarão soberanos.

"A inteligência artificial vai nos levar por caminhos distintos, o que é um pouco assustador para quem trabalha com quase tudo de maneira manual. Mas estou convencida de que há imensos empregos que vão se engrandecer. Trabalhos braçais, para mim, vão ter um sucesso enorme", reflete ela. "É aquilo que a IA não consegue fazer. É ali onde a gente tirará o que há de maior valor em todas as cadeias de trabalho.

Diante do novo em um mercado já consolidado, Luísa ainda vê espaço para inovação no manejo das vinhas e se sente aberta a conhecer o mundo para descobrir as melhores maneiras de transformar os negócios. Mas tem como principal guia a tradição da família, e enxerga o verdadeiro legado em algo que vai além dos vinhos. "É sobre transformar territórios e vidas".

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