Casual

MAC e MAM se unem na exposição "Zona da Mata"

O conceito da exposição faz referência à questão simbólica da colonização que deu início ao processo de extinção da Mata Atlântica

MAC USP:  o museu fará sua segunda exposição conjunta com o MAM.  (Instagram/Reprodução)

MAC USP: o museu fará sua segunda exposição conjunta com o MAM. (Instagram/Reprodução)

MD

Matheus Doliveira

Publicado em 19 de junho de 2021 às 12h12.

Inaugurado em 1949, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) nasceu tendo como modelo o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) - e eles foram, de fato, parceiros desde o processo embrionário do museu brasileiro. Mas, em 1962, a coleção do MAM foi doada à Universidade de São Paulo, que criou o Museu de Arte Contemporânea para abrigar o precioso acervo. Inaugurado em 1963, o MAC virou o primo rico e o MAM, o pobre. Foram anos de separação. Mas, neste sábado, 19, tudo muda. Em sua segunda parceria, MAM e MAC inauguram a exposição Zona da Mata, fortalecendo o vínculo destes dois museus com uma história estreitamente ligada à Bienal Internacional de São Paulo - da qual, aliás, ambos são vizinhos.

Ganha pouco, mas gostaria de começar a guardar dinheiro e investir? Aprenda com a EXAME Academy

Eles são unidos por uma passarela sobre a Avenida Pedro Álvares Cabral que, tanto a diretora do MAC, Ana Magalhães, como o curador-chefe do MAM, Cauê Alves, esperam que seja mais usada a partir de agora pelos visitantes dos museus do Ibirapuera. A sonhada integração pode começar com a mostra Zona da Mata. Com curadoria de ambos, mais a colaboração da curadora Marta Bogéa, é uma exposição que conta com obras de fotógrafos como a veterana Claudia Andujar, artistas como Guto Lacaz e Marcus Galan, e arquitetos como Gustavo Utrabo.

O conceito da exposição faz referência à questão simbólica da colonização que deu início ao processo de extinção da Mata Atlântica - daí a presença de arquitetos na mostra, que operam nos limites da transformação da paisagem sem que isso resulte em mais destruição. Uma das primeiras regiões ocupadas pelo colonizador estrangeiro, a Zona da Mata virou o motor de propulsão da economia mercantil do Brasil no século 16, a um custo alto para a ecologia. A urbanização e o crescimento demográfico responderam pelo resto do desastre.

O curador-chefe do MAM, Cauê Alves, mostra o outro lado da moeda. Participante da mostra, o escritório Brasil Arquitetura, de Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, exibe em Zona da Mata o projeto de recuperação do Terreiro de Oxumaré em Salvador, local de cerimônias religiosas e congregação social, um dos mais antigos templos de candomblé da Bahia, que tem 185 anos de existência. Natureza e religião se confundem num projeto em que o sagrado está no verde da paisagem.

Visionária, a fotógrafa Cláudia Andujar que, nos anos 1970 foi pioneira no registro do cotidiano da tribo Ianomâmi, comparece com imagens das atividades dos índios na floresta e na maloca. Como a Zona da Mata, eles resistem ao avanço da civilização branca, mas correm igualmente o risco de extinção.

O contraponto da integração dos ianomâmis com a natureza é a relação do homem urbano com o concreto, comentada no trabalho de Marcus Galan, Arquipélago. "Nele, Galan constrói ilhas com ervas que nascem na aridez do concreto", revela Cauê Alves, citando ainda o projeto do arquiteto Gustavo Utrabo, Restaurante no Jardim, que vai ocupar tanto a sede do MAM como a do MAC. Alguns dos projetos de Zona da Mata serão exibidos mais tarde, em outubro, no MAM, como o de Rodrigo Bueno, uma instalação programada para a Sala de Vidro (onde ficava a Aranha de Louise Bourgeois), com plantas artificiais de cores lisérgicas.

No mesmo registro irônico sobre o falso verde criado pelo homem, está o vídeo de Guto Lacaz que mostra o artista pintando uma calçada em que se destaca uma árvore verdadeira limitada por um minúsculo quadrado, dissonância que não escapa à verve do artista.

"É uma exposição sobre como enfrentar o problema da devastação ambiental que hoje atinge o País inteiro, ameaçando as populações indígenas", define a diretora do MAC, museu agora empenhado num projeto curatorial a longo prazo, que prevê a associação com outras instituições (inclusive internacionais) para dedicar seus três próximos anos a temas como a arte indígena (em 2022), a herança africana (em 2023) e as migrações (em 2024).

SERVIÇO

ZONA DA MATA. EXPOSIÇÃO MAC E MAM. ABRE HOJE (19), ÀS 11H, NO MAC (AV. PEDRO ÁLVARES CABRAL, 1.301), DEPOIS, MAM (PQE. DO IBIRAPUERA, PORTÃO 3). MAC: 3ª/5ª, 11H/19H; 6ª/DOM., 11H/21H. GRÁTIS. NO MAM, 3ª/DOM., 12H/18H.

fonte: Estadão Conteudo

Acompanhe tudo sobre:ArteExposiçõesMuseus

Mais de Casual

Quanto custa comer no restaurante brasileiro eleito um dos 50 melhores do mundo

Destaque na Bienal do Rio, Pedro Bandeira terá obra adaptada ao cinema

"Senti que a F1 e o cinema se encontraram", diz Lewis Hamilton sobre filme em que é produtor

Luxo à venda: Stellantis avalia desfazer-se da Maserati em meio à reestruturação de marcas