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No Dia Mundial do Jeans, uma discussão sobre sustentabilidade e assédio

Como o denim passou de vilão a mocinho na indústria do vestuário – e virou símbolo da não-violência contra a mulher

Calça jeans: do Oeste americano à cultura pop (Non/Divulgação)

Calça jeans: do Oeste americano à cultura pop (Non/Divulgação)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 20 de maio de 2020 às 13h04.

Não vamos falar aqui que o jeans surgiu como uma roupa resistente para uso dos mineiros e garimpeiros do Oeste americano. Nem como a peça virou um ícone da libertação dos costumes, uniforme dos astros de Hollywood e dos libertários hippies, dos punks e dos rappers, dos preppies da Ivy League e dos hipsters do Brooklyn, presente em capas de disco e campanhas publicitárias. Tudo isso você já sabe.

Talvez você não saiba que hoje, 20 de maio, se comemora o Dia Mundial do Jeans. Tudo porque, nesse dia do ano de 1873, o judeu alemão Levi Strauss patenteou o rústico tecido usado até então para cobrir as carroças. Pulando quase 150 anos e chegando aos dias de hoje, o que é importante saber é como o jeans virou um símbolo da sustentabilidade na moda.

Campanha antiga da Levi's: origem do jeans (Divulgação)

Sustentabilidade, cabe lembrar, talvez seja a discussão mais relevante do momento. Em tempos de crise causada pela pandemia do coronavírus, em que estamos rediscutindo temas como cadeias produtivas e consumo, o tema ganha ainda mais importância. E o jeans pode ser visto como uma representação do movimento da indústria da moda em direção a um desenvolvimento mais consciente.

O jeans é uma das peças que mais consome recursos naturais em sua produção, e isso tem sido um tema de debate na indústria do vestuário. Um estudo da empresa têxtil Vicunha em parceria com o instituto ECOERA calculou o que se convencionou chamar de pegada hídrica. Para cada calça jeans, chegou-se a um número: 5.167 litros.

Esse número é a somatória de todas as etapas de produção da calça jeans até o consumidor final. São 4.247 litros no plantio, 127 litros na tecelagem, 362 litros nas fases de lavanderia e confecção e 460 litros nas lavagens caseiras realizadas pelo consumidor final.

A Vicunha, uma das maiores fabricantes de denim do mundo e fornecedora de marcas como Calvin Klein, Renner, Riachuelo, C&A e Malwee, tem adotado uma série de medidas para poupar recursos naturais em sua confecção. Alguns exemplos:

- Por ano, são captados e aproveitados 140 milhões de litros de água da chuva nas unidades do Nordeste;

- 2,1 milhões de litros de água são poupados por mês com a reutilização do efluente doméstico tratado;

- Todo mês, 30 toneladas de soda deixam de ser enviadas para a estação de tratamento de efluente da empresa e 600 mil litros de água são recuperados;

- Reciclagem de resíduos do processo produtivo que são transformados novamente em fio de algodão e utilização de fibras de poliéster derivadas de garrafas PET;

- Substituição de combustíveis fósseis por combustíveis renováveis, casca da castanha de caju para geração de vapor;

Ramones: o jeans era indumentária dos punks (Divulgação)

Hoje, para comemorar o Dia Mundial do Jeans, a Vicunha destaca realiza às 17h o Webinar  “#JeansID: Humanização das marcas: Por que devemos mudar já?”, com o escritor André Carvalhal e o coordenador de moda da Vicunha Francisco Gonzalez, com mediação de Lorena Botti, coolhunter da Vicunha.

Diversas outras marcas já estão adaptando sua cadeia produtiva para confecção de jeans. A Tommy Hilfiger tem uma linha de jeans 100% reciclada, com linhas de costuras de plástico reciclado de garrafas PET, além de uma linha de produtos feitos com 100% de algodão orgânico.  Forum lançou a linha Green, que economiza 90% da água no processo de lavagem. O Re Jeans da Renner reutiliza resíduo da própria produção.

Par muita gente, no entanto, o Dia Mundial do Jeans, ou Denim Day, tem outra data, a última quarta-feira do mês de abril, e não é exatamente de comemoração. Em 1992, uma mulher de 18 anos foi estuprada no sul da Itália por um instrutor de direção, que foi julgado e condenado. Anos depois, ele apelou na Suprema Corte e acabou sendo libertado. O argumento usado então, absurdo, foi que, como a vítima estava usando um jeans justo, seria muito difícil que tivesse sido arrancado á força. Logo, o sexo teria sido consensual.

As parlamentares italianas lançaram então um protesto e passaram a ir trabalhar de calça jeans. Em 1999, o movimento tornou-se global, coordenado pela organização Peace Over Violence. Del lá para cá, as mulheres são incentivadas a usar jeans no dia marcado e a postar a hashtag #denimday.

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