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P.Andrade na Paris Fashion Week: a jornada da moda brasileira internacionalmente

A dupla Pedro Andrade e Paula Kim convidaram o artista pernambucano Samuel de Sabóia para cocriar a coleção intitulada ‘The Tree is Your Spine’

P. Andrade: primeira marca de moda brasileira a desfilar na Semana de Moda Masculina de Paris (Umberto Fratini/Gorunway.com/Divulgação)

P. Andrade: primeira marca de moda brasileira a desfilar na Semana de Moda Masculina de Paris (Umberto Fratini/Gorunway.com/Divulgação)

Júlia Storch
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 7 de julho de 2025 às 13h44.

Última atualização em 7 de julho de 2025 às 14h19.

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Encerrada na semana passada, a Semana de Moda Masculina de Paris trouxe destaques muito esperados, como a estreia de Jonathan Anderson na Dior, além de um marco inédito para o Brasil: o desfile da P.Andrade, a primeira marca nacional a se apresentar no calendário francês. Para tal feito, a dupla Pedro Andrade e Paula Kim convidou o artista pernambucano Samuel de Sabóia para cocriador a coleção, intitulada The Tree is Your Spine (“A Árvore é Sua Coluna”).

Para os estilistas, a coleção quis aprofundar o tema dos ciclos de regeneração da vida — de microrganismos invisíveis a entidades espirituais — sendo a moda um dos responsáveis de transformação cultural, ecológica e espiritual.

A seguir, Pedro Andrade conta sobre o convite do desfile, a elaboração da coleção e o legado do desfile para a moda nacional.

Como surgiu o convite para a PFW e como se sentiram ao saber que a P.Andrade seria a primeira marca brasileira a desfilar?

O convite surgiu após uma visita de uma olheira em meu showroom em Paris em janeiro deste ano. Ela me conectou com o comitê da federação para que eu preenchesse um formulário de aplicação. Nesse momento não era nada garantido, e confesso que não botei muita fé na hora, tanto que quando recebemos a confirmação, foi uma grande surpresa, uma mistura de emoção e responsabilidade. Saber que seríamos a primeira marca brasileira a desfilar na Semana masculina de Paris mexeu muito com nossa cabeça, pois é um marco para a moda nacional masculina. Sentimos que estávamos abrindo uma porta, não só para a P.Andrade, mas para tantos outros criadores que compartilham o desejo de ver a moda brasileira ocupando seu espaço no cenário global. É uma conquista coletiva e simbólica, que reforça o quanto nossas histórias, referências e estéticas têm potência para dialogar com o mundo.

O que este convite significa para vocês, tanto pessoalmente quanto para a moda brasileira em geral?

Receber esse convite e desfilar na Paris Fashion Week é um marco muito especial para mim, pessoalmente, e para toda a equipe da P.Andrade. Estar nesse palco, que dita os rumos da moda global, é o reconhecimento de um trabalho construído com muita dedicação, identidade e propósito. Além disso, acho que momentos como estes abrem muitas portas para mais brasileiros acessarem lugares como este, mostra que é possível entende?

Como a coleção reflete a essência e os valores da marca P.Andrade?
A coleção, assim como a marca, fala sobre regeneração. A economia regenerativa, ancorada por pilares como tecnologia é heranças culturais fazem parte desde a construção da primeira coleção da marca. É neste conceito que sempre trazemos um olhar não óbvio sobre o Brasil. Que normalmente pessoas de outros países (e às vezes até daqui também) não enxergam.

Semana de Moda Masculina de Paris: Samuel de Sabóia, Pedro Andrade e Paula Kim (Umberto Fratini/Gorunway.com/Divulgação)

A colaboração com o Samuel de Sabóia parece ser um elemento central dessa coleção. Como surgiu essa parceria e qual é a importância dessa junção de universos da moda e da arte?

Samuel é um artista que admiro há muito tempo, e foi uma realização cocriar essa coleção com ele. Eu já era fã do Samuel há muitos anos, mas nunca havíamos nos falado. Um dia ele visitou minha loja, comprou algumas coisas e me mandou uma mensagem. Na hora eu já falei para ele que seria um sonho trabalharmos juntos, e ele topou na hora! No dia seguinte já nos reunimos e começamos a criar, foi muito verdadeiro, orgânico. São raros estes momentos, mas às vezes, muito raramente, a vida nos presenteia com amizades instantâneas, e o Samuel foi um destes presentes que a vida me deu.

A moda é uma expressão artística também, tudo está interligado, e o Samuel é a prova viva disso, acho que é uma das pessoas que mais entendem de moda que eu conheço. Essa junção é importante para aproximar mais as pessoas tanto para a moda, para as artes plásticas e para a cultura brasileira também.

Sobre a introdução de tecidos inteligentes, como foi o processo de incorporação dessas inovações e o que elas representam para a marca?

A tecnologia têxtil é algo muito natural para nós, faz parte de nossas pesquisas cotidianas, acreditamos que por meio da moda mostraremos quanto a sustentabilidade pode ser sexy. A sustentabilidade muitas vezes assusta as pessoas, por isso integramos novas soluções tecnológicas dentro de produtos de moda contemporânea, pois assim, mesmo que alguém não se interesse por sustentabilidade (pasmem, mas ainda existem estas pessoas), talvez ela goste de nosso design, e se essa pessoa comprar algo, indiretamente ela está ajudando não só a moda, mas também a ciência, o planeta e a regenerar economias e comunidades.

P.Andrade: primeira marca de moda brasileira a desfilar na Semana de Moda Masculina de Paris (Umberto Fratini/Gorunway.com/Divulgação)

A releitura da renda brasileira foi uma escolha muito interessante. Qual é a importância desse ícone da cultura brasileira na coleção e como ela foi reinterpretada para essa nova geração?

A renda é um dos símbolos mais potentes da tradição têxtil brasileira. Ao pesquisarmos as culturas de bactérias, fungos e protozoários em laboratório, percebemos uma estranha semelhança nas formas e texturas das rendas brasileiras. Achamos a união inusitada, uma forma divertida e original de mostrar nossa cultura local.

Quais foram os maiores desafios ao combinar as tradições brasileiras com inovações tecnológicas e sustentáveis?

O maior desafio é encontrar o equilíbrio. A gente não queria que um apagasse o outro, nem que a tecnologia sobrepusesse o valor artesanal, nem que o tradicional impedisse o novo de existir. Foi um processo de escuta, de colaboração com artesãos, engenheiros têxteis e designers. O diálogo entre esses mundos é o que torna a coleção tão rica.

Ao estrear na PFW, como a P.Andrade deseja ser percebida no cenário global da moda, e qual é a visão da marca para o futuro da moda brasileira no contexto internacional?

Queremos ser vistos como uma marca que tem algo a dizer — com identidade, propósito e coragem. A PFW é uma vitrine potente, mas, mais do que estar ali, nosso objetivo é provocar reflexão e gerar conexões reais. Nossa visão de futuro é que a moda brasileira passe a ocupar seu lugar como referência de criatividade, sustentabilidade e pensamento crítico. O Brasil é um país de contrastes — e é justamente aí que está nossa força. Queremos que o mundo entenda que não estamos chegando agora, estamos apenas sendo ouvidos de uma nova forma. E queremos que essa estreia seja só o começo de um novo capítulo para nós e para toda uma geração criativa que está redesenhando os caminhos da moda nacional.

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